Análise

Álcool e depressão: os principais fatores de risco para o suicídio

Estudo da USP reforça a ligação entre o consumo de bebidas alcoólicas e o problema, que também está associado aos transtornos de humor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
O álcool provoca um aumento da impulsividade
O álcool provoca um aumento da impulsividade (suicidio)

SÃO PAULO - Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), divulgado em 2018 pelo periódico científico Journal of Forensic and Legal Medicine, reforça a ligação entre o consumo de álcool e o suicídio. O trabalho, que analisou 1.700 casos de mortes por suicídio na cidade de São Paulo entre os anos de 2011 e 2015, a partir de exames toxológicos, apontou que mais de 30% das vítimas apresentavam teor alcoólico no sangue, em diferentes concentrações. Entre os homens da amostra, essa porcentagem chegou a 34,7%.

A maior parte dos casos de suicídio analisados no estudo corresponde a adultos jovens: 49% da amostra tinha entre 25 e 44 anos. E, dentro dessa faixa etária, mais de 61% das vítimas apresentavam álcool no sangue. Uma outra análise, conduzida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) a partir de indivíduos que passaram por tentativas de suicídio e foram atendidos em um pronto-socorro de Embu da Artes, constatou que 21% desses 80 pacientes tinham ingerido álcool até seis horas antes da tentativa de suicídio.

Outros artigos indicam ainda que, em alguns países, quando o consumo de álcool foi reduzido, a taxa de suicídios também caiu, proporcionalmente. "Sob efeito do álcool, as pessoas podem apresentar uma diminuição da capacidade de julgamento, do senso crítico e do autocontrole, assim como tendem a adotar comportamentos impulsivos ou violentos" afirma o psiquiatra Teng Chei Tung, coordenador dos Serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

Uma vez que o álcool provoca um aumento da impulsividade, esse efeito pode ser ainda mais evidente em grupos de populações que já apresentam essa característica de forma mais pronunciada, como os adolescentes. "O cérebro adolescente ainda está em desenvolvimento e os efeitos do álcool são mais nocivos nessa idade, com um impacto ainda maior sobre a tomada de decisões e o autocontrole. Estamos falando de uma faixa etária em que o imediatismo é mais evidente, de modo que a exposição ao álcool pode ser mais perigosa quando pensamos no risco para o suicídio", completa o médico.

Vale lembrar que, apenas no primeiro semestre deste ano, três casos de suicídio em escolas tradicionais da cidade de São Paulo chamaram a atenção da sociedade. Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre os anos 2000 e 2015, os casos de suicídio em jovens de 15 a 19 anos cresceram 45% no País. Foram 722 vítimas em 2015, o número mais alto em relação aos 10 anos anteriores. Globalmente, o problema já representa a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, segundo a OMS.

Depressão
"A adolescência já é, por si só, um período conturbado. Mas, quando falamos em suicídio, devemos pensar em um fenômeno que traz uma convergência de fatores, o que inclui aspectos fisiológicos, sociais e culturais, combinados, muitas vezes, a experiências de trauma ou perda", afirma Teng. "É possível desenvolver programas educativos sobre o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens, mas há outros fatores que também merecem atenção, como o bullying e a presença de transtornos psiquiátricos não diagnosticados adequadamente, sobretudo a depressão", completa o médico.

Mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). E, além da dependência de álcool, os transtornos de humor, como a depressão, prevalecem nesse cenário. "É importante dizer que um transtorno mental como a depressão pode alterar a percepção que o indivíduo tem da realidade. Por isso, os casos de suicídio não devem ser encarados como uma expressão do livre-arbítrio", afirma Teng.

De acordo com o médico, os pais devem ficar atentos se o jovem apresenta mudanças bruscas de personalidade, alterações no desempenho escolar, perda de interesse por atividades que antes lhe eram prazerosas, isolamento familiar ou social, pessimismo, perda ou ganho inesperados de peso. "Vale, ainda, observar se são frequentes comentários autodepreciativos ou sobre morte, bem como comportamentos atípicos, como a doação de pertences que antes o jovem valorizava", complementa Teng.

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