Domínio

Áreas abandonadas na Ilha viram “favelinhas” de facções criminosas

Aumenta número de terrenos e prédios sem uso ocupados por bandidos e transformados em pontos de venda de entorpecente e esconderijo para fugitivos

Ismael Araújo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Terreno da antiga fábrica de cimento da Nassau estava sendo devastado por facções criminosas
Terreno da antiga fábrica de cimento da Nassau estava sendo devastado por facções criminosas (Terreno)

SÃO LUÍS - Prédios abandonados, terrenos vazios e condomínios do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), localizados na Ilha de São Luís, principalmente na Camboa e Fé em Deus e bairros adjacentes, estão na mira de membros de facções criminosas que aproveitam para criarem as “favelinhas do tráfico”. Um dos últimos locais invadidos foi o prédio da antiga fábrica de cimento Nassau, nas proximidades da Avenida Quarto Centenário, no Monte Castelo, mas os invasores acabaram expulsos por policiais militares na última quarta-feira, 22.

O local já estava loteado, incluindo uma área de mangue devastada. A demarcação tinha sido feita por tronco de árvore, segundo os moradores, retirados na própria localidade. “Os criminosos querem essa área para instalarem uma boca de fumo”, desabafou um dos moradores do Monte Castelo, que não se identificou com receio de que venha sofrer algum tipo de penalidade.

Ele declarou, ainda, que “pessoas de bem” estavam entre os invasores, mas em breve seriam expulsas pelos “faccionados” que logo passariam a dominar esse espaço. “Os criminosos por certo usariam esse local para ampliar o tráfico de droga e como esconderijo de foragidos do sistema prisional de Pedrinhas”, disse ele.

Outro morador do Monte Castelo, nome não revelado, disse que o antigo prédio da fábrica de cimento serve de ponto de encontro de facções criminosas. “Os bandidos se encontram nesse local, principalmente à noite e em seguida partem para a realização de ações criminosas”, disse o morador.

O prédio no momento está em ruínas, sem portas e janelas e tomado pelo matagal e lixo doméstico, incluindo vasos sanitários, sofás velhos, colchões. Serve, inclusive, como criadouro do mosquito Aedes Aegypti, que causa a dengue e a chikungunya.

“Os criminosos por certo usariam esse local para ampliar o tráfico de drogas e como esconderijo de foragidos do sistema prisional de Pedrinhas”Morador do Monte Castelo

Lei da facção

Nas proximidades do prédio da antiga fábrica de cimento Nassau foi erguido o condomínio do PAC da Fé em Deus. De acordo com os moradores, o local é dominado por “faccionados”, que ditam as ordens e praticam assassinatos de pessoas condenadas pelo Tribunal do Crime. No muro dos apartamentos estão as mensagens deixadas pelos integrantes dessas facções.

Uma moradora afirmou que no local a regra é bem clara em casos de roubo. “A pessoa não pode roubar na área. A pena é, um tiro na mão ou no pé como advertência, mas caso repita a ação, é assassinado pela facção que se diz protetora da área”, disse a moradora.

Outro morador declarou que muitos vizinhos, que não compactuaram com a ordem da facção criminosa, abandonaram os seus lares com receio de perderem a vida; outros foram mesmo expulsos e estão morando em um outro ponto da Ilha.

Novo Aurora

O coronel Alexandre, comandante da Área Metropolitana I, informou que na madrugada desta sexta-feira, prendeu os integrantes de uma facção, identificados como Lucas Kaique Mendes Alves, de 23 anos; Jonas Santos, de 21 anos, e Lucas Alves do Nascimento, de 21 anos, no Residencial Nova Aurora. Com eles a polícia apreendeu uma pistola Taurus e 14 munições ponto 40.

Esses criminosos são acusados promoverem diariamente conflito com facções rivais pelo domínio da venda de entorpecente na área. Entre as ações realizadas por eles estava a de expulsar moradores de suas casas. “A polícia foi informada dessa prática ilegal e por meio de um levantamento, conseguiu identificar alguns desses criminosos”, disse Alexandre.

Carandiru

O condomínio PAC da Camboa, conhecido como Carandiru, de acordo com moradores, também há predominância de “faccionados”. A área é comandada pelos criminosos Valdirene Pereira, a Val, viúva do traficante Daniel Almeida dos Santos, o Danielzinho, e Leonardo de Oliveira Sousa, o Leo Gordo, de 36 anos.

Esses criminosos seriam os responsáveis pelo clima de terror no residencial, com a venda de entorpecentes, tiroteio e expulsão de moradores que não aprovam as atividades do bando. Alguns moradores são obrigados até mesmo a esconderem armas e drogas em seus apartamentos.

Segundo a polícia, essas ações ficaram mais intensas após o assassinato de Danielzinho, cujo crime ocorreu no dia 15 de dezembro de 2016, nas proximidades de uma casa lotérica, na Avenida Colares Moreira, no Renascença.

Uma ação realizada pela Superintendência Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Senarc), em março do ano passado, prendeu Valdirene Pereira, em um hotel de luxo, na Ponta d’Areia, em companhia dos criminosos, Raul Giudicelly Carvalho Silva, de 28 anos, e Leonardo Oliveira Souza, de 35 anos. No momento, os três estão cumprindo pena em liberdade.

Saiba mais

Programa de aceleração

Os apartamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do bairro da Camboa foram construídos com dinheiro dos Governos Federal e Estadual e entregues há 9 anos aos moradores de palafitas na região. São 18 blocos, cada um com 16 apartamentos.

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