ONU compara

Êxodo venezuelano à crise migratória do Mediterrâneo

Estimativas da Organização das Nações Unidas são de 1,6 milhão de imigrantes e refugiados tanto na Europa quanto na América Latina

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
A pequena venezuelana Alejandra, de dois anos, come na beira da estrada em Boa Vista, no estado  de Roraima
A pequena venezuelana Alejandra, de dois anos, come na beira da estrada em Boa Vista, no estado de Roraima (Menina venezuelana)

GENEBRA - O êxodo de venezuelanos que fogem da penúria econômica e social no seu país já se aproxima de um pico comparável à crise migratória do Mediterrâneo, afirmou na sexta-feira,24, a Organização das Nações Unidas (ONU). O crescente fluxo de imigrantes e solicitantes de asilo que buscam abrigo em Colômbia, Equador, Peru e Brasil tem alarmado vizinhos da região, cujas autoridades deverão se encontrar na semana que vem para discutir estratégias. A imposição de novas regras que poderão dificultar o trajeto dos venezuelanos já preocupa também especialistas em direitos humanos das Nações Unidas, que pediram ontem que estes Estados não deixem de acolhê-los.

Os números oficiais da Organização Internacional para as Migrações (OIM) dão conta de cerca de 1,6 milhão de imigrantes e solicitantes de refúgio que, desde 2015, chegaram à Europa através do Mediterrâneo. Para os venezuelanos, as estimativas são também de 1,6 milhão de pessoas que neste período abandonaram suas vidas no país natal. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), no entanto, o número de venezuelanos que deixou o país desde 2015 pode chegar a 2,3 milhões.

Descrevendo os acontecimentos como" sinais de alerta", o porta-voz da OIM, Joel Millman, disse que financiamento e meios para administrar o fluxo devem ser mobilizados.

"Isso está contribuindo para um momento de crise que já vimos em outras partes do mundo, particularmente no Mediterrâneo", disse ele em entrevista coletiva.

Na quinta-feira, a ONU já exortara os países latino-americanos a continuar acolhendo os imigrantes e solicitantes de asilo venezuelanos que circulam dentro da região, sem que sejam impostas barreiras à travessia das fronteiras, como já fizeram Equador e Peru. Autoridades da organização também expressaram preocupação com "os acontecimentos recentes que afetam os venezuelanos nos países onde estão sendo acolhidos", alguns dias depois que venezuelanos foram alvo de ações violentas em Roraima.

Mais dificuldades

O Acnur e a OIM se referiam às recentes decisões de Peru e Equador para exigir passaportes de quem deseja atravessar a fronteira a partir de sábado. No entanto, enquanto a Venezuela vive uma grave crise econômica com escassez de itens básicos, a emissão de passaporte pode levar meses.

O Peru já recebeu mais de 400 mil venezuelanos nos últimos dois anos, enquanto mantinha uma política de portas abertas aos que fogem da crise social e econômica que vive a Venezuela. Enquanto isso, só neste ano 423 mil venezuelanos entraram no Equador pela fronteira de Rumichaca, muitos planejando seguir para o sul e conseguir trabalho no Peru.

Alarmados, o governos equatoriano e peruano adotam agora regras que exigem que os venezuelanos apresentem passaportes, e não só carteiras de identidade nacionais, uma vez que muitas pessoas entravam nos seus territórios com documentos falsos. O Peru também definiu uma nova política mais dura para a concessão de autorizações temporárias de residência.

A Colômbia, o país que mais recebe refugiados venezuelanos, denunciou as medidas tomadas por seus vizinhos, alegando que favorecem esquemas de migração clandestina. O governo de Bogotá já regularizou temporariamente 820 mil dentre os mais de 1 milhão de imigrantes que já chegaram ao seu território nos últimos 16 meses - hoje, as estimativas oficiais dão conta de 870 mil venezuelanos no seu território.

Já no Brasil, que faz também fronteira com a Venezuela, entraram 127.778 venezuelanos entre 2017 e 2016 pela fronteira terrestre, segundo o governo brasileiro. Desse total, porém, 68.968 foram para outros países, a maioria por estradas.

Segundo a ONU, os setores mais vulneráveis dentro da população venezuelana refugiada - incluindo adolescentes, mulheres e crianças desacompanhadas - não têm capacidade de atender aos requisitos de documentação e, portanto, correm maior risco de exploração, tráfico e violência.

"Reconhecemos os crescentes desafios enfrentados pela chegada em grande escala dos venezuelanos", disse o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi. "É essencial que qualquer nova medida continue a permitir que aqueles que precisam de proteção internacional, que precisam de segurança, possam fazer seu pedido de asilo".

Na quarta-feira, 22, a Colômbia anunciou que proporá à ONU a designação de um enviado especial para coordenar uma resposta regional à crise causada pela migração de venezuelanos em todo o continente. Enquanto isso, a Venezuela já antecipou que levará a proposta à próxima Assembleia Geral das Nações Unidas.

Por sua vez, o Equador convidou os chanceleres de 13 países da região, incluindo o da Venezuela, para uma reunião a ser realizada em 17 e 18 de setembro sobre o fluxo migratório massivo. O território equatoriano é um países de passagem para muitas pessoas que tentam chegar a Peru, Chile e Argentina. Uma reunião na Colômbia com representantes de Peru e Equador foi marcada para a próxima segunda-feira.

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