História da Ilha

De abrigo do amor do poeta Gonçalves a referência histórica

Rua de Santana já foi cenário de inspiração para o escritor, mas hoje sofre com o excesso de centros comerciais, falta de espaço e de planejamento

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
Rua  de Santana no passado, com  circulação de ônibus
Rua de Santana no passado, com circulação de ônibus (Santana)

A via que já abrigou amores de escritores famosos, e membros de outros países, passou a ser um local com problemas relacionados à ausência de planejamento urbano. A Rua José Augusto Corrêa – conhecida popularmente como Rua de Santana –, no centro de São Luís, é muito mais do que uma artéria do trânsito da cidade. O local recebeu famílias tradicionais, ajuda na ascensão de empresários, aglutina fiéis católicos e, até hoje, suscita curiosidades, entre pesquisadores e cidadãos, que apreciam a história ludovicense. A rua também recebeu o antigo jornal do Dia, que originou o atual jornal O Estado do Maranhão.

Segundo pesquisa feita por O Estado, não há uma data precisa acerca da inauguração da via. De acordo com a obra “Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos”, do escritor, poeta, historiador e folclorista Carlos Orlando Rodrigues de Lima (que nasceu em São Luís), em meados do século XIX a via compreendia “três trechos com nomes distintos”. O primeiro deles se estendia da Rua da Estrela à Rua Formosa. Já o segundo começava da Rua Afonso Pena até a Rua 7 de Setembro. Por fim, a via começava na antiga Rua da Cruz (7 de Setembro) até a Rua do Outeiro. O limite citado pelo pesquisador é o muro do antigo Colégio Marista, demarcação esta que vale até hoje, conforme informa a última atualização do Google Maps.

Neste período, a rua era abrigo para representantes de diferentes países. Segundo o historiador e pesquisador Antônio Guimarães de Oliveira, em sua recente obra intitulada “Becos e Telhados”, o vice-cônsul da Inglaterra, William Wilson, residiu na via. Assim como ele, a Rua de Santana recebeu o vice-cônsul da Áustria e Toscana, Clemente José da Silva Nunes. A famosa médica Maria Aragão também morou naquela via, por um período.

LEIA TAMBÉM:

Rua de Santana impulsiona o comércio e é alvo de reclamações



Mas a principal referência histórica da via é relatada por Antônio Guimarães e por Domingos Vieira Filho (membro efetivo da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico do Maranhão), este último, em sua obra intitulada “Breve História das Ruas de São Luís”, de 1962. No exemplar, o autor cita que – em um pequeno sobrado na Rua de Santana – residia Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, grande amigo de Gonçalves Dias e cunhado de Ana Amélia, mulher que popularmente “enchia os olhos” do cantor de “Os Timbiras”.

Com a indicação do historiador Antônio Guimarães, O Estado localizou o sobrado citado como cenário para o amor do poeta e constatou que o imóvel sofreu descaracterização, assim como a maioria dos prédios situados na via. De acordo com Carlos Orlando Rodrigues de Lima, em “Caminhos de São Luís”, a Câmara Municipal – em 1865 – passou a denominar a Rua de Santana como Rua Gonçalves Dias, em alusão ao grande escritor.

SAIBA MAIS

De acordo com Antônio Guimarães em “Becos e Telhados”, o casarão definido pelo pesquisador como o de número 47 na via foi o local escolhido pela também romancista – assim como Gonçalves Dias – Maria Firmina dos Reis para a impressão da primeira publicação do romance “Úrsula”. Segundo os originais da obra, “Úrsula” foi publicado em meados da segunda metade do século XIX. De acordo com Antônio Guimarães, a impressão foi feita na antiga Tipografia Progresso.

Rua de Santana

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.