Restrições

UE deve estender sanções contra Rússia por seis meses

Aplicação de medidas acontece a quatro anos, por conta de crise na Ucrânia; premiê da Itália, Conte defendeu o fim das sanções

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

MOSCOU - A União Europeia (UE) deve estender por mais seis meses os efeitos das sanções impostas à Rússia há quatro anos, consequência da crise da Ucrânia — que teve seu ápice na anexação da Crimeia pelos russos em 2014. A decisão, que é revista a cada semestre, deve ser anunciada na semana que vem. Mas, desta vez, é motivo de desconforto entre alguns governos. Acredita-se que uma janela de oportunidade para o fim das restrições pode se abrir no médio prazo. O movimento que está sendo costurado por governos populistas, mais simpáticos ao Kremlin, começa a ganhar adeptos.

Os países se questionam sobre a eficácia das restrições e comparam com o peso que têm tido sobre as suas economias. Oficialmente, o discurso é o de que ainda não chegou o momento. Mas diplomatas afirmam que, nos bastidores da política internacional, os europeus esperam um gesto significativo do governo de Vladimir Putin para poderem discutir o assunto. Já não se conta mais com a possibilidade da devolução da Crimeia aos ucranianos. A expectativa é a de um recuo russo na Síria, onde apoia o regime do presidente Bashar Al-Assad, e um esforço firme de paz na fronteira ucraniana, onde mais de 10 mil já morreram em conflitos.

"Resta saber até que ponto o Kremlin está disposto a mostrar flexibilidade. É preciso discutir os termos deste primeiro passo que se espera da Rússia. E ele não será fácil. Ninguém vai aceitar negociar, nem russos, nem europeus, se não puderem assegurar para os seus públicos internos que se trata de um compromisso que faça a diferença", disse o especialista do Centro Carnegie, Andrei Kolesnikov.

O novo primeiro-ministro da Itália, Guiseppe Conte, defendeu o fim das sanções, como já haviam feito líderes da Hungria e Estônia, considerados mais próximos de Moscou. Em visita à Áustria no início do mês, Putin voltou a dizer que as restrições prejudicam a todos, e que são políticas. Em entrevista a um jornal austríaco, o vice-chanceler do país, Heinz-Christian Strache, também deu mostras de simpatia à causa russa, dizendo que era hora de acabar com as "sanções exasperantes" e normalizar as relações.

Apoio à sanções

Aos poucos, as sanções parecem começar a perder apoio até mesmo dos EUA que vinham comandando a cruzada contra a Rússia, ainda mais depois de suposta interferência dos russos nas eleições americanas que elegeram Trump. O republicano disse há alguns dias que "queiram vocês gostem, ou não, temos um mundo para discutir e deveríamos ter a Rússia na mesa de negociação". Ele se referia ao fato de os russos não fazerem mais parte do G8, desde a sua expulsão em 2014, por conta interferência russa na Ucrânia. O comentário ganhou apoio do primeiro-ministro italiano, que, por meio de seu Twitter concordou que isto "seria do interesse de todos". Em 2017, o presidente da República Tcheca afirmara que a anexação da Crimeia deveria ser considerado um "fait accompli", ou caso encerrado.

Observadores afirmam que os ucranianos, que defendem a manutenção das sanções e acusam os russos de não cumprirem a sua parte, têm perdido credibilidade entre os europeus. Kiev não estaria promovendo as reformas profundas com as quais se comprometera para a retomada da economia e o combate à corrupção. O Fundo Monetário Internacional (FMI) ainda não liberou a quarta parcela do empréstimo prometido ao país exatamente por este motivo.

Os europeus também querem que Kiev cumpra a sua parte no protocolo de Minsk, assinado entre Ucrânia e Rússia ainda em 2015, para promover o cessar-fogo na região dos conflitos. Os dois países não estariam respeitando o acordo.

O estranhamento entre Rússia e Ocidente favorece os ucranianos que adiam o processo de reformas. Para diplomatas, a China, que não se envolve na questão, tem firmado negócios bilionários com os russos, sobretudo na área de energia, um dos seus focos, já que os europeus estão impedidos de participar em novas operações do setor financeiro e energético em função das sanções.

Quem acompanha os desdobramentos deste imbróglio que acaba de entrar no seu quinto ano, sabe que ainda há muita negociação pela frente. Mas já vê alguma luz no fim do túnel. Os russos ganharam pontos com os europeus desde que o presidente americano Donald Trump deu início a uma guerra comercial contra o resto do mundo. O Kremlin voltou a ser percebido como um parceiro comercial confiável e joga do lado dos europeus na queda de braço contra os preços do aço.

Não se sabe qual será o próximo passo de Putin, que, recentemente, fez novo afago à Europa ao dizer que é do interesse do seu país uma UE unida. Por via das dúvidas, o Banco da Rússia, o banco central do país, adotou uma postura conservadora: trabalha com um cenário de sanções mantidas até 2022.

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