Cúpula

Líderes da Otan se comprometem com meta de gastos após crítica

Presidente americano sugere investimento de 4% do PIB em defesa, em vez de 2%;No Twitter, o americano voltou a criticar a Alemanha

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
O presidente americano, Donald Trump, pediu a líderes a ampliação de gasto em defesa
O presidente americano, Donald Trump, pediu a líderes a ampliação de gasto em defesa (Donald Trump)


BRUXELAS - Os líderes da Otan - aliança de 29 países - declararam seu "compromisso inabalável" com um acordo sobre metas de gastos com defesa na cúpula de ontem, em Bruxelas, e enfatizaram suas preocupações com as ameaças representadas por Rússia, Irã e Coréia do Norte.

Em um claro aceno às críticas do presidente dos EUA, Donald Trump, de que os parceiros da Otan estavam gastando muito pouco em defesa, a aliança militar disse em uma declaração da cúpula: "Estamos comprometidos em melhorar o equilíbrio de compartilhar os custos e responsabilidades da filiação à aliança".

Na cúpula, Trump pediu que os aliados aumentassem seus gastos em defesa para 4% do produto interno bruto. "O presidente Trump, que falou primeiro, levantou a questão de não apenas atingir 2% hoje, mas [definir] uma nova meta de 4%", disse o presidente da Bulgária, Rumen Radev. A informação foi confirmada pela Casa Branca.

Uma autoridade britância disse à agência Reuters que Trump pressionou os líderes para que os aliados gastem mais com defesa. "Ele certamente disse que queria que mais dinheiro fosse gasto em defesa", disse a repórteres.

Preocupações

Os aliados da Otan também expressaram preocupação com as recentes atividades da Rússia, dizendo que elas reduziram a estabilidade e a segurança, e disseram que "são solidários" com a avaliação britânica de que a Rússia é culpada por um ataque com agentes nervosos na cidade britânica de Salisbury.

Também disseram estar preocupados com os "testes de mísseis intensificados" do Irã, sua gama e precisão. E reiteram seu "total apoio ao objetivo de desnuclearização completa, verificável e irreversível da Península Coreana".

A aliança também concordou em convidar a Macedônia para iniciar as negociações de adesão para se juntar à Otan.

Autoridades próximas à reunião, de governos como Reino Unido e Bulgária, confirmaram a sugestão do americano. "Durante a sua intervenção na cúpula da Otan, sugeriu aos países que não apenas cumpram com o seu compromisso de destinar 2% de seu PIB ao gasto em Defesa, mas que o aumentem para 4%", assinalou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

No Twitter, o americano voltou a criticar a Alemanha por manter projetos comerciais bilionários com a Rússia e exigiu o cumprimento imediato da meta de 2%. "O quão boa é a Otan se a Alemanha está pagando bilhões de dólares por gás e energia? Por que há apenas 5 dos 29 países que alcançaram seu compromisso? Os EUA estão pagando pela proteção da Europa, e então perde bilhões em comércio. Devem pagar 2% do PIB imediatamente, não em 2025", criticou Trump.

Os líderes da Otan declararam seu "comprometimento inabalável" em cumprir metas de gasto em defesa expressaram preocupação quanto a ameaças impostas por Rússia, Irã e Coreia do Norte. Em clara concordância com as críticas do presidente americano de que os parceiros da Otan gastam pouco em defesa e deixam o fardo para os EUA, a aliança militar disse em comunicado: "Estamos comprometidos a aprimorar o equilíbrio do compartilhamento de custos e responsáveis da filiação à aliança", disse a Otan.

Os aliados expressaram preocupação quanto a atividades recentes da Rússia, dizendo que diminuem a estabilidade e segurança. Eles se mostraram solidários à avaliação britânica de que a Rússia é responsável pelo ataque com agente nervoso Novichok na cidade inglesa de Salisbury.

O grupo também chegou ao consenso de convidar a Macedônia para iniciar uma negociação para entrar na aliança.

Tensão na cúpula

Os primeiros momentos da cúpula da Otan foram tensos, como já se esperava. Na manhã desta quarta-feira, Trump criticou a Alemanha, maior economia da zona do euro, ao afirmar que, na sua opinião, é "prisioneira" da Rússia por sua dependência do gás russo.

"A Alemanha está prisioneira da Rússia, porque recebe muito de sua energia", declarou Trump em uma reunião bilateral com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, poucas horas antes do encontro dos 29 líderes da Aliança do Atlântico Norte.

Trump, que após a cúpula da Otan se reunirá com o presidente russo Vladimir Putin em Helsinque, fez referência ao compromisso do governo alemão no gasoduto Nord Stream II.

"Isto não é normal. Eles pagam bilhões de dólares à Rússia e temos que defendê-los contra a Rússia", afirmou o presidente americano, que reiterou as críticas ao gasto militar alemão, que considera insuficiente.

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O presidente da maior potência militar mundial voltou a atacar a Alemanha, "um país rico", que também critica por seu excedente comercial e ameaça, como à UE, impor maiores tarifas a seus veículos. Pouco depois de sua chegada à reunião, a chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o direito de seu país de tomar suas próprias decisões, referindo-se ao que ela mesma vivenciou no passado, quando "uma parte da Alemanha era controlada pela URSS".

"Podemos fazer nossas políticas independentes e tomar decisões independentes", sustentou a líder alemã. "A Alemanha é o segundo maior fornecedor de soldados (à Otan), a maior parte de nossa capacidade militar é oferecida à Otan e, até hoje, temos um forte engajamento no Afeganistão. Com isso, também defendemos os interesses dos Estados Unidos".

Os dois se reuniram em privado mais tarde. Apesar das críticas, mais tarde, em meio à reunião, Trump garantiu que mantém "relações muito boas" com Merkel.

Fardo dos EUA

Donald Trump reforça, assim, suas críticas à primeira economia europeia, em sua mira por seu excedente comercial, por não dedicar o suficiente a seu gasto militar nacional, o principal ponto de divergência entre os Estados Unidos e seus 28 aliados na cúpula.

Com orçamento militar que alcança 3,5% do PIB e cujas contribuições diretas ao orçamento da Otan representam 22% do total, o governo dos Estados Unidos criticou no passado os cortes na área de defesa decididos por seus aliados em plena crise econômica.

Em Gales, em 2014, os membros da Aliança se comprometeram a aproximar seu gasto militar de 2% do PIB nacional para 2024, mas, junto com Washington, apenas sete países europeus devem cumprir essa meta em 2018. A Alemanha deve registrar 1,24%.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, cujo país destina este ano 1,23% de seu PIB à defesa, considerou que "anunciar dinheiro não é tão importante quanto demonstrar resultados" e destacou, na linha de outros países, a participação do Canadá nas missões da Otan — entre elas a do Iraque.

Os membros da Otan pretendem manifestar seu "compromisso inquebrantável" com as metas de gasto acordadas em Gales e apontar que apresentarão "planos nacionais críveis" sobre sua implementação, algo que pode agradar a Washington, segundo declaração vista pela AFP.

A sombra de Putin

O envolvimento de Trump na defesa coletiva dos aliados, princípio fundador da Otan, não está em xeque, e o presidente "voltará a se comprometer" com ela, disse a embaixadora dos EUA na Otan, Kay Bailey Hutchinson.

Apesar de não ser um membro da organização criada em 1949 para contrabalançar a influência da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial, a sombra do presidente russo - a principal ameaça da Otan - vai pairar sobre a reunião.

Na véspera, a União Europeia pediu a Trump, por meio do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que "valorize" seus aliados e lembre, em sua cúpula com Putin, "quem é seu inimigo estratégico" e "quem é seu problema estratégico".

A anexação em 2014 da península ucraniana da Crimeia por parte da Rússia significou um momento-chave para a Otan e para os europeus. A Aliança adotou a meta de 2%, um compromisso cumprido especialmente pelos vizinhos bálticos da Rússia. Diante do "ameaçador" vizinho do leste, os 29 líderes da Otan devem apoiar na cúpula seu plano "30-30-30-30". Nele, até 2020, a Otan espera conseguir mobilizar, em 30 dias, 30 batalhões, 30 esquadrões aéreos e 30 navios de guerra.


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