Mudanças

López Obrador debaterá migração e segurança com chanceler americano

Futuro presidente do México promete renegociar Nafta e melhorar segurança;López Obrador anunciou que cortará o seu próximo salário para receber menos da metade do que recebe Peña Nieto

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

MÉXICO - Eleito à Presidência mexicana por ampla margem no domingo, 1º, Andrés Manuel López Obrador anunciou ontem que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, visitará o México para uma reunião prevista para 13 de julho. O futuro chefe de Estado também promete começar as renegociações do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, junto a EUA e Canadá, em revisão a pedido do presidente americano, Donald Trump) assim que for oficialmente nomeado presidente-eleito. Ele se encontrou nesta tarde com o atual presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, para discutirem juntos a transição de governo até a sua posse, prevista para 1º de dezembro.

A reunião deste mês, também já confirmada pelo Departamento de Estado americano, acontecerá entre Pompeo, Peña Nieto, López Obrador e o chanceler mexicano, Luis Videgaray. Tratará de comércio, imigração, segurança e cooperação para o desenvolvimento. Uma das maiores dúvidas em torno da vitória de AMLO, como é popularmente conhecido López Obrador, diz respeito à sua relação com Trump e, sobretudo, como dois modelos tão antagônicos conviverão dos dois lados do Rio Bravo, em temas vitais como as negociações para renovar o Nafta e as recentes restrições na política migratória da Casa Branca.

A renegociação do acordo comercial tem sido motivo de estremecimento diplomático desde o ano passado. As atuais negociações do Nafta começaram no ano passado depois que Trump pediu que o acordo fosse revisado para beneficiar mais os interesses de Washington. O presidente americano tem sido abertamente contrário ao México em questões comerciais e de imigração desde sua própria campanha presidencial. Por sua vez, López Obrador tem sido claro sobre a sua vontade de que o México permaneça no Nafta.

"Iremos trabalhar juntos na renegociação do Nafta, mantendo a equipe atual, mas também com meus próprios especialistas. Ouvi falar que o time atual não fez um trabalho ruim", afirmou a jornalistas após a reunião. "Ninguém precisa se preocupar, mas meu governo irá trazer mudanças radicais ao México".

Trump e AMLO conversaram por telefone ao longo de cerca de 30 minutos após a vitória do mexicano nas urnas. Os dois falaram sobre segurança na fronteira entre os dois países, e o republicano disse que acredita que López Obrador pode ajudar os Estados Unidos na questão migratória, que tem sido forte motivo de críticas contra Trump devido à sua política de tolerância zero com imigrantes sem documentos.

" Vamos estender nossa mão franca e, repito, de cooperação com os Estados Unidos", sustentou AMLO, na segunda-feira,2.

Políticos mexicanos têm dito há muito tempo que o México não irá pagar pelo muro proposto por Trump, que ele diz ser necessário para impedir a entrada de imigrantes ilegais e de drogas. López Obrador, por sua vez, já disse que quer tornar o México mais independente economicamente dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, ele espera convencer Trump a ajudar a desenvolver o México e a América Central para conter a imigração ilegal. Ele também disse que irá buscar um diálogo franco e relações amigáveis com os Estados Unidos. No início de 2017, no entanto, AMLO publicou um livro de provocações chamado "Oye, Trump" ("Escute, Trump!") e o chamou de "errático e arrogante".

Trump nunca teve uma boa relação com o atual presidente mexicano, Enrique Peña Nieto. Os dois divulgaram versões diferentes da reunião que tiveram, quando o republicano ainda era candidato. Trump afirmou, logo após sua posse, que se o mexicano não assumisse os custos da construção do muro fronteriço que quer fazer — e que ainda não começou — era melhor que Peña Nieto “nem viesse” a Washington. E o mexicano cancelou sua viagem. Ambos se encontraram algumas vezes às margens de eventos multilaterais, como o G20.

Corte no salário

Após se encontrar com Peña Nieto, López Obrador anunciou que cortará o seu próximo salário para receber menos da metade do que recebe Peña Nieto e que não morará no Palácio Presidencial. E adiantou que se reunirá com empresários na quarta-feira. Um dia antes, já buscara acalmar os mercados financeiros, assegurando que manterá a responsabilidade fiscal sem abusar da maioria obtida no Legislativo.

"Não vou levitar, estarei sempre com os pés no chão", disse ele à Televisa, quando perguntado se teria poder absoluto com maioria no Congresso. "Não sou um ditador, sou um democrata. Nós vamos construir uma democracia autêntica, não uma ditadura".

López Obrador triunfou com promessas de sacudir o status quo acabando com a corrupção, a violência do crime organizado e a desigualdade que atormentam o México há décadas. É considerado o presidente eleito mais esquerdista desde que Lázaro Cárdenas governou entre 1934 e 1940, implementando uma reforma agrária e nacionalizando as indústrias petroleira e ferroviária. Assim como Cárdenas, AMLO pretende ajudar agricultores pobres com subsídios e povos indígenas do México, ainda que tenha dito que não vai expropriar a propriedade privada, manterá disciplina fiscal e respeitará a autonomia do Banco Central.

No entanto, insistiu em sua promessa de revisar contratos milionários do setor energético por suspeitas de corrupção, algo que inquietou os mercados. Ele assegurou que, se encontrar anomalias, o governo agirá "sempre através da via legal".

"No entanto, ainda é preciso construir um plano claro e inclusive reunir uma equipe completa durante o período de transição de cinco meses, que provavelmente será desorganizado e volátil", avaliou a consultora Eurasia em nota a clientes, na qual advertiu que será complicado conciliar os planos de maior gasto social com as medidas de austeridade.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.