Rompimento

Saída dos EUA de acordo nuclear foi ''ilegal'', diz presidente do Irã

Para autoridades iranianas, sentar à mesa com Trump agora seria ''humilhação''; na semana passada, presidentes trocaram ameaças

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Rouhani: 'Irã não vai desistir facilmente de seu direito de exportar petróleo'
Rouhani: 'Irã não vai desistir facilmente de seu direito de exportar petróleo' (Rouhani)


LONDRES - O presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse ontem que a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear foi "ilegal" e que cabe aos países europeus, também signatários do pacto, preservá-lo. A declaração de Rouhani chega a poucos dias da implementação de sanções americanas contra o país persa, como consequência da retirada de Washington do tratado histórico, assinado em 2015.

Na semana passada, Donald Trump e Rouhani trocaram ameaças, mas, na segunda-feira, o presidente americano afirmou que estaria disposto a se encontrar com o colega iraniano sem pré-condições para discutir como melhorar os laços entre os dois países. Em resposta, várias autoridades iranianas se pronunciaram ontem, afirmando, entre outras coisas, que negociar com os EUA neste momento seria uma "humilhação" para Teerã.

Novas sanções

A partir de 6 de agosto, o Irã sofrerá sanções em sua indústria de automóveis, no comércio de ouro e outros metais; e, em 4 de novembro, mais sanções dos EUA vão afetar o setor de energia e petróleo, além de transações com o Banco Central do país persa.

Em maio, os americanos se retiraram do acordo nuclear, pelo qual sanções da ONU, da União Europeia e dos Estados Unidos ao Irã foram suspensas, em troca de restrições no programa nuclear iraniano. Desde a saída americana, empresas europeias vêm anunciando que deixarão os negócios no país persa, com medo de serem afetadas pelas sanções americanas que serão reimpostas, e Washington tem pressionado países aliados a suspender a importação de petróleo iraniano.

"Depois da saída ilegal dos Estados Unidos do acordo nuclear, a bola agora está com a Europa", disse Rouhani numa reunião com o embaixador inglês no país, Bob Macaire, segundo o site oficial do presidente iraniano. "A República Islâmica [do Irã] nunca buscou criar tensão na região e não quer problemas nas relações internacionais, mas não desistirá facilmente de seu direito de exportar petróleo".

Recentemente, em resposta às ameaças americanas de agir contra as exportações de petróleo do Irã, comandantes militares iranianos ameaçaram fechar o Estreito de Ormuz, que dá acesso ao Golfo Pérsico.

Ao se retirar do acordo, Trump alegou que o pacto não cobria os armamentos convencionais do Irã nem a presença política e militar do país em outras nações do Oriente Médio, como Líbano e Síria. O regime de Teerã já afirmou que suas atividades nessas duas áreas são defensivas e que não estão na mesa de negociação.

Trump comentou na segunda-feira,30, "não saber" se os iranianos estão prontos para um novo acordo, embora tenha afirmado estar aberto a uma nova reunião.

"Não sei se eles estão prontos. Acabei com o acordo com o Irã. Era um pacto ridículo. Acredito que eles provavelmente irão querer se encontrar, e estou pronto para atender a qualquer hora que quiserem. Se pudéssemos fazer alguma coisa que fosse significativa, não o desperdício de papel que o acordo era, eu certamente estaria disposto a me encontrar", afirmou numa entrevista coletiva na Casa Branca, observando que "isso seria bom para os Estados Unidos, o Irã e o mundo".

Em resposta, um assessor de Rouhani, Hamid Aboutalebi, disse que, a fim de abrir caminho novamente para negociações com o Irã, os Estados Unidos deveriam retomar os termos do acordo de 2015 feito junto com a União Europeia.

"Respeitar os direitos da nação iraniana, reduzir hostilidades e retornar ao acordo nuclear são passos que podem ser tomados para pavimentar a esburacada estrada de negociações entre Irã e a América", postou Aboutalebi no Twitter.

Oferta de Trump

Nesta terça-feira, autoridades iranianas voltaram a rejeitar a oferta de Trump de conversações com o país "sem pré-condições", classificando-a como inútil e "uma humilhação".

O chefe do Conselho Estratégico de Relações Exteriores do Irã, Kamal Kharrazi, desprezou totalmente a sugestão do presidente americano. Ainda mais depois que Trump advertiu o país recentemente, dizendo que sofreria consequências terríveis se ameaçasse Washington.

"Baseados nas experiências ruins que tivemos em negociações com os EUA, e cientes das violações de compromisso de suas autoridades, é natural que nós não vejamos valor algum na proposta de Trump", disse Kharrazi à agência iraniana Fars. "Ele deveria, primeiro, compensar de alguma forma sua saída do acordo nuclear e mostrar que respeita seus antecessores".

A tentativa de Trump de forçar o Irã a voltar à mesa de negociação teve o efeito de unir, ao menos temporariamente, os radicais iranianos que se opunham ao acordo e os moderados como Rouhani, que o defendera como uma forma de acabar com o impasse entre o país persa e as potências ocidentais.

O presidente do Parlamento iraniano, Ali Motahari, visto como um moderado, afirmou que negociar agora com Trump "seria uma humilhação".

"Se ele não tivesse se retirado do acordo, nem imposto novas sanções, não haveria problema em negociar", disse à agência estatal Irna.

O ministro do Interior do Irã, Abdolreza Rahmani Fazli, não poupou críticas a Washington.

"Os Estados Unidos não são de confiança. Como podemos confiar nesse país quando ele sai unilateralmente do acordo nuclear"?

Trump disse ter condenado o acordo porque ele não cobria os programas de desenvolvimento de mísseis balísticos, nem o envolvimento do Irã nos conflitos no Oriente Médio. Assim, reativou as sanções americanas.

Fuga de capitais

As potências europeias signatárias do acordo têm tentado salvá-lo, mas já avisaram Teerã que podem não conseguir convencer grandes investidores a ficar no país. Os empresários temem punições dos EUA.

Se Rouhani, por seu lado, ameaçou tomar cargas petrolíferas no Golfo Pérsico caso seja impedido de exportar petróleo, o comandante da Marinha iraniana, contra-almirante Hossein Khanzadi, disse nesta terça que "o estreito de Ormuz permanecerá aberto se os interesses do Irã forem preservados".

O chefe do Irã para a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Hossein Kazempour Ardebili, diz que Trump está enganado ao esperar que a Arábia Saudita e outros produtores compensem perdas causadas pelas sanções ao Irã.

"Parece que Trump virou refém dos sauditas quando eles disseram que poderiam substituir a exportação diária de 2,5 milhões de barris de petróleo iraniano. Assim, o encorajaram a agir contra o Irã. Agora, a Arábia Saudita e a Rússia exportam mais petróleo, a preços mais altos".

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