ANCARA - O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou ontem que os Estados Unidos estão "exagerando a possibilidade" de uma guerra contra o país persa.
"Não vai haver guerra. Nós nunca começamos uma guerra, e os americanos não vão confrontar militarmente o Irã", afirmou, em um ato político transmitido pela televisão.
O aiatolá rejeitou peremptoriamente a oferta do presidente dos EUA, Donald Trump, de novas negociações bilaterais, depois da saída de Washington do acordo nuclear assinado em 2015 e a volta das sanções econômicas americanas que haviam sido suspensas com o pacto.
"Eu estou banindo quaisquer conversações com a América. A América nunca permanece leal às promessas que faz em negociações", disse Khamenei, que tem a palavra final nas decisões políticas no Irã.
Khamenei também culpou o governo de seu país pela crise econômica que se abate sobre a população, dizendo que ela é fruto de má gestão.
Sem confiança
A primeira rodada de sanções americanas ao Irã entrou em vigor na semana passada e inclui bloqueios às transações financeiras e às importações de matérias-primas, além de medidas para impedir as compras no setor automotivo e na aviação comercial. Uma segunda rodada, marcada para 4 de novembro, atingirá o setor de petróleo e gás, assim como o Banco Central iraniano.
"A saída dos EUA do acordo nuclear é prova clara de que não se pode confiar na América", disse Khamenei.
Washington já afirmou que a única chance de o Irã evitar a reimposição das sanções seria aceitar a negociação de um novo acordo, que incluísse não apenas restrições ao programa nuclear do Irã, mas também ao seu programa de mísseis convencionais e suas atividades em outros países do Oriente Médio, como Síria, Líbano e Iêmen.
Autoridades do governo iraniano já rejeitaram a oferta, mas esta foi a primeira vez que Khamenei se manifestou sobre o assunto.
O aiatolá demonstrou estar insatisfeito com o governo do presidente Hassan Rouhani, reeleito no ano passado, ao criticar sua gestão dos problemas econômicos por que vem passando o Irã. A perspectiva da volta das sanções americanas causou uma escassez de dólares que fez a cotação do rial, a moeda iraniana, despencar violentamente e gerou protestos no país.
"Mais do que as sanções, é a má gestão econômica que está pondo pressão sobre o povo iraniano", disse Khamenei. "Não chamo isso de traição, mas de um erro enorme de administração. Com uma gestão melhor e planejamento mais eficiente, podemos resistir às sanções e superá-las".
A afirmação foi vista como uma tentativa de debelar a insatisfação da população com a crise econômica.
As potências europeias, que ainda apoiam o acordo nuclear de 2015, temem que as medidas de Trump minem o governo de Rouhani, um pragmático, e fortaleçam seus adversários radicais nas fileiras clericais iranianas.
O rial perdeu metade do valor desde abril com uma corrida desenfreada para comprar dólares. Autoridades do governo culparam "inimigos" pela desvalorização da moeda e pelo aumento do preço do ouro. Foram presas mais de 60 pessoas, inclusive dirigentes bancários e outras autoridades, que enfrentam acusações puníveis até com a morte. " As autoridades corruptas devem ser severamente punidas" disse Khamenei ontem.
Milhares de iranianos protestaram nas últimas semanas contra a alta de preços de alimentos, o desemprego e a corrupção estatal. Muitos protestos viraram manifestações antigoverno.
Nova geração de mísseis
Enquanto isso, o ministro da Defesa do Irã apresentou nesta segunda-feira um míssil balístico de nova geração, informou a agência de notícias Tasnim, que é próxima dos conservadores.
De acordo com a agência, o projétil apresentado é um míssil de curto alcance Fateh Mobin. "Como prometido ao nosso povo, não pouparemos nenhum esforço para aumentar as capacidades dos mísseis balísticos do país", declarou o general Amir Hatami. "Aumentaremos nosso poder de mísseis a cada dia".
O ministro descreveu a nova versão do Fateh Mobin como um míssil "fabricado 100% no país e ágil, furtivo, tático e preciso".
"Estejam certos de que, quanto maiores as pressões e a guerra psicológica contra a grande nação do Irã, mais teremos vontade de reforçar nossa capacidade defensiva".
O programa balístico do Irã é um tema espinhoso para as grandes potências, especialmente os Estados Unidos, mas Teerã o considera crucial para suas capacidades defensivas numa região instável, na qual está cercado de inimigos, como a Arábia Saudita.
O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse nesta segunda-feira à TV al-Jazeera que "o Irã não vai mudar suas políticas na região por causa de sanções e ameaças dos EUA".
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