História da Ilha

Rua de Santana impulsiona o comércio e é alvo de reclamações

Via apresenta uma das maiores concentrações de estabelecimentos comerciais; sem planejamento, cria imagem de desordem e gera reclamações

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

[e-s001]Uma das mais conhecidas vias da cidade, a Rua de Santana registra uma das maiores concentrações da cidade de estabelecimentos comerciais, em sua maioria, do gênero varejista. Alguns empresários e clientes consideram que o trecho é visto como uma “verdadeira extensão” da Rua Grande. Apesar da importância comercial, a falta de planejamento público ajudou a criar uma imagem de desordem viária, já que o espaço físico – especialmente nos dias de semana – não é suficiente para abrigar de forma confortável a demanda de pedestres e veículos.

A oferta de produtos dos lojistas na Rua de Santana é considerada farta e vai desde roupas e calçados, passando por artigos de festas infantis, lanches, bolsas, entre outros. Apesar da pujança comercial, aos poucos é possível ver imóveis sendo postos à venda por antigos donos que buscam novos ramos de exploração comercial.

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Outra característica que representa a Rua de Santana é a grande presença de empresários de origem asiática. Na via, é possível ver vários deles circulando por lojas e cuidando de seus negócios. A grande presença asiática na Rua de Santana começou a ocorrer nos últimos oito anos e alguns deles estão por lá durante este período. Um deles, que não quis revelar o nome, disse a O Estado que está na Rua de Santana há três anos. Ele vende camisas de times de futebol. “Não tenho vontade de sair daqui, não”, disse.

[e-s001]Reclamações
A via também é famosa pelas reclamações, em especial dos pedestres. Eles dizem que não há espaço para circular no local. “Não tem espaço nas calçadas e os carros quase atropelam a gente”, disse a dona de casa Regina Sales, que faz suas compras semanalmente na Rua de Santana. Os motoristas também reclamam. “Não tem uma vez que a gente não passe na Rua de Santana que não esteja engarrafada”, disse.

Via no Centro é cenário
de manifestação religiosa

A Rua de Santana, com suas várias denominações, ao longo da história também tem referência importante no contexto religioso, em especial, católico. É lá que se localiza a Igreja de Nossa Senhora de Santana. Segundo o exemplar “Arquitetura e Arte Religiosa no Maranhão”, de Kátia Bogéa, Emanuela Sousa Ribeiro e Stella Regina Soares de Brito, a construção da Igreja de Sant´Ana ocorreu em 1790 e se deve à iniciativa do cônego João Maria Luz Costa.

Entre os atrativos da igreja, além da referência à Sant’Ana e São Joaquim, considerados pais de Nossa Senhora, em sua sacristia é possível ver o único exemplar existente no Maranhão da azulejaria figurativa sacra. De acordo com o pesquisador Santos Simões, “foi o melhor painel fabricado no reino nos arredores de 1775”. Com estilo neoclássico, a Igreja de Sant´Ana “possui átrio nave única central com capelas paretais nas laterais e dois altares no arco-cruzeiro de feições clássicas”. “É uma igreja única e que, sem dúvida, faz parte da história da Rua de Santana”, disse o padre Heitor Morais, pároco da Igreja de São João.

SAIBA MAIS

Vinculada à Paróquia de São João, situada na Rua da Paz, a Igreja de Sant’Ana comemora o período de festejo da padroeira (como também é conhecida a Rua de Sant’Ana) e São Joaquim. As homenagens começaram no dia 17 e deverão prosseguir até o dia 26 deste mês, com adorações ao Santíssimo Sacramento, missas e outras atividades.

OUTROS NOMES DA RIA DE SANTANA

Se a Rua de Santana também foi denominada de Gonçalves Dias, ao longo dos séculos foi recebendo outros nomes. Um dos mais curiosos é citado por Domingos Vieira Filho em “Breve História das Ruas de São Luís”. Segundo o autor, a partir de um anúncio estampado em 1840. De acordo com a mensagem, o “sr, Antônio Francisco d’Azevedo está autorizado para vender alguma propriedade de casas de sobrado bem construídas […] e fazem canto para a Rua de Santana ou Tanguitá”.
O termo “Tanguitá” para a Rua de Santana foi referendado por Carlos de Lima em sua obra “Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos”. No entanto, o próprio autor cita em seus escritos que não há referência ao significado da palavra “Tanguitá”.
Outra referência nominal à Rua de Santana tem ligação com a história da comunicação maranhense. Segundo Carlos de Lima, a partir da aprovação de uma Lei Municipal (nº 345), de 14 de maio de 1924, a Rua de Santana passou a se chamar também de Rua José Augusto Corrêa. De acordo com Carlos de Lima, o homenageado foi estudante e professor do Seminário das Mercês. Foi ainda delegado fiscal e inspetor da alfândega do Maranhão e colaborador de jornais, como O Estado. Ele foi ainda membro da Academia Maranhense de Letras.

[e-s001]PRIMEIROS COMÉRCIOS E ROTA DE COLETIVOS

Antes uma área residencial, a Rua de Santana passou por transformações. O maior impacto visual começou a ocorrer a partir da década de 1960, com o surgimento dos primeiros estabelecimentos comerciais. A partir daí, a rota dos coletivos também começou a ser direcionada para a via, que passou a conviver com um fluxo maior de veículos diariamente, o que dificultou, num primeiro momento, o fluxo de pedestres.
Em 23 de agosto de 1974, O Estado do Maranhão registrou o “perigo até então”, conforme cita a reportagem, do uso do espaço da Rua de Santana para pedestres e veículos. “Até então, o fluxo de veículos era no sentido contrário ao que vemos hoje”, disse Eduardo Cavalcante, dono das Lojas Cruzeiro, estabelecimento fixado há mais de 64 anos na Rua de Santana. Ele também lembrou que, em meados da década de 1970, ônibus que faziam viagens intermunicipais também passavam pela via.
Comerciantes que atuam na via há vários anos lembram desse período. “Antes de chegarem os estabelecimentos, era tudo mais calmo. Depois, foi ficando mais agitado com a chegada destes comércios”, disse Antônio Albino Teixeira. Ele é o responsável pela Fábrica das Velas, um dos estabelecimentos mais antigos situados na via. Segundo o comerciante, não há mais pessoas residindo na Rua de Santana. “Havia um comerciante português e outro no começo da via, de quem vem da Magalhães de Almeida, que moravam aqui. Agora, pelo que eu sei, não tem mais. A Rua de Santana, aos poucos, foi ficando vazia e mais forte no comércio”, disse. Seu Albino, como é conhecido, chegou a residir na Rua de Santana, no imóvel onde funciona a Fábrica das Velas. Mas, há alguns anos, foi morar em outro bairro fora da região central, onde fica a Rua de Santana.
Outro estabelecimento conhecido na Rua de Santana era a famosa “Casa Sem Nome”. O registro da rua foi feito por Antônio Guimarães em “Becos e Telhados”. Segundo o dono das Lojas Cruzeiro, o dono da “Casa Sem Nome” era considerado um visionário. “Ele já sabia o que era marketing nessa época. A casa não tinha nome, mas na verdade tinha”, disse.

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