Vida Educação

Lições do intercâmbio estudantil entre países

Rica aprendizagem sobre cultura, solidariedade, tolerância e respeito racial são os maiores ganhos, além de um novo idioma e amadurecimento pessoal; jovens reconhecem que o estudo é o melhor passaporte para uma vida melhor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
O ex-intercambista João Carlos Almeida Lopes; a diretora administrativa do Cepromar, Eulália Neves; Lucas Moreira, que vai para a Argentina, e Matheus Vieira Domingues, que acaba de retornar dos EUA; Nos blazers, os botons de diversos países
O ex-intercambista João Carlos Almeida Lopes; a diretora administrativa do Cepromar, Eulália Neves; Lucas Moreira, que vai para a Argentina, e Matheus Vieira Domingues, que acaba de retornar dos EUA; Nos blazers, os botons de diversos países (intercâmbio)

Fazer um programa de intercâmbio estudantil e morar por 12 meses em país com outra língua, cultura e hábitos diferentes dos seus é um desafio para muitos jovens, mas aqueles que optam por essa experiência são quase unânimes em afirmar que essa é uma oportunidade única na vida, enriquecedora e muito transformadora para jovens entre 16 a 18 anos, a idade média da maioria dos programas. Em uma era marcada por guerras religiosas, perseguições raciais e êxodos em massa de imigrantes, a experiência de um intercâmbio nunca se fez tão relevante no mundo, para garantir a futura paz mundial.

Esses programas existem há muitos anos e são promovidos tanto por empresas privadas e somente acessíveis à famílias que possuem poder aquisitivo alto para bancar as despesas de um jovem morando no exterior por um ano, mas também por entidades internacionais sem fins lucrativos, como o Rotary Club International, que promove um dos programas mais completos e elogiados de intercâmbio estudantil, e o melhor, com vagas também para jovens carentes e cujas famílias não precisam desembolsar nenhum centavo nesse projeto.

Um sonho
Um verdadeiro sonho! Assim pode ser resumida a experiência do maranhense João Carlos Almeida Lopes, atualmente com 18 anos e que regressou de um programa de intercâmbio do Rotary Club/Distrito 4490 (Clube João Paulo) no México, onde viveu por um ano e trouxe de volta na bagagem muito mais que o espanhol afiado e fluente, mas ricas lições de vida e novos sonhos em mente.

“Vivi o melhor e ao mesmo tempo o mais difícil ano de minha vida no México. Como ex-aluno do Cepromar, ganhei essa bolsa do Rotary Club e realizei um sonho impossível, pois minha família jamais teria recursos para me ajudar nesse projeto, mas recebi todo o suporte financeiro do Rotary e de seus associados. No México, fiz novos amigos, aprendi espanhol e descobri um novo mundo. Costumo dizer que saí do aquário que era minha vida aqui e fui para um oceano. Descobri um mundo cheio de possibilidades e novas perspectivas que abriram minha mente. Mas durante o programa tive um momento duro, que foi a morte do meu pai aqui. Não tive como voltar para me despedir dele, mas contei com muito apoio dos rotarianos e amigos mexicanos e só com essa força que recebi deles pude seguir em frente e aguentar essa dor. Decidi continuar o intercâmbio também em homenagem ao meu pai, que sempre me incentivara em vida para isso, e hoje não me arrependo. Sei que posso ter um futuro melhor e estou batalhando para isso com muita garra”, revela o jovem, que antes do intercâmbio foi um aluno destacado do Cepromar/Centro Educacional e Profissionalizante do Maranhão, ONG que atua no desenvolvimento de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social na região do polo Coroadinho e entorno, por meio da oferta de mais de 20 cursos profissionalizantes totalmente gratuitos.

Enem
Agora, com uma visão de mundo ampla, um idioma estrangeiro na bagagem e tendo a solidariedade como maior lição desse programa, João Carlos estuda para o Enem e pretende seguir a área de saúde associada à carreira militar. Ele agora é um jovem mais motivado e acredita ainda mais em seu potencial, mesmo tendo a origem humilde. O estudo, ele hoje reconhece, é o melhor passaporte para uma vida melhor.

E quem também está animado com a perspectiva de uma vida melhor é o jovem Lucas de Jesus Amorim Moreira, de 17 anos e aluno do Cepromar que acaba de ganhar uma bolsa de estudos do Rotary para morar e estudar por um ano na Argentina, na cidade de Córdoba. Ele já está nos preparativos finais e deve embarcar ainda neste mês de agosto, com tudo pago pelo programa.

Ele, que cursava o segundo ano do Ensino Médio do Centro de Ensino Integrado Gonçalves Dias, nunca pensou que um dia teria essa oportunidade. Com seis irmãos e uma renda familiar apertada, Lucas mora no Parque dos Nobres com a família. O pai é motorista e a mãe cabeleireira. E foi levado por eles há 8 anos para o Cepromar, onde teve sua vida transformada.

“Eu era muito indisciplinado, e ter entrado no Cepromar mudou a minha vida. E lá entrei para o grupo de Bombeiro Mirim e
aprendi a ter disciplina e respeito, a ter mais atenção e valorizar o estudo. Também aprendi noções de primeiros socorros e a cuidar da horta e música. Agora, ganhei essa bolsa de estudos do Rotary Club por meio do Cepromar. Devo tudo a essas pessoas, que acreditaram em mim. Meu sonho nesse intercâmbio é dar o melhor de mim, fazer muitos amigos e voltar um ser humano melhor e mais completo”, diz Lucas, que depois pretende estudar Engenharia Mecânica e ajudar os pais e a família.

Oportunidades como essas são raras entre jovens carentes, mas são transformadoras não apenas para quem usufrui do programa, mas com reflexos também na família e em toda a comunidade na qual esses jovens estão inseridos. “Quando um jovem que mora em um entorno marcado por violência, drogas e pobreza conquista uma oportunidade dessas, ele se torna um exemplo para toda a comunidade de que por meio do estudo os sonhos se tornam realidade”, explica Eulália Neves, diretora administrativa do Cepromar e rotariana atuante.

Como define Lucas ,“um intercâmbio no exterior é uma porta que se abre para o futuro, para uma vida melhor”.
E segundo sociólogos, é mais que isso. É a chave para garantir um futuro de maior tolerância entre povos de diferentes culturas, além de fomentar a ajuda entre pessoas e países em tempos de guerras que provocam êxodos em massa e imigrantes espalhados pelo mundo. Vale lembrar que os jovens de hoje serão os líderes de amanhã. E aqueles que tiverem vivido um intercâmbio em outro país, que aprendeu a conhecer e a amar pessoas de diferentes culturais, com certeza terão atitudes mais sensatas e pacificadoras.

O jovem maranhense de 17 anos Matheus Vieira Domingues foi bolsista do Rotary Club nos Estados Unidos, onde estudou na cidade de Pittsburgh. Ele acaba de retornar do intercâmbio e confessa que voltou bastante “internacionalizado” e com um vasto círculo de amigos espalhados pelo mundo.

“Além de ter dominado o inglês e hoje ser fluente na língua, devo ao intercâmbio do Rotary Club a minha nova mentalidade internacional. Ao longo do programa, conheci muitos estudantes dos diversos países, fiz sólidas amizades e aprendi a respeitar e admirar ainda mais as culturas e hábitos de outros povos. Meu coração hoje está literalmente no mundo, com cada novo amigo que fiz, e já sonho em revê-los. E se no futuro eu puder, de alguma forma, ajudar pessoas de outros países, não medirei esforços para tal. E devo essa nova visão de mundo ao Rotary Club. Serei eternamente grato aos rotarianos que me receberam nos EUA e aos rotarianos maranhenses que me proporcionaram essa oportunidade. Foi o melhor ano da minha vida até agora, no qual eu mais aprendi e cresci como ser humano”, revela Matheus, que agora está focado em retomar os estudos em São Luís e se dedicar ao Enem. Ele ainda não sabe qual carreira seguirá, mas que seja com alguma troca internacional desde já.

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