Tensão

Estados Unidos anunciam sanções para minar economia do Irã

Punições que afetam compra de dólar e comércio de metais, carvão, software e automóveis entram em vigor nesta terça,7

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
O presidente Donald Trump: saída do acordo nuclear de 2015 e retorno das sanções ao Irã
O presidente Donald Trump: saída do acordo nuclear de 2015 e retorno das sanções ao Irã (Presidente Donald Trump)

WASHINGTON - O governo de Donald Trump confirmou ontem que vai reimpor as sanções ao Irã que haviam sido suspensas pelo acordo nuclear fechado em 2015 com o país. Os EUA, que saíram do acordo em maio, anunciaram o retorno das sanções para o primeiro minuto de hoje,7 (8h31m no país persa, na terça-feira), aumentando a pressão sobre o governo e a economia iranianos e aprofundando sua discórdia com França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China, que também são signatários do acordo.

As novas sanções proíbem americanos e empresas americanas de fazer quaisquer transações com o Irã que envolvam cédulas de dólar, ouro, metais preciosos, alumínio, aço, carvão e aviação civil. As restrições acabam com a importação de tapetes e alimentos iranianos para os EUA. As punições também atingem empresas estrangeiras que usem o dólar em transações internacionais e/ou tenham negócios com os EUA.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou no domingo,5, que o objetivo das sanções é fazer com que o Irã encerre toda a atividade de enriquecimento de urânio e reduza sua influência no Oriente Médio. Pelo acordo de 2015, o Irã pôde manter o enriquecimento em níveis suficientes para a produção de energia e uso médico, sob inspeções estritas que garantam que não produzirá a bomba atômica. Em troca, o país esperava colher benefícios econômicos com o fim das sanções da ONU, da União Europeia e dos EUA.

Autoridades europeias disseram, por sua vez, que o acordo nuclear com o Irã é crucial para a segurança do continente. Até agora, inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica atestaram que o país persa vem cumprindo a sua parte do pacto.

Pompeo disse no domingo ter "esperança de que vamos conseguir achar um caminho para seguir em frente, mas isso vai exigir uma enorme mudança por parte do regime iraniano. Eles têm que se comportar como um país normal. É o que pedimos. É bem simples".

Normas globais

Num discurso em maio, o secretário de Estado exigiu que o Irã acabe com qualquer enriquecimento nuclear, com seu programa de mísseis balísticos e com a formação de especialistas capazes de desenvolver mísseis atômicos. Exigiu também que o país retire seu apoio aos grupos libanês Hezbollah, palestinos Hamas e Jihad Islâmica e às milícias houthi do Iêmen, e que retire seus soldados da Síria, onde apoiam o regime de Bassar al-Assad.

Pompeo afirmou que tais mudanças seriam compatíveis com "normas globais", embora o enriquecimento de urânio para uso civil e o desenvolvimento de mísseis sejam permitidos pela lei internacional. Além disso, Rússia, Turquia, Iraque e os próprios EUA também têm forças militares lutando na guerra civil síria, que já dura sete anos.

Numa entrevista ontem, altas autoridades do governo Trump reiteraram estar buscando uma "mudança de comportamento" por parte de Teerã, e não uma mudança de regime. Frisaram que a ameaça de novas sanções já afetou a economia iraniana, incluindo uma forte desvalorização do rial, desemprego crescente e protestos constantes.

"Não há dúvidas de que essas sanções financeiras continuarão a provocar significante pressão financeira", disse uma das autoridades.

Alguns analistas expressaram temor com a decisão de Trump de seguir em frente com as sanções mesmo sob resistência de Europa, Rússia e China. Temem que outras potências mundiais encontrem maneiras de contornar o sistema financeiro liderado pelos americanos, minando assim a eficácia das sanções em certas áreas.

A União Europeia atualizou nesta segunda um estatuto de bloqueio que pode proteger as empresas europeias que fizerem negócios com o Irã de quaisquer penalidades impostas pelos EUA. Mas funcionários do governo Trump não deram importância ao ato, dizendo que mais de cem empresas já haviam anunciado a intenção de deixar o Irã em face da retomada das sanções americanas.

Restrições mais severas

Uma rodada de sanções ainda mais severas está marcada para começar em novembro, incluindo restrições à exportação iraniana de petróleo bruto e transações com o Banco Central do país persa.

Autoridades americanas afirmaram esperar mais apoio internacional a seus esforços contra o Irã nos meses vindouros, mas prometeram ser implacáveis na reimposição das sanções mesmo que outros governos não concordem com essa política.

No fim de semana, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif se reuniu com vários colegas numa cúpula sobre segurança no Sudeste da Ásia em Cingapura. Zarif postou no Twitter várias fotos de seus encontros com chanceleres de outros países.

"É preciso que haja um claro consenso global para buscar uma ação combinada para proteger o acordo nuclear", tuitou.

Confiança

Em reação ao anúncio americano e uma nova oferta de Trump para que os dois países retomassem negociações, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, disse num pronunciamento na TV ontem que Teerã até poderia manter conversações com Washington, mas os EUA teriam de provar antes que são confiáveis.

"Somos sempre a favor de diplomacia e diálogo, mas é preciso haver sinceridade nas conversas", disse Rouhani. "Os EUA impõem sanções, saem do acordo nuclear, e agora querem conversar conosco".

Para o presidente iraniano, a oferta de diálogo feita por Trump é apenas "para consumo doméstico nos Estados Unidos, e para criar o caos no Irã".

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