Envenenamento

Cidadãos russos suspeitos do caso Skripal são civis, diz Putin

O presidente disse esperar que os acusados Alexandre Petrov e Ruslan Boshirov venham a público contar sua própria versão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Alexandre Petrov e Ruslan Boshirov: polícia britânica diz ter "provas suficientes"
Alexandre Petrov e Ruslan Boshirov: polícia britânica diz ter "provas suficientes" (Alexandre Petrov e Ruslan Boshirov)

VLADIVOSTOK - Os suspeitos no caso de envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal e de sua filha no Reino Unido foram identificados pela Rússia como civis, e não agentes de informação militar como alegou o governo britânico, afirmou ontem, 12, o presidente do país, Vladimir Putin.

Promotores britânicos identificaram na semana passada dois cidadãos russos que, segundo eles, operavam sob os nomes falsos de Alexander Petrov e Ruslan Boshirov e haviam tentado assassinar os Skripal em março passado, em Salisbury, com um agente nervoso - arma química cujo uso é banido por tratado internacional - da série conhecida como novichok, produzida na antiga União Soviética.

Putin, falando no Fórum Econômico Oriental, na cidade portuária de Vladivostok, afirmou que a Rússia encontrara os dois homens e que ambos são apenas cidadãos civis e não há nada de especial neles. O presidente russo disse esperar que os dois venham a público contar sua própria versão do caso.

"É claro que verificamos quem eles são, nós os encontramos. Mas esperamos que eles mesmos apareçam para falar sobre si. Será melhor para todo mundo", afirmou Putin a repórteres. "São civis, naturalmente. Asseguro que não há nada criminoso ou especial sobre eles. Gostaria de fazer-lhes um apelo para que nos ouçam hoje. Eles vão procurar vocês, a imprensa, em algum lugar".

Horas depois que o presidente russo falou, a TV estatal Rússia 24 informou que um dos suspeitos, Alexander Petrov, dissera num telefonema que poderá comentar sobre o caso na próxima semana, e teria transmitido um vídeo mostrando a suposta ligação.

"Sem comentários no momento. Talvez mais tarde. Na semana que vem, creio", teria dito Petrov, que chegou a ser confundido com um homônimo que trabalha numa empresa farmacêutica em Tomsk, disse a imprensa russa.

Em Moscou, o Kremlin afirmou que Putin não conversara com os dois homens, e se negou a revelar como e por quem eles tinham sido encontrados. Segundo o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, o presidente apenas manifestou a esperança de que ambos apareçam em público futuramente." Vamos esperar por esse momento", disse Peskov.

O Reino Unido afirma que os dois suspeitos são agentes da Inteligência militar russa, provavelmente agindo sob ordens do alto escalão do governo da Rússia. O país de Putin reiterou que não teve qualquer envolvimento nos ataques aos Skripals.

A agência a que os dois suspeitos pertenceriam, o Departamento Central de Inteligência (GRU, na sigla oficial), responde diretamente ao chefe de Estado-Maior e ao Ministério da Defesa da Rússia, não tem site na internet, nem comenta publicamente sobre suas ações.

Agentes do GRU

O porta-voz da premiê Theresa May disse ontem que as tentativas da Grã-Bretanha de obter uma explicação da Rússia sobre o envenenamento dos Skripals sempre foram recebidas com "ofuscação e mentiras" e isso não mudou.

" Esses homens são oficiais do serviço de inteligência militar russo, o GRU. O governo expôs o papel do GRU, seus agentes e seus métodos, essa posição é apoiada por nossos aliados internacionais", disse o porta-voz a repórteres. "Pedimos repetidamente à Rússia que prestasse contas do que aconteceu em Salisbury em março e eles responderam com ofuscação e mentiras. Não vejo nada que sugira que isso tenha mudado".

Skripal, de 66 anos, trabalhou anos na espionagem militar russa e, nos anos 1990, foi recrutado como agente duplo pelo serviço secreto britânico M16, fornecendo a identidade de dezenas de agentes secretos russos que operavam na Europa. Descoberto e preso em 2004, ele passou a viver na Inglaterra em 2010, depois que foi trocado por dez espiões russos capturados nos Estados Unidos.

Skripal foi encontrado inconsciente em um banco de rua de Salisbury em 4 de março. Yulia, que estava com ele, também sofreu os efeitos do veneno e ficou internada até 10 de abril. Os dois foram levados ao hospital em estado crítico, onde o ex-espião permaneceu por dois meses.

Segundo a Inteligência britânica, os casos de Skripal e sua flha e do casal Charles Rowley e Dawn Sturgess, que também foi envenenado pelo Novichok, estão relacionados. O casal britânico teve contato com o Novichock após manusear um frasco de perfume com restos do veneno, que fora jogado fora. Dawn morreu envenenada no dia 8 de julho, vítima dos efeitos da substância.

Sobrinha

A sobrinha do ex-espião russo, Viktoria Skripal, afirmou na semana passada que não sabia nada sobre os suspeitos. Ela contou à agência russa Interfax que, segundo fontes, "os dois eram pessoas simples". Viktoria não identificou as fontes, segundo as quais Boshirov de fato parecia ser o homem da foto divulgada no Reino Unido, mas Petrov era totalmente diferente da imagem mostrada pela polícia britânica.

"Desde o começo eu sabia que essa história do envolvimento de Petrov e Boshirov era falsa", disse a sobrinha de Skripal.

Londres, por sua vez, acusa Moscou de espalhar desinformação sobre o caso. "Desde março já foram apresentadas 37 versões diferentes para o que aconteceu", lamentou a embaixada britânica na capital russa num comunicado.

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