Reação russa

Rússia chama novas sanções dos EUA de ilegais e prepara retaliação

Medidas de Washington, anunciadas quarta-feira, 8, são resposta a ataque com agente nervoso a ex-espião no Reino Unido

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

MOSCOU - O Kremlin afirmou ontem que são "absolutamente inaceitáveis" e "ilegais" as novas sanções econômicas impostas ao país pelos Estados Unidos, e avisou que vai revidar. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que Moscou já trabalha em medidas retalliatórias contra Washington. A Casa Branca anunciou as sanções na quarta-feira, 8, depois de responsabilizar Moscou pelo ataque com gás nervoso ocorrido em março no Reino Unido.

O Departamento de Estado explicou em comunicado que as sanções são uma resposta ao "uso do agente nervoso numa tentativa de assassinar o cidadão do Reino Unido Serguei Skripal", ex-espião russo recrutado como agente duplo pela espionagem britânica, e sua filha, Yulia. Mas Zakharova afirmou a repórteres que nenhuma prova foi apresentada contra a Rússia, e que o pretexto para as novas sanções não passava de uma invenção dos americanos.

Skripal, um ex-coronel da inteligência militar russa que entregou a identidade de dezenas de agentes ao serviço britânico de espionagem MI6, e sua filha Yulia foram encontrados inconscientes, em um banco público na cidade britânica de Salisbury, em 4 de março passado. Internados em estado grave, ambos se recuperaram. De acordo com as autoridades britânicas, eles foram expostos a um agente nervoso que pertence a uma classe de armas químicas desenvolvidas pela antiga União Soviética conhecida como Novichok.

"Consideramos absolutamente inaceitável o anúncio de novas restrições em relação ao caso de Salisbury, e também as consideramos ilegais", disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chamando Washington de "parceiro imprevisível".

Peskov também negou, mais uma vez, qualquer responsabilidade no envenenamento de Skripal e Yulia.

Rodadas de sanções

A porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, disse que havia sido determinado pelo governo americano que a Rússia “usou armas químicas ou biológicas em violação à lei internacional, ou usou armas letais químicas ou biológicas contra seus próprios cidadãos”. O uso de armas químicas é proibido por convenção internacional que entrou em vigor em 1997.

As sanções devem entrar em vigor no final do mês, após um período de notificação do Congresso de 15 dias, disse Nauert. Elas devem impedir que empresas estatais russas ou apoiadas pelo Estado russo comprem produtos com tecnologia americana nos setores de petróleo e gás, eletrônica, computadores e sensores, entre outros.

Haverá, no entanto, exceções para áreas envolvendo a segurança da aviação comercial, que serão autorizadas em casos individuais, acrescentou a fonte.

A autoridade disse que uma segunda leva de sanções “mais draconianas” será imposta daqui a três meses, a não ser que a Rússia dê “garantias confiáveis” de que não irá mais usar armas químicas.

Autoridades do governo americano ouvidas pela NBC disseram que a segunda leva de sanções poderá até incluir uma queda no nível das relações diplomáticas entre os dois países, além de proibir a empresa aérea russa Aeroflot de operar nos EUA. Todas as exportações e importações entre as duas nações também seriam suspensas.

Efeito indireto

O anúncio de novas sanções contra a Rússia está sendo interpretado como um efeito indireto das críticas que o presidente americano Donald Trump recebeu nos Estados Unidos por ter sido, segundo críticos, excessivamente deferente ao colega Vladimir Putin na primeira reunião de cúpula entre os dois, realizada no mês passado, na Finlândia. Sob pressão de parlamentares do próprio partido e de integrantes do seu governo, Trump estaria tentando provar que pode ser "duro" com a Rússia, no momento em que a Justiça americana investiga se houve concluio entre a sua campanha e o Kremlin para interferir nas eleições americanas de 2016.

A rigor, sempre houve uma dissonância entre as manifestações públicas de Trump de admiração por Putin e as medidas de seu governo contra a Rússia. Em março, o Tesouro americano já tinha sancionado 19 cidadãos russos e cinco entidades por suposta interferência nas eleições de 2016 nos EUA.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.