O Nó do Diabo

O terror da realidade

“O Nó do Diabo” reúne cinco histórias de horror, cuja essência é o preconceito racial e a escravidão no país; filme está em cartaz no Cine Lume

Bruna Castelo Branco/ Editora do Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Cena do filme "O Nó do Diabo" está em cartaz nos cinemas
Cena do filme "O Nó do Diabo" está em cartaz nos cinemas (O Nó do diabo)

SÃO LUÍS- Reunindo cinco histórias que se passam em diferentes períodos históricos, o filme nacional “O Nó do Diabo”, assinado pelos diretores Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi, equilibra-se em uma trama de terror para expor a ferida aberta do preconceito racial no Brasil. A obra, comparada ao terror norte-americano “Corra!”, entrelaça cinco histórias, que vão do presente para o passado, em narrativas sombrias que devassam o histórico de horror do país.

Todas têm como cenário uma fazenda da família Vieira, cujo patriarca, interpretado pelo veterano ator paraibano Fernando Teixeira, perpassa todas elas, em uma presença fantasmagórica, simbolizando a elite dominante.

O primeiro conto se passa em 2016 e mostra a história de Cristian (Tavinho Teixeira), um homem responsável por zelar pela propriedade já desgastada pelo tempo. Para cumprir as ordens do patrão, ele não se intimida em cometer assassinatos e sua visão de mundo o faz embarcar em uma trajetória de loucura, ódio e preconceito.

Em seguida, o filme volta para 1987, quando um casal de negros pede emprego na propriedade e, após a chegada dos dois, episódios estranhos começam a atormentar o casal. Além disso, referências ao horror da escravidão começam a vir à tona, quando o marido encontra instrumentos de tortura, utilizados para conter escravos fugitivos. A partir daí, a tônica do filme aposta em efeitos do sobrenatural para mostrar a ligação do casal com o local.

A mesma essência é a da terceira parte que se passa em 1921, focada em duas irmãs empregadas dos Vieiras que são constantemente açoitadas pelo capataz e violentadas pelo patrão e seus amigos. Porém, uma delas tem um poder sobrenatural e sua vingança poderá trazer consequências graves aos seus algozes.

Problemas
O penúltimo se passa em 1871, ano em que os filhos de pais escravos eram alforriados. Ele acompanha a história da fuga de um escravo que acabara de perder a mulher e o filho recém-nascido, por causa da violência dos Vieira. A busca pelo quilombo e a tentativa de vingança revela uma narrativa lenta e que não empolga.

O último conto é o que mais tem defeitos. Nem mesmo a presença de Zezé Mota conseguiu salvar a proposta da história, que se passa em 1818 e retrata quilombolas ocupando as terras dos Vieira e reivindicando o direito de usufruir delas. Com diálogos, interpretações ruins e recursos constrangedores para imprimir uma atmosfera de terror, esse conto prejudica a harmonia do filme que estava em êxito até a apresentação do terceiro conto.

Contudo, “O Nó do Diabo” é bem mais que isso e desvela que a realidade, por muitas vezes, pode ser bem pior que qualquer artifício sobrenatural. Os horrores causados pela escravidão no Brasil são uma sombra que perpassa por séculos e, até hoje, têm efeitos macabros na sociedade.

Serviço

O quê

Filme “O Nó do diabo”

Quando

Até quarta-feira (25)

Onde

Cine Lume (Renascença)

Sessões: 20h40

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