Desenvolvimento

China vai investir mais US$ 60 bilhões em países africanos

Pequim também promete alívio da dívida das nações mais pobres do continente, em resposta a críticos da penetração chinesa na região

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

PEQUIM - A China vai investir mais US$ 60 bilhões (R$ 247 bilhões) no desenvolvimento econômico dos países da África, anunciou o presidente Xi Jinping, ontem, na abertura do 7º Fórum de Cooperação China-África na capital chinesa. O valor dobra o prometido três anos atrás e que, segundo Xi, "tem sido plenamente honrado".

Dos novos US$ 60 bilhões, estão previstos US$ 20 bilhões (R$ 82 bilhões) em linhas de crédito; US$ 15 bilhões (R$ 61 bilhões) em empréstimos a fundo perdido (doações) e empréstimos sem juros; US$ 10 bilhões (R$ 41 bilhões) num fundo especial; e US$ 5 bilhões (R$ 20 bilhões) para apoiar importações procedentes do continente africano.

Xi também anunciou o alívio da dívida de países africanos mais pobres, diante das críticas de que os empréstimos chineses aos países em desenvolvimento representariam uma dívida impossível de pagar para muitos deles. Ele não divulgou um calendário preciso.

Os investimentos chineses na África são vistos como um teste da iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, programa transnacional chinês que prevê investimentos de até US$ 900 bilhões (R$ 3,7 trilhões) em projetos de infraestrutura. O programa visa construir e desenvolver estradas, ferrovias, portos, gasodutos e outras obras de grande porte e fins comerciais.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, negou que a ajuda econômica chinesa à África signifique um "neocolonialismo".

O governo de Pequim também estimulará as empresas chinesas a investir pelo menos US$ 10 bilhões (R$ 41 bilhões) na África nos próximos três anos.

"Nós vamos honrar totalmente as promessas que fizemos a nossos irmãos africanos", disse Xi na cúpula. Além de Ramaphosa, da África do Sul, estavam presentes o premiê da Etiópia, Abiy Ahmed, o presidente do Djibouti, Omar Guelleh, e o presidente egípcio, Abdel-Fattah El-Sisi.

Críticas internacionais

Nos últimos meses, Pequim recebeu críticas sobre suas práticas financeiras de países como a Austrália e a Índia. Mesmo alguns acadêmicos da própria China levantaram dúvidas sobre as intenções do governo. O premier da Malásia, Mahathir Mohamad, alertou para "uma nova versão do colonialismo" numa visita à capital chinesa em agosto depois de ter suspendido um projeto chinês de US$ 20 bilhões (R$ 82 bilhões) voltado para a construção de linhas férreas.

Segundo Shi Yinhong, professor de Relações Internacionais na Universidade da China em Renmin, o presidente Xi Jinping busca tornar a iniciativa inclusiva e quer garantir a viabilidade dos projetos.

"A razão por trás dessas mudanças é que a China vem enfrentando novas dificuldades na economia", diz Yinhong. "Mas o país está acumulando um aprendizado de lições na África, e vem absorvendo as críticas externas".

Os investimentos oferecidos por Pequim proporcionaram aos governos africanos o acesso a projetos de infraestrutura sem as contrapartidas fiscais e políticas exigidas pelo Ocidente, mas a China recebeu críticas por se concentrar em empréstimos e relutar em usar a mão de obra local. Essas críticas aumentaram à medida que Xi estendeu sua iniciativa para boa parte do planeta, e a ligou a sua ambição de completar a ascensão da China ao status de grande potência.

Os Estados Unidos veem a iniciativa chinesa como um desafio a sua própria influência internacional, e vêm debatendo investimentos em infraestrutura na região da Ásia-Pacífico com os governos de Austrália e Japão, embora as fontes de financiamento ainda sejam incertas.

Para os críticos ocidentais, os investimentos aumentaram consideravelmente a dívida pública dos países que os receberam, bem como sua dependência do governo chinês.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) está preocupado em particular com o caso do Djibouti, pequeno país africano que viu sua dívida pública aumentar de 50% para 85% do Produto Interno Bruto (PIB) em apenas dois anos por causa dos créditos contraídos com o Exim Bank, um banco público chinês.

Território vital

A África é um território vital para Xi, inclusive para evitar o ceticismo internacional sobre seus planos. O continente recebeu US$ 12 bilhões (R$ 49 bilhões) em empréstimos chineses em 2015, contra apenas US$ 100 milhões (R$ 411 milhões) no ano 2000, de acordo com informações da Iniciativa de Pesquisa China-África. Os investimentos prosseguem, indo desde usinas na Costa do Marfim até uma ferrovia no Quênia, passando por um aeroporto em Ruanda.

Também estão na África algumas das maiores empresas chinesas de petróleo e outras commodities, e o Djibouti sedia a primeira base militar da China no exterior. Em 2017, o comércio entre a potência asiática e as nações africanas aumentou 14%, chegando a US$ 170 bilhões (quase R$ 700 bilhões), segundo estatísticas chinesas.

Em seu discurso na cúpula, Xi prometeu continuar o que chama de "política dos cinco nãos": não interferir nos assuntos internos dos países africanos, não ditar modelos de desenvolvimento, não impor a vontade chinesa, não estabelecer condições para as assistência financeira chinesa, e não buscar ganhos políticos.

Num evento antes do início do encontro, o presidente chinês disse que a China tinha "total respeito pela autodeterminação da África" e não estava tentando criar um "clube exclusivo".

"Nossa cooperação com a África é claramente direcionada contra os gargalos no desenvolvimento", afirmou. "Os recursos envolvidos não devem ser gastos em projetos suscitados por vaidades, mas em lugares onde eles realmente fazem diferença".

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