Cúpula

Trump e Putin negam conluio nas eleições dos Estados Unidos

Presidente americano diz que russo foi ''firme e convincente'' ao negar interferência do Kremlin na campanha de 2016

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
Trump e Putin juntos na coletiva de imprensa, que ocorreu ontem em Helsinque, na Finlândia
Trump e Putin juntos na coletiva de imprensa, que ocorreu ontem em Helsinque, na Finlândia (Trump e Putin em entrevista)

HELSINQUE - Num muito aguardado encontro na Finlândia, os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin veementemente negaram que a campanha republicana e a Rússia tenham cooperado para interferir nas eleições americanas de 2016. O tema é o mais sensível da cúpula entre os dois países, na qual os dois líderes disseram ter mantido um diálogo produtivo e aberto. Em um momento particularmente difícil das relações entre Washington e Moscou, os dois lados prometeram escalar especialistas russos e americanos para trabalhar na normalização dos seus laços, um processo que poderia, segundo Trump, levar a novos encontros entre os dois chefes de Estado.

Trump e Putin disseram ter dedicado "um longo tempo" da conversa privada de duas horas à suposta interferência de agentes russos na votação que elegeu o atual chefe da Casa Branca. Na sexta-feira, 13, o procurador especial americano que investiga a chamada trama russa, Robert Mueller, acusou pela primeira vez funcionários do governo russo de envolvimento no caso. Segundo a acusação, 12 agentes da Inteligência russa foram responsáveis por ciberataques a computadores ligados à campanha da democrata Hillary Clinton, com o roubo e a disseminação de informações para prejudicar a rival de Trump na disputa.

Na entrevista coletiva ao lado de Trump, Putin desafiou um repórter a citar "um único fato" capaz de provar que houve ingerência russa no processo eleitoral americano. Segundo ele, "o Estado russo nunca interferiu e nunca vai interferir" em eleições de outros países.

O presidente russo defendeu-se ainda dizendo que "é necessário que sejamos guiados por fatos e não rumores", acrescentando que a própria Rússia poderia interrogar estes agentes acusados, caso requisitada pela equipe do procurador Mueller, no marco de um acordo de 1999 que permite a extradição entre os dois países.

"Isto não faz sentido", disse Putin. "Ele (Mueller) pode usar esse tratado. Enviar um pedido oficial para nós, então nós interrogaríamos estes indivíduos que ele acredita serem responsáveis por alguns crimes".

A equipe de Robert Mueller já apresentara em fevereiro mais de 100 acusações criminais contra 32 pessoas e três empresas, incluindo 13 russos que trabalhariam em "fábricas de trolls" (perfis falsos no espaço virtual). Esses russos, usando falsas identidades americanas, teriam orquestrado uma campanha nas redes sociais contra a candidatura de Hillary. Além disso, teriam viajado aos EUA para coletar informações e participado de comícios políticos como se fossem eleitores americanos.

Putin convicente

Trump, do seu lado, disse ter confiança na Inteligência americana e também nas palavras de Putin, cujas negativas de interferência na campanha americana chamou de "firmes e convincentes". O presidente americano voltou a atacar Hillary Clinton, por conta do uso de um computador pessoal para mandar mensagens sobre temas sensíveis na época em que era secretária de Estado de Barack Obama.

"Eu venci Hillary Clinton facilmente e ganhamos aquela disputa. É uma vergonha que possa haver alguma dúvida sobre isso. Não houve nenhum conluio, e isso (as acusações da Inteligência americana) teve um impacto negativo nas relações entre as duas maiores potências nucleares do mundo. É ridículo o que está acontecendo. Eu não conhecia o presidente (Putin) e não havia ninguém de quem ser cúmplice", afirmou.

Perguntado se responsabiliza a Rússia pela deterioração da relação bilateral, Trump respondeu que tanto o país de Putin quanto os Estados Unidos devem ser considerados insensatos por não se engajarem na aproximação mais cedo. Segundo o presidente americano, as relações EUA-Rússia "nunca estiveram pior do que agora, mas isso mudou há cerca de quatro horas" com o início da cúpula, que abriu "novos caminhos para a paz e para o mundo".

"Responsabilizo os dois países. Acho que os EUA foram insensatos, todos nós fomos. Somos todos culpados. Os EUA vão avançar junto com a Rússia. Acho que temos a chance de fazer algumas coisas grandes. Nada seria mais fácil politicamente do que recusar-se a um encontro e a se envolver, mas isso não levaria a nada".

Cooperação na Síria

Os dois presidentes ainda falaram sobre cooperação na Síria, onde o apoio da Rússia ao governo de Bashar al-Assad mudou o equilíbrio de forças na guerra civil de sete anos. Segundo Putin, as forças militares russas e americanas estão trabalhando juntas com sucesso no país, enquanto Trump disse que quer fornecer ajuda humanitária à população. Os EUA mantêm cerca de 2 mil militares no Nordeste da Síria, em apoio a combatentes liderados pelos curdos que combatem o Estado Islâmico.

Segundo Putin, a guerra na Síria poderia ser o "primeiiro exemplo de trabalho conjunto bem-sucedido", embora os países apoiem lados diferentes no conflito.

Putin também elogiou o "empenho pessoal" do presidente americano em relação à Península Coreana, o que resultou na primeira reunião de Trump com o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, embora afirmasse não concordar com todos os temas tratados. O presidente russo afirmou ainda ter feito a Trump propostas "firmes" para o controle de armas atômicas.

"Como potências nucleares, temos especial responsabilidade quanto à segurança internacional", disse Putin.

Israel foi outro assunto abordado na coletiva de imprensa. Trump afirmou que EUA e Rússia vão trabalhar juntos para garantir a segurança do país.

"Nós dois conversamos com Bibi (o premier israelense, Benjamin Netanyahu), e eles querem tomar certas medidas em relação à Síria que têm a ver com a segurança de Israel", afirmou Trump. "A Rússia e os Estados Unidos trabalharão juntos nisso".

O presidente americano também disse ter enfatizado a importância de pressionar o Irã, aliado da Rússia, enquanto Putin apenas reconheceu estar ciente da oposição americana ao tratado nuclear com o pais persa.

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