Artigo

Manoel Caetano Bandeira de Mello

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

Não são poucos ou nomes das letras maranhenses que mereceriam um olhar mais atento tanto por parte da crítica especializada quanto por parte dos amantes e consumidores da boa literatura. Alguns escritores têm importância capital na formação intelectual de um povo e de uma cultura letrada, mas com o tempo acabam sendo relegados ao esquecimento e deixam de ser lidos ou revisitados pelas novas gerações, embora suas obras ultrapassem a dimensão de uma época ou de uma região.

Esse é o caso do poeta, ensaísta, crítico, jornalista e advogado Manoel Caetano Bandeira de Mello, que nasceu em Caxias, no dia 30 de julho de 1918 e faleceu no Rio de Janeiro, em 07 de maio de 2008, quando estava prestes a completar sua nona década de vida.

Homem de extrema erudição e com excelente verve poética, Manoel Caetano Bandeira de Mello soube como poucos enveredar pelas trilhas das artes literárias e publicou livros como A Viagem Humana (1960), O Mergulhador (1963), Canções da Morte e do Amor (1968), Da Humana Promessa (1976),Uma canção à beira-mar (1977), Durante o canto (1978),A estrada das estrelas (1981),Da constante canção (1983), além de participar de compêndios e de antologias que registravam e homenageavam os grandes valores da poesia brasileira da segunda metade do século XX.

Em seus versos é possível perceber um apurado senso estético, um grande poder de observação da realidade e sensibilidade para transformar situações nem sempre agradáveis em poemas que buscavam mergulhar na profundeza da alma humana e dali retirar lições que servissem como meio de demonstrar a própria essência do ser, sem excessos de dogmatismos e buscando ultrapassar os limites impostos pelas palavras em suas acepções mais corriqueiras.

Ganhador de diversos prêmios literários, respeitado e admirado por intelectuais como Adonias Filho, Oswaldino Marques, Walmir Ayala, Carlos Cunha, Jomar Moraes, Antônio Olinto e José Cândido de Carvalho, entre outros, Bandeira de Mello acabou sendo definido por Josué Montello como sendo um “poeta por excelência. Antes de tudo um poeta culto. É um poeta ajustado aos problemas e perplexidades de nosso tempo (...), sempre em busca da poesia”.

Realmente Montello estava coberto de razão, pois o autor de “Após a Solidão de Certas Horas” não se limitava a alinhar palavras e forçar rimas esdrúxulas no afã de construir um poema em versos livres ou metrificado. Ele tinha o cuidado de imiscuir poeticidade em suas escolhas lexicais e a rima em seus poemas iam muito além de um mero adorno estético-sonoro, era quase sempre uma necessidade melódica a embalar um tema que, às vezes banal, se enchia de beleza e de harmonia.

Um bom exemplo disso são as onze estrofes do “Uma Canção à Beira-Mar”, um belo conjunto poético no qual o jogo de palavras, as aliterações e as assonâncias reproduzem o ir e vir das águas, mesclando a paisagem física do mar com as múltiplas paisagens mentais que se desdobram a partir de recordações, observações e formas de ver o mundo por diferentes prismas.

Desse poeta maranhense, não se pode esquecer também o tom sutilmente erótico de muitos de seus versos, do olhar crítico sobre aspectos cotidiano, dos jogos intertextuais em que descortina suas muitas e variadas leituras e, principalmente, não se pode esquecer de um apurado trabalho com a linguagem, capaz de criar neologismos como “silensidão", no poema Viagem, no qual consegue potencializar a sensação de um vazio que se prolonga na imensidão do Ser.

Manoel Caetano Bandeira de Mello é um desses poetas que merece ser lido e relido constantemente, pois suas obras fazem bem a todos os que admiram a Poesia.

José Neres

Professor, membro da AML e da Sobrames

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