Estado do Samba

Samba na veia, na alma e no coração

A partir deste fim de semana, estaremos trazendo entretenimento, informação, história, os bastidores e entrevistas com os nomes do Samba, no Maranhão e no Brasil

João Marcus

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

A partir deste fim de semana, estaremos trazendo entretenimento, informação, história, os bastidores e entrevistas com os nomes do Samba, no Maranhão e no Brasil.

“Estado do Samba” chegou para agitar ainda mais, este, que é “o movimento da verdadeira cultura popular brasileira”. Hoje, trazendo um dos mais conceituados nomes do samba, o pesquisador, compositor e intérprete, Neto Peperi:

Sabemos que há uma discussão, quanto ao nascimento do samba. Uns afirmam que nasceu no momento do registro de letra e partitura, na Biblioteca Nacional em 1916, já outros, que surgiu quando registrado fonograficamente, em 1917, no Rio de Janeiro. Onde e quando nasceu o “Samba”?

Na verdade, por ser um simbolismo, temos a liberdade de comemorar nos dois momentos, mas, se levarmos em consideração os chamados batuques que originaram esse movimento cultural que ai está, podemos acreditar que nasceu a pelo menos 300 anos, analisando, a partir do momento em que a região sudeste considera o “Jongo” o avô do samba, e, aqui no Maranhão, o “Tambor de Crioula” e o “Tambor de Mina”, que na realidade, forjaram o samba maranhense. Claro que hoje a influência maior vem do eixo Rio/São Paulo, até Minas Gerais, que acaba convergindo pro Rio. O grande compositor e historiador, Josias Sobrinho, me chamou a atenção, inclusive, para o “Boi de Zabumba”, que contém um refogado de samba e o abraça com seu compasso e tempo.

Se tem registros desse movimento nascendo aqui no maranhão na mesma época que na região sudeste?

Tem sim... por exemplo, vou falar de Edson Carneiro, um dos maiores pesquisadores da cultura popular brasileira, que cita em seus registros, o Maranhão como estando, onde ele chama, de Zona Brasileira do Samba. Se tem registros em jornais, no idos de 1800, de batuqueiros sendo presos por fazerem batucadas nas ruas de São Luís, até então, proibidas. Não podemos deixar de falar do Poeta e escritor maranhense, Catulo da Paixão Cearense, já estabelecido no Rio de Janeiro, que compôs um samba bem antes de “Pelo Telefone”, por volta de 1913, e que junto com o pernambucano, João Pernambuco, era responsável por um forte movimento musical, influenciando inclusive Noel Rosa. Recentemente, o jornalista e escritor Lira Neto, lançou o primeiro livro, que fará parte da “Trilogia da história do samba”, onde cita o “Tambor de Crioula” como samba.

Não podemos esquecer que tudo veio da África. O homem nasceu na Etiópia, portanto, não se deve discutir onde nasceu o samba, se na Bahia, Maranhão ou Rio. O Samba é filho do continente africano, nascido genuinamente Brasileiro.

Como você usa esses elementos em sua musicalidade, pra executar o samba?

Durante algum tempo, toquei em um boi de orquestra que fazia parte de um projeto social da igreja católica Menino Jesus de Praga, na Cohama, e, ali comecei a compor boi de orquestra, pois, até então, minha vivência era somente no samba. Foi quando encontrei o grande músico Roberto Ricci, que comentou minha composição como um belo samba. Ali percebi o quanto uma coisa influencia a outra, como elas se interligam. Sou capaz de dizer que é mais fácil o boi ter influenciado o samba, do que o contrário. Me lembro, ainda pequeno, na casa de meu avô, quando o “Boi de Axixá” ficava hospedado para suas apresentações e passavam o dia inteiro tocando samba com os instrumentos de Bumba Boi, inclusive usando o banjo tenor e não esse banjo cavaquinho que usamos hoje. No começo do século passado, no Maranhão nasceu a “Turma da Mangueira”, com uma galera que fazia batucada embaixo de uma Mangueira, no João Paulo, de onde saiam para a praia do caju, que ficava em frente aonde é hoje a Praça Maria Aragão, se encontrando com a amigos da Madre Deus e do Desterro.

Se formos denominar algo de Raiz, podemos falar do Bloco Tradicional, que foi criado e só existe aqui no Maranhão.

Onde estas fazendo samba hoje?

Pois é, estamos fazendo um Samba muito gostoso, de mesa e de raiz, resgatando o “Espinha de Bacalhau”, que durante muitos anos mostrou o samba em sua plenitude. Eu, Vilmar Oliveira, Cassiano Sobrinho, Laurindo Teixeira e João Eudes, todas as quartas, a partir das 21h, no Eitza Louge Bar, na Lagoa.


É muito arriscado afirmar a origem ou data de nascimento do samba, se na Bahia, se no Rio após a chegada dos baianos que passaram a reproduzir os batuques do Recôncavo, na capital federal, se no Maranhão ou mesmo se entre os índios em Pernambuco. Afinal de contas o Samba não nasceu por decreto, ele é originado a partir de várias e ricas manifestações culturais, é fruto de um caldeirão de múltiplos ingredientes. Em suma, se existe um elemento impuro no sentido de quem o originou, esse é o Samba.. Porque não dizer que o samba nasce a cada momento, a cada descoberta, a cada poesia nascida do sofrimento ou do amor. Tento ser fiel ao Samba de Raiz, mas, quem sou eu para me isolar e definir a sua pureza, diante de tanta mistura, rica, do nosso pais.

Até o próximo “Estado Do Samba” e não deixe de nos acompanhar e vê essa entrevista com música boa nas plataformas de “ O Estado”.

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