Ameaça

Israel matou cientista sírio com carro-bomba, dizem agentes

Aziz Asbar era chefe de setor secreto de produção de armas que estava desenvolvendo mísseis de alta precisão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

JERUSALÉM - Aziz Asbar era um dos cientistas mais importantes da Síria. Especializado em projetar foguetes, estava empenhado em criar um arsenal de mísseis teleguiados de alta precisão que poderiam ser lançados com pontaria perfeita sobre cidades israelenses, a centenas de quilômetros.

Asbar tinha acesso irrestrito aos escalões mais altos dos governos sírio e iraniano, e sua própria escolta de segurança. Chefiava uma unidade altamente secreta de desenvolvimento de armas chamada Setor 4, e estava trabalhando duro para reconstruir uma fábrica de armamentos subterrânea que substituiria uma instalação anterior destruída por Israel em 2017.

Foi pelo menos a quarta vez em três anos que Israel assassinou um engenheiro projetista de armamentos em solo estrangeiro, informou um alto oficial de uma agência de inteligência do Oriente Médio. O relato que se segue é baseado no que narrou esse oficial, cuja agência ficou a par da operação israelense. Ele falou sob condição de anonimato, já que a operação era classificada como ultrassecreta.

O atentado ao cientista aconteceu na noite de sábado em Masssiafe, onde o deparmento de pesquisas militares da Síria mantém algumas de suas mais importantes instalações para desenvolvimento de armas. Rapidamente a Síria e o Hezbollah (o grupo islâmico baseado no Líbano que é aliado do presidente Bashar al-Assad na guerra civil síria) acusaram Israel pela morte de Asbar.

Neste caso, as acusações eram fundadas. O Mossad vinha seguindo Asbar há muito tempo, revela o oficial.

Mísseis adaptados

Os israelenses acreditavam que o cientista era o chefe do Setor 4, no Centro de Pesquisas de Estudos Científicos da Síria. Ele teria acesso irrestrito ao palácio presidencial em Damasco, e vinha colaborando com o major-general Qasem Soleimani, comandante das forças especiais Quds do Irã, além de outras autoridades iranianas, para iniciar a produção dos mísseis teleguiados de alta precisão na Síria. Os mísseis seriam obtidos alterando-se foguetes do modelo SM600 Tishreen.

Asbar também trabalhava numa fábrica de combustível sólido para mísseis e foguetes, uma alternativa mais segura ao combustível no estado líquido.

Um oficial da aliança sírio-iraniana, também falando sob anonimato por estar proibido de dar entrevistas a jornalistas ocidentais, afirmou acreditar que Israel queria matar Asbar devido a seu papel de destaque no programa de mísseis da Síria mesmo antes de a guerra civil estourar em 2011.

Mortes

Segundo a lei israelense, só o primeiro-ministro pode autorizar uma operação de assassinato, que é conhecida pelo eufemismo "tratamento negativo" dentro do Mossad. Porta-vozes do premier Benjamin Netanyahu e do ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, não responderam a pedidos de entrevista sobre o assunto.

Como um dos diretores do centro de pesquisa sírio, Asbar trabalhou durante anos no programa de produção de armas químicas de Assad. Ficava sediado em Al Afir, perto de Alepo, e na cidade de Massiafe, a oeste de Hama. Também coordenava atividades do Irã e do Hezbollah em solo sírio.

Como chefe do Setor 4, estava ultimamente adaptando foguetes cuja tecnologia não era sofisticada para transformá-los em mísseis de alta precisão capazes de acertar em cheio alvos a longas distâncias. Um perigo que Israel quer evitar a qualquer custo, e por isso vem se dedicando energicamente a debelá-lo.

Medo de novo front

Israel também quer afastar da Síria as forças do Irã e do Hezbollah, numa iniciativa que começou depois que os dois entraram no país para ajudar Assad a combater os rebeldes.

Jerusalém teme que, finda a guerra civil, as tropas dos dois exércitos se voltem contra Israel. Autoridades do país temem que o Irã tente criar uma presença permanente na Síria, com isso estabelecendo um novo front na fronteira norte israelense.

Fábricas de armas

Em setembro passado, Israel destruiu a maior parte da fábrica síria de armas em Massiafe, onde Asbar era um dos principais chefes. Mas, nos últimos meses, os iranianos começaram a reconstruí-la, desta vez em instalações subterrâneas. As máquinas usadas na produção de armas, enquanto isso, ficaram guardadas num depósito. Entretanto, boa parte delas foi destruída num ataque israelense no dia 23 de julho.

O centro de pesquisas sírio está, já faz tempo, no radar das agências de inteligência ocidentais. É alvo de sanções financeiras dos EUA e da França. Antes da guerra civil, o centro operava instalações de produção e estocagem de armas químicas, muitas das quais já foram destruídas ou abandonadas. Chegou a empregar dez mil pessoas na produção de mísseis e armas nucleares, químicas e biológicas.

Israel foi continuamente percebido como agente de ataques contra a produção síria de armamentos. Em 2007, uma explosão numa linha de produção de ogivas no centro de pesquisa matou 15 sírios e também iranianos. A Síria concluiu que o ataque foi obra de sabotadores israelenses.


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