Artigo

Adeus ao cocô de cachorro?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

Alguns anos atrás escrevi neste jornal uma crônica intitulada “De volta ao cocô de cachorro”. No texto eu lamentava que logo após a recuperação da Praça Padre Jocy Rodrigues, no Renascença, ajardinada, limpa e favorecida com brinquedos para crianças e aparelhos para ginastas, as fezes dos cachorros voltassem a frequentar o espaço reservado para caminhantes diários, como eu.

Nessa época, de dias melhores economicamente, vislumbrava-se um futuro promissor para a nossa Nação. Sugeri, no texto, que, enquanto a consciência popular não fosse suficiente para zelar pelo espaço público como coisa sua, isso seria um empecilho para nosso país chegar a esse pretendido estágio, de grande país, o que motivou cartas de solidariedade de leitores, em especial, de moradores do bairro.

Por essa época, coincidentemente, esse desmazelo foi objeto de uma reportagem em rede nacional do programa CQC, realizada em parques e jardins públicos de São Paulo. Nesta, os jornalistas lamentavam que os donos dos simpáticos animais não se apercebessem que, ao adotá-los sob sua guarda, a melhor forma de retribuição ao afeto instintivo e descompromissado dos animais era, justamente, zelar para que a sujeira inconsciente perpetrada por eles não manchasse o espaço público ou do vizinho.

2. Sexta-feira, 31 de agosto de 2018. Estou na mesma praça, em obediência à minha disciplina de caminhadas diárias. Esta já não tem o apelo e a atração daquele período pós-reconstrução. Os brinquedos se foram, danificados, assim como os equipamentos de ginástica, mas ainda merece a atenção da Prefeitura com uma rotina de limpeza e adequação que, embora precária, talvez não haja em todos os logradouros desta cidade.

Eis que, em meio a caminhada, percebo uma equipe de trabalhadores iniciando um serviço de colocação de placas. Leio o que está escrito: “Sua praça não é depósito de fezes de animais. Zele por ela!” Um amigo, também em sua rotina de exercícios, passa em sentido oposto, observa os trabalhos, faz um sinal de positivo para mim e diz: “Será que desta vez vai?”

Continuo minha caminhada. Noto que estão levantando as placas para coloca-las na posição mais adequada e acabo por distinguir aquele que, provavelmente é o líder da equipe. Peço licença, me apresento e ele esclarece: “A iniciativa de colocação das placas não partiu do poder público, mas consegui da prefeitura o necessário aval para executar este serviço. Minha firma confeccionou as placas, gratuitamente. Depois desta, várias outras praças serão distinguidas com a sinalização preventiva.”

Parabenizo-o pela iniciativa, enquanto constato que as placas estão sendo estrategicamente colocadas em nos galhos das árvores para evitar que os vândalos a danifiquem.

Sigo meu caminho e lembro uma frase do escritor Graham Greene que diz “Existe sempre uma casca de banana, por trás de toda grande tragédia”. Pondero, inspirado na sábia sentença, que existe sempre um povo capaz de limpar sua própria sujeira, por trás de toda grande Nação.

José Ewerton Neto

Autor de O ABC bem humorado de São Luís

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

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