Confronto

''Não vai haver guerra com os EUA'', diz líder supremo do Irã

Aiatolá Khamenei afirmou ontem que descarta novas negociações com os Estados Unidos, depois da saída de Washington do acordo nuclear

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
O aiatolá Ali Khamenei diz que 'não se pode confiar na América'
O aiatolá Ali Khamenei diz que 'não se pode confiar na América' (Aiatolá Ali)

ANCARA - O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou ontem que os Estados Unidos estão "exagerando a possibilidade" de uma guerra contra o país persa.

"Não vai haver guerra. Nós nunca começamos uma guerra, e os americanos não vão confrontar militarmente o Irã", afirmou, em um ato político transmitido pela televisão.

O aiatolá rejeitou peremptoriamente a oferta do presidente dos EUA, Donald Trump, de novas negociações bilaterais, depois da saída de Washington do acordo nuclear assinado em 2015 e a volta das sanções econômicas americanas que haviam sido suspensas com o pacto.

"Eu estou banindo quaisquer conversações com a América. A América nunca permanece leal às promessas que faz em negociações", disse Khamenei, que tem a palavra final nas decisões políticas no Irã.

Khamenei também culpou o governo de seu país pela crise econômica que se abate sobre a população, dizendo que ela é fruto de má gestão.

Sem confiança

A primeira rodada de sanções americanas ao Irã entrou em vigor na semana passada e inclui bloqueios às transações financeiras e às importações de matérias-primas, além de medidas para impedir as compras no setor automotivo e na aviação comercial. Uma segunda rodada, marcada para 4 de novembro, atingirá o setor de petróleo e gás, assim como o Banco Central iraniano.

"A saída dos EUA do acordo nuclear é prova clara de que não se pode confiar na América", disse Khamenei.

Washington já afirmou que a única chance de o Irã evitar a reimposição das sanções seria aceitar a negociação de um novo acordo, que incluísse não apenas restrições ao programa nuclear do Irã, mas também ao seu programa de mísseis convencionais e suas atividades em outros países do Oriente Médio, como Síria, Líbano e Iêmen.

Autoridades do governo iraniano já rejeitaram a oferta, mas esta foi a primeira vez que Khamenei se manifestou sobre o assunto.

O aiatolá demonstrou estar insatisfeito com o governo do presidente Hassan Rouhani, reeleito no ano passado, ao criticar sua gestão dos problemas econômicos por que vem passando o Irã. A perspectiva da volta das sanções americanas causou uma escassez de dólares que fez a cotação do rial, a moeda iraniana, despencar violentamente e gerou protestos no país.

"Mais do que as sanções, é a má gestão econômica que está pondo pressão sobre o povo iraniano", disse Khamenei. "Não chamo isso de traição, mas de um erro enorme de administração. Com uma gestão melhor e planejamento mais eficiente, podemos resistir às sanções e superá-las".

A afirmação foi vista como uma tentativa de debelar a insatisfação da população com a crise econômica.

As potências europeias, que ainda apoiam o acordo nuclear de 2015, temem que as medidas de Trump minem o governo de Rouhani, um pragmático, e fortaleçam seus adversários radicais nas fileiras clericais iranianas.

O rial perdeu metade do valor desde abril com uma corrida desenfreada para comprar dólares. Autoridades do governo culparam "inimigos" pela desvalorização da moeda e pelo aumento do preço do ouro. Foram presas mais de 60 pessoas, inclusive dirigentes bancários e outras autoridades, que enfrentam acusações puníveis até com a morte. " As autoridades corruptas devem ser severamente punidas" disse Khamenei ontem.

Milhares de iranianos protestaram nas últimas semanas contra a alta de preços de alimentos, o desemprego e a corrupção estatal. Muitos protestos viraram manifestações antigoverno.

Nova geração de mísseis

Enquanto isso, o ministro da Defesa do Irã apresentou nesta segunda-feira um míssil balístico de nova geração, informou a agência de notícias Tasnim, que é próxima dos conservadores.

De acordo com a agência, o projétil apresentado é um míssil de curto alcance Fateh Mobin. "Como prometido ao nosso povo, não pouparemos nenhum esforço para aumentar as capacidades dos mísseis balísticos do país", declarou o general Amir Hatami. "Aumentaremos nosso poder de mísseis a cada dia".

O ministro descreveu a nova versão do Fateh Mobin como um míssil "fabricado 100% no país e ágil, furtivo, tático e preciso".

"Estejam certos de que, quanto maiores as pressões e a guerra psicológica contra a grande nação do Irã, mais teremos vontade de reforçar nossa capacidade defensiva".

O programa balístico do Irã é um tema espinhoso para as grandes potências, especialmente os Estados Unidos, mas Teerã o considera crucial para suas capacidades defensivas numa região instável, na qual está cercado de inimigos, como a Arábia Saudita.

O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse nesta segunda-feira à TV al-Jazeera que "o Irã não vai mudar suas políticas na região por causa de sanções e ameaças dos EUA".

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