Editorial

A violência é o carro-chefe

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

Não são raros os dias em que os veículos de comunicação denunciam casos de vítimas de feminicídio. E a imprensa, no seu papel, está denunciando e contribuindo para aprofundar um debate sobre essa violência de gênero, que, ao que parece, está se propagando de Norte a Sul em todos os níveis sociais.

Um dos mais recentes casos: uma dona de casa de 49 anos foi encontrada morta em uma chácara no Jardim Treviso, em Pirassununga (SP). A Polícia Civil suspeita que Tanya Trevisan foi vítima de feminicídio.

No dia 7 de agosto, quando da celebração dos 12 anos da Lei Maria da Penha, Brasília, foram registrados dois casos de feminicídio em menos de 24 horas. Adriana Castro Rosa Santos, de 40 anos, foi assassinada pelo marido, o policial militar Epaminondas Silva Santos, que se matou em seguida.

Um outro caso: Carla Graziele Rodrigues Zandoná, de 37 anos, foi encontrada morta após despencar do terceiro andar de um prédio da Asa Sul. A Polícia Civil prendeu em flagrante o marido da vítima, Jonas Zandoná, de 44 anos, que apresentava sinais de embriaguez.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O Brasil registrou pelo menos oito casos de feminicídio por dia entre março de 2016 e março de 2017, segundo dados dos Ministérios Públicos estaduais. No total, foram 2.925 casos no país, aumento de 8,8% em relação ao ano anterior.

Só no estado de São Paulo, quase mil investigações sobre feminicídio foram abertas no período. No primeiro semestre deste ano, 93 mulheres foram mortas pelos companheiros no estado, um terço do total de mulheres assassinadas.

Violência doméstica é o carro-chefe. Normalmente, quando a mulher busca ajuda já chegou na fase da violência física. Para que ela entenda que está passando por uma violência psicológica, realmente ela está no ápice da humilhação, do isolamento.

Especialistas no assunto costumam dizer que a grande maioria das mortes poderiam ser evitadas, porque são resultado de um processo acumulativo de situações de violência - ou seja, que já existem há muito tempo. Não há como esconder que o assassinato de mulheres devido à condição feminina é a expressão mais grave dos vários tipos de violência de gênero.

O feminicídio é a expressão fatal das diversas violências que podem atingir as mulheres em sociedades marcadas pela desigualdade de poder entre os gêneros masculino e feminino e por construções históricas, culturais, econômicas, políticas e sociais discriminatórias.

A situação é grave e já mereceu sérias considerações até da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármem Lúcia, que pediu empenho para que casos de violência doméstica sejam investigados e julgados mais rapidamente. É o crime mais identificado nos relatos de mulheres.

De acordo com avaliações de entidades, a violência doméstica é o carro-chefe. Normalmente, quando a mulher busca ajuda já chegou na violência física. Para que ela entenda que está passando por uma violência psicológica, realmente ela está no ápice da humilhação, do isolamento.

Ainda há a subnotificação de denúncias, segundo a secretária nacional de Mulheres, Andreza Colatto. Ela alerta que muitos casos de assassinato de mulheres poderiam ser evitados e quando é interrompido um ciclo de violência contra uma mulher por meio de uma denúncia simples muitas vidas são salvas.

Colatto lembra que o Ligue 180 pode ser acionado em todo o território nacional e em mais 16 países. A denúncia pode ser feita anonimamente. Ninguém se compromete ao denunciar, apenas apoia e auxilia mulheres que ficam desprovidas de coragem para fazer essas denúncias. A secretaria observa ainda que é necessário que a sociedade se empenhe na ajuda contra esse problema tão grave que, todos os dias, tem registrado aumento de casos no Brasil.

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