Nicarágua expulsa missão de direitos humanos da ONU

Nações Unidas pediram à comunidade internacional que adote medidas para frear a crise no país, que vive ''clima de medo''

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

GENEBRA - O governo da Nicarágua expulsou do país a missão do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, dois dias após a publicação de um relatório sobre os abusos cometidos pelo regime contra manifestantes. O governo do presidente Daniel Ortega ordenou numa carta oficial que a missão liderada por Guillermo Fernández Maldonado deixe o país, denunciou em entrevista coletiva o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH).

"Esta insólita e inoportuna decisão reflete o estado de espírito de uma pessoa que se sente completamente perdida, que já não pode ocultar suas responsabilidades e seguir ocultando a verdade", declarou a presidente do CHENIDH, Vilma Núñez, referindo-se a Ortega.

Na carta oficial sobre o assunto enviada à missão, escrita na quinta-feira,30, e divulgada na sexta, 31, o Ministério das Relações Exteriores nicaraguense diz o seguinte: "Considerando que cessaram as razões, causas e condições que deram origem ao convite [à missão da ONU], este Ministério comunica que se dá por concluído o convite e finalizada a visita [ao país] a partir de hoje, 30 de agosto de 2018".

A carta está assinada pelo chanceler Denis Moncada, e é dirigida à diretora regional do Alto Comissariado para a América Central, Marlene Alejos, com cópia ao alto comissário, o jordaniano Zeid Ra' ad Al Hussein.

Na quarta-feira, 29, o Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU pediu à comunidade internacional que adotasse medidas para frear a crise na Nicarágua, que vive um "clima de medo" após meses de repressão às manifestações da oposição.

"A repressão e as represálias contra os manifestantes prosseguem na Nicarágua, enquanto o mundo olha para o outro lado", afirmou Zeid Ra'ad Al Hussein num comunicado divulgado após a publicação do relatório.

"A violência e a impunidade dos últimos quatro meses demonstraram a fragilidade das instituições do país e do Estado de direito, o que gerou um contexto de medo e desconfiança", completou.

300 mortos

As manifestações da oposição na Nicarágua, governada desde 2006 pelo ex-guerrilheiro sandinista Daniel Ortega, começaram em abril contra uma reforma da Previdência — mais tarde abandonada. Os protestos acabaram tomando todo o país em reação à repressão, que deixou 322 mortos, dos quais 21 policiais, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Entre as violações dos direitos humanos documentadas no relatório do Alto Comissariado da ONU estão o "uso desproporcional da força por parte da polícia, que em alguns casos terminou em execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias e generalizadas, torturas e maus-tratos".

No sábado, milhares de opositores marcharam em diferentes cidades da Nicarágua, exigindo a liberdade de presos políticos e a saída do presidente Ortega. Simpatizantes do governo, por sua vez, se mobilizaram em apoio ao presidente.

Em Granada, um dos principais pontos de encontro, centenas de moradores contrários ao governo marcharam pelas ruas, apesar de um forte policiamento e da presença da tropa de choque.


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