Argentina

Polícia federal faz buscas no apartamento de Cristina Kirchner

Advogado fala em ''show midiático''; a própria senadora Cristina, que estaria em campanha para 2019, votou para autorizar revista

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

BUENOS AIRES - Pouco mais de 12 horas após o Senado ter aprovado, por unanimidade, o pedido do juiz federal Claudio Bonadio para realizar buscas em residências da senadora e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), indiciada e alvo de uma investigação por suposta corrupção, uma equipe da Polícia Federal argentina chegou ao apartamento da ex-chefe de Estado, localizado no bairro portenho da Recoleta.

O local aparece mencionado nos já famosos “cadernos de Centeno”, escritos ao longo de dez anos por um ex-chofer do Ministério do Planejamento. No material, em mãos da Justiça, Centeno, atualmente uma testemunha protegida, descreve em detalhes operações de pagamento e recebimento de propinas envolvendo ex-funcionários kirchneristas e empresários relacionados a concessões de obras públicas.

Bonadio trabalha com a hipótese de que durante os governos Kirchner existiu uma associação ilícita formada por altos funcionários do Executivo, do Ministério do Planejamento e empresários privados. Nos últimos dias, mais de 20 empresários foram indiciados e vários aceitaram declarar como arrependidos, na tentativa de obter condenações mais brandas.

Nos cadernos, o ex-chofer assegura ter levado dinheiro ao apartamento dos Kirchner na Recoleta e, também, à residência presidencial de Olivos. Além de agentes da Polícia Federal, chegaram ao lugar testemunhas escolhidas pela Justiça e pesquisadores da Polícia Científica, com uma série de elementos técnicos para vasculhar o apartamento.

Em tom irônico, um dos advogados da ex-presidente, Gregório Dalbón, assegurou que “a esta altura não encontrarão mais nada”.

Atropelos

As portas do apartamento foram abertas por outro advogado da senadora, Carlos Beraldi, que acusou Bonadio de cometer atropelos e anunciou que sua cliente denunciará o juiz e pedirá seu julgamento político. "Aqui não querem encontrar nada, querem, apenas, fazer um show midiático", declarou Beraldo, irritado.

Cristina, que na véspera votou a favor de dar sinal verde ao pedido de Bonadio, não foi vista no apartamento. Esperam-se, ainda, buscas em imóveis da antiga família presidencial na província de Santa Cruz, terra natal do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), falecido em 2010. Segundo Claudio Uberti, ex-funcionário do Ministério do Planejamento atualmente preso e um dos que depôs como arrependido, no dia em que Kirchner morreu havia US$ 60 milhões no apartamento da Recoleta.

Nos cadernos de Centeno o ex-chofer descreve como as propinas eram transportadas em malas e sacolas e levadas, até mesmo, de avião até Santa Cruz.

Num discurso furioso, a senadora aceitou as revistas em suas residências, impondo apenas algumas condições, como a proibição de que meios de comunicação pudessem entrar junto com os policiais. Analistas locais avaliaram ontem que o discurso de Cristina da noite de quarta foi claramente o discurso de uma pessoa que já está em campanha para as presidenciais de 2019 e usará as ações de Bonadio para vitimizar-se. De fato, a ex-presidente comparou-se ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que ambos são vítimas de “uma operação regional para fazer desaparecer dirigentes populares”.

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