Editorial

O boato e seus estragos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

Bastou o Brasil ser eliminado pela competente seleção da Bélgica na última sexta-feira, 6, pelas Quartas de Final do Mundial na Rússia, para surgirem os mais diferente boatos sobre as causas que levaram a seleção canarinha de volta para casa.

A exemplo do que ocorreu há quatro anos, quando o Brasil perdeu para a então todo-poderosa seleção alemã, no Mineirão, os boatos estão aí nas redes sociais - sem a checagem do conteúdo e disseminados no quase incontrolável ambiente virtual.

Mas os boatos sobre as eliminações do Brasil em Copas não surgiram tão recentemente. Basta a frase: “Se as pessoas soubessem o que aconteceu em Kazan, ficariam enojadas!” já é motivo de milhões de especulações. E uma das mais conhecidas - lembrada atualmente com a derrota do Brasil na Rússia - se refere à eliminação da Seleção Brasileira para a França, em 1998, de acordo com a versão do e-mail recebido pelo “jornalista” Gunther Schweitetze.

Segundo ele, tudo não passou de um mal entendido quando a teoria conspiratória ganhou uma nova versão após a derrota do Brasil por 7 x 1 para a Alemanha.

“Não sou o autor de nenhum desses e-mails. Eles foram parar no meu nome por um lapso meu. Quando eu trabalhava na antiga Volkswagen Caminhões, em Resende, recebi um e-mail sobre a Copa de 1998. Aí fui repassar aos meus amigos, e tive a infelicidade de trabalhar com o outlook com a minha assinatura e acabou indo com o meu nome quando repassei”, afirmou.

“Daí em diante algum ser que não sei quem foi resolveu me ‘dar um up’ de analista de produção de PPCP, que era meu cargo na Volks, para repórter da Globo. Com esse nome imponente que tenho, claro que os brasileiros em suas concepções leigas acharam que era tudo verdade, daí isso vem se alastrando desde então até os dias de hoje. E a coisa só muda de figura a cada Copa do Mundo ou algo relacionado à Fifa. Até o Mundial do Corinthians“, completou.

E agora, como não poderia deixar de ser, o texto voltou requentado para as interpretações malucas e compartilhadas ao bel prazer. Bastou a infelicidade do toque de braço do volante Fernandinho desviar a bola para o gol brasileiro e o potente chute de Kevin de Bruyne marcar para a Bélgica que as especulações começaram, com cifras milionárias, nomes de pessoas envolvidas na “ transação” e patrocínios, finalizando com a tradicional frase: “ E os jogadores não aceitaram (vender a derrota), mas ficaram abatidos com a proposta a ponto de tomar os gols”. Fecha o pano!

Não é sem razão que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a proximidade das eleições, informou se sentir desafiado a combater notícias falsas, conforme noticiou em seu portal. Entre as motivações para a inciativa, está um estudo da Associação dos Especialistas em Políticas Públicas do Estado de São Paulo (AEPPSP), que ranqueara os 10 sites que mais divulgavam as chamadas fake news no Brasil.

O estudo na verdade era, em si, uma notícia falsa, desmentida pela própria associação, tendo sido originada em um mero post no Facebook, sem nenhum respaldo científico. Dois dias depois de publicar a informação, o TSE se viu obrigado a corrigi-la. Além de irônico, o episódio ilustra os desafios enfrentados pela Justiça Eleitoral em tentar prevenir que as fake news influam no resultado das urnas.

Em recente palestra sobre o assunto, o atual presidente do TSE, ministro Luiz Fux, disse que, “se o resultado de uma eleição qualquer for fruto de uma fake news difundida de forma massiva e influente no resultado, [o Código Eleitoral] prevê inclusive a anulação”.

Para o advogado Marcellus Ferreira Pinto, especializado em direito eleitoral, “não existe no Brasil um conceito jurídico que possa ser utilizado na definição do que é fake news. Isso dificulta o combate a esse tipo de prática”, avaliou. Pelo que vê, as notícias falsas estão sendo tratadas como coisa séria.

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