Alemanha

Merkel tenta salvar governo após ministro aliado anunciar renúncia

Crise envolvendo linha-dura na imigração pode derrubar coalizão que governa Alemanha; os lados tentam chegar a um consenso em meio à queda de braço sobre o fechamento das fronteiras a qualquer imigrante previamente registrado em um outro país europeu

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
Hotst Seehofer chega para reunião emergencial entre CSU e CDU, em Berlim
Hotst Seehofer chega para reunião emergencial entre CSU e CDU, em Berlim (Ministro da Alemanha)


BERLIM - Com o governo de Angela Merkel praticamente paralisado para lidar com a crise deflagrada pela anunciada renúncia de Horst Seehofer - ministro do Interior e maior ponto de atrito à líder da coalizão que governa a Alemanha —, a chanceler federal negociou ontem evitar uma ruptura no pacto com os conservadores bávaros que sustentam sua maioria parlamentar.

Em uma série de reuniões entre a União Democrata Cristã (CDU) de Merkel e a União Social Cristã (CSU, bávara), liderada por Seehofer, os lados tentam chegar a um consenso em meio à queda de braço sobre o fechamento das fronteiras a qualquer imigrante previamente registrado em um outro país europeu.

Seehofer vem endurecendo abertamente com Merkel desde que a chanceler decidiu, em 2015, abrir a Alemanha a centenas de milhares de solicitantes de asilo. O bávaro, que é linha-dura em imigração e prometeu começar a barrar a entrada de imigrantes à força (contrariando a chanceler), escalou o atrito com ela.

Horas após uma reunião da cúpula da CSU, Seehofer anunciou no domingo que renunciaria ao cargo e à presidência de seu partido. Depois suspendeu sua decisão para participar de uma nova rodada de negociações com Merkel — que, por sua vez, teme um efeito dominó na Europa e o fim da livre circulação.

"Eu disse que colocaria os dois cargos à disposição e que executaria essa decisão nos próximos três dias", declarou Seehofer. "Não me deixarei ser descartado por uma chanceler que só é chanceler por minha causa".

Pacto

O impasse torna ainda mais frágil a nova coalizão de Merkel formada em março - que após delicadas negociações reuniu a direita bávara, os democrata-cristãos da CDU e os social-democratas do SPD. A aliança CDU-CSU, formada em 1949, vive ainda seu momento mais delicado desde então. Uma eventual saída dos conservadores bávaros deve deixar o governo, formado há quatro meses, por um fio.

Ontem, a dirigente social-democrata Andrea Nahles acusou o campo conservador, em geral, "de irresponsabilidade", e a CSU, em particular, de "delírio de ego". Merkel, por sua vez, considera ter respondido às demandas de seu ministro. Ela já endureceu de forma considerável sua linha migratória em dez anos, e negociou numa cúpula de líderes europeus na semana passada "medidas mais do que equivalentes", segundo ela, às desejadas por Seehofer — que incluem plataformas de recepção prévia de imigrantes em busca de asilo e um acordo que só permite que países recebam refugiados de maneira voluntária.

Pesquisas mostram que os alemães não aprovam a via do conflito escolhida pelo ministro. Segundo uma enquete do instituto Frosa para a RTL publicada hoje, 67% dos entrevistados consideram "irresponsável" a posição dos conservadores bávaros.

"Ninguém quer pôr o governo em xeque", declarou o chefe do Executivo da Bavária, Markus Söder, admitindo que, "sinceramente, Horst nos surpreendeu" com sua ameaça de demissão.

Merkel sai no mínimo enfraquecida da crise. No pior dos cenários, poderá se encontrar perto da saída, menos de um ano depois de sua vitória nas legislativas — seu governo passaria a ficar em minoria em caso de uma saída da CSU, e ela teria de governar com acordos pontuais ou até propor uma moção de confiança, uma aposta que poderia levar a novas eleições.

Após quase 13 anos no poder, a chanceler é abertamente contestada em seu governo e em seu grupo político, combatida na Europa, em especial pelos vizinhos do Leste Europeu e pela Áustria, e em conflito com o presidente americano, Donald Trump, em uma série de temas.

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