Inclusão

Prática inclusiva de fotojornalismo resulta em mostra de autoria de alunos cegos

Cerimônia de abertura da mostra ocorre hoje, 22, às 11h30; exposição ficará no Hall da Biblioteca até o dia 31 de agosto, com visitação gratuita; proposta é que a mostra se torne itinerante

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Aluno cego é orientado pelo professor durante aula prática de fotografia
Aluno cego é orientado pelo professor durante aula prática de fotografia (fotografia)

Itajaí - Quem disse que enxergar é condição obrigatória para registrar momentos com uma câmera fotográfica está enganado. Com vontade e apoio mútuo, alunos cegos da Universidade do Vale do Itajaí aprenderam a fotografar, graças à prática inclusiva de ensino proposta pelo professor da disciplina de Fotojornalismo, Eduardo Gomes. Ele criou uma metodologia, adaptou equipamentos e acompanhou os acadêmicos de Jornalismo Felipe Cristiano da Silva e Carla Chierosa Antunes, na captação e produção das imagens que integram uma exposição fotográfica. A mostra abre para visitação hoje, 22, às 11h30, na Biblioteca Central da Univali, Campus Itajaí.

O docente conta que já na primeira aula, a partir do pedido dos alunos com deficiência, passou a descrever as imagens que apresentava, o contexto e sua importância. Depois, ele buscou alternativas para adaptar a câmera. Em princípio, pensou em colocar braile nos equipamentos, mas os estudantes não sabem ler o sistema de escrita tátil. Então, o professor pôs fita emborrachada em alto-relevo nas principais funções da câmera, diferenciou o zoom por tamanho da fita e eles passaram a fotografar no modo programado. “Fiz um gabarito com as funções básicas que precisavam mexer e depois eles mesmos me devolveram, porque memorizaram as funções. O papel deles foi de enquadrar, escolher a cena e bater a foto. Sempre saíamos juntos, eu explicava o contexto, mas eram eles que escolhiam o que queriam registrar”, explica Gomes.

Felipe Cristiano e Carla fizeram todos os trabalhos propostos na disciplina junto com um acadêmico de Jornalismo, sob supervisão do professor. A turma foi desafiada a desenvolver uma pauta no Campus da Universidade. Eles cobriram a regata Volvo Ocean Race, que ocorreu em Itajaí, em abril deste ano; fizeram um trabalho em estúdio com retrato ambientado de uma personalidade da região, que no caso deles foram dois treinadores de cão-guia do Instituto Federal Catarinense (IFC); e por último, elaboraram uma grande reportagem. O tema escolhido para a grande reportagem foi a escola de cão-guia, que demonstrou onde ficam os cães, como funciona o treinamento, a adaptação, a equipe e toda a infraestrutura.

Ao final, a equipe apresentou os resultados aos demais acadêmicos da turma. Segundo o professor, o trabalho dos estudantes fez com que o grupo repensasse uma série de coisas, gerando mais engajamento nos demais alunos. Gomes afirma que a metodologia que ele utilizou com os estudantes cegos é alternativa, criada e adaptada por ele mesmo. O docente fala que teve também como referência o trabalho do fotógrafo Evgen Bavcar, que é cego e o inspirou a fomentar esta prática com os acadêmicos.

“Para mim, no começo, foi um desafio e depois uma imensa alegria. Precisou de uma atenção extra minha e deles, mas foi uma lição de vida e aprendi muito. Embora eles não estivessem enxergando, fizeram, por meio de suas fotos, com que outras pessoas conheçam algo que é muito importante para eles, os cães-guia”, salienta Eduardo Gomes.
Carla admite que ficou apreensiva quando soube que teria que cursar a disciplina de "Fotografia", principalmente porque enxergou durante 18 anos de sua vida, é cega há apenas sete anos e sempre gostou muito de foto. “O professor fez a coisa acontecer, a dedicação dele nos deu ânimo e vontade de seguir. O pico de emoção foi quando ele trouxe a câmera adaptada. Isso sim é acessibilidade e tecnologia inclusiva de verdade”, defende.

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