Copa do Mundo-2018

Croatas superaram guerra antes de feito histórico no Mundial

Finalista na Copa do Mundo, a Croácia tem atletas que superaram terror dos conflitos na antiga Iugoslávia e que agora, junto com torcedores, esperam redenção com título na Rússia

Folhapress

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
Assim como os atletas, torcedores croatas também passaram pelos horrores da guerra
Assim como os atletas, torcedores croatas também passaram pelos horrores da guerra (CROACIA HISTORIA )

MOSCOU - “Somos um povo criado por uma guerra, por isso estamos na final”, dizia quase às 2h15 desta quinta-feira (12) Zlatan Bobic, um altamente inebriado torcedor croata após a histórica semifinal de Copa na qual a seleção de seu país derrotou a Inglaterra por 2 a 1. Para bem e para mal, ele tem razão. O selecionado da Croácia, estreante em finais de Copa e que enfrenta a França no domingo (15), é marcado pela dolorosa secessão do país da antiga Iugoslávia, em 1991.

O reflexo em campo é inevitável - o próprio técnico Zlatko Dalic atribuiu a dedicação em campo a um nacionalismo inoxidável. Pelo menos quatro jogadores vitais do time tiveram suas vidas moldadas pelo conflito, que, de resto, impactou virtualmente a todos os 23 atletas. A estrela do elenco, o meia Luka Modric, do Real Madrid, é um deles. Quando a guerra chegou à área da Dalmácia, no fim de 1991, sua casa foi atacada por milicianos da minoria sérvia da então Croácia iugoslava. Seu avô foi morto, e a casa, incendiada. O então garoto de seis anos passou a próxima meia década morando no Kolovare Hotel, em Zadar, como refugiado.

Mario Mandzukic, autor do gol que pôs a Croácia na inédita final, é outro. Nascido em 1986 em Slavonski Brod, o atacante da Juventus (ITA) via a vizinha Bósnia logo ao lado. Era apenas um país, a Iugoslávia, reformada como república socialista em 1945, após a derrota das forças nazistas.
As tensões, contudo, foram sempre presentes -fascistas croatas empoderados pelo Reich durante a ocupação iniciada em 1941 mataram talvez 600 mil sérvios, e Belgrado dominou o Estado comunista subsequente na região. Quando a carnificina na Bósnia começou em 1992, e a proximidade da fronteira deu o pretexto para o pai do jogador, Mato, mudar para a Alemanha. Estabelecidos como refugiados em Diztingen, perto de Stuttagart, os Mandzukic estimularam Mario a entrar no juniores do time local, onde seu pai, Mato, jogava.

Parecia a vida perfeita, mas em 1996 o governo alemão negou a nova extensão de permanência no país. Mandzukic voltou à Croácia, já livre da guerra, e acabou no Dínamo Zagreb antes de ganhar a Europa. Em 2012, quando jogava no Bayern de Munique, protagonizou polêmica ao fazer uma saudação nazista em campo - explicou depois que celebrava a absolvição de dois generais croatas acusados de crimes de guerra no Tribunal de Haia.

Lovren e Corluka tambm viveram terror

Outro que fugiu da guerra bósnia foi o hoje zagueiro Dejan Lovren, hoje no Liverpool, cuja família emigrou para a Alemanha em 1991, quando ele tinha dois anos. Também com problemas para manter o status de refugiados, os Lovren voltaram para a Croácia em 1998. Croatas étnicos, eles eram originalmente da cidade bósnia de Zenica.

Vedran Corluka, meia da seleção, é um caso semelhante. Croata, atleta hoje do Lokomotiv Moscou, ele nasceu e morou até os seis anos em Modran, na Bósnia. Com o acirramento da guerra, em 1992, mudou para Zagreb, onde acabou por iniciar sua carreira no futebol. De tempos em tempos, os jogadores croatas falam sobre sua experiência. Lovren, por exemplo, defendeu o acolhimento de refugiados da guerra civil síria: "Eles merecem a chance que meus pais tiveram", disse em 2016.

Mais – História da Croácia

Antiga Iugoslávia era formada por seis países e se desintegrou nos anos 1990
1918 - Formação do Reino da Iugoslávia
1941 - Ocupação nazista; Croácia é governada por fascistas que promovem genocídio
1945 - Após resistência comunista sérvia e o fim da guerra, unificação em um Estado socialista
1990 - Com o fim do comunismo, acaba o regime de partido único e começa luta contra domínio sérvio
1991 - Eslovênia se separa após curta guerra
1991 - Macedônia se declara independente, sem guerra
1991 - Croácia declara independência, em guerra que foi até 1995, coalhada de massacres de lado a lado
1992 - Começa a guerra na Bósnia, a mais violenta, com fracasso de mediação da ONU e limpeza étnica de todos os lados
1995 - Fim da guerra da Bósnia, já independente, mas com subdivisão sérvia e muçulmano-croata
1999 - Província albanesa de Kosovo se rebela contra sérvios, e recebe apoio da Otan, virando um protetorado da ONU
2000 - Fim do governo do homem-forte da Sérvia-Montenegro, Slobodan Milosevic
2006 - Montenegro declara independência
2008 - Kosovo declara independência

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.