Influência

Especialista em bariátrica critica incentivo a má alimentação

Referência mundial em cirurgia bariátrica, o médico Cid Pitombo condena influenciadores digitais que estão estimulando comportamentos prejudiciais à saúde; recomenda que pais evitem o acesso de seus filhos a estes conteúdos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
Influência negativa pode levar crianças à obesidade
Influência negativa pode levar crianças à obesidade (alimentos)

São Paulo - Influenciadores digitais foram parar no centro de uma polêmica envolvendo pais, crianças, adolescentes, imprensa e agora médicos. Referência mundial no tratamento da obesidade, o médico brasileiro Cid Pitombo viu chegar em casa o efeito da disseminação de conteúdos que incentivam a infância a consumir doces e industrializados desenfreadamente. Pai de três, o cirurgião que cuidou dos atores André Marques e Leandro Hassum sentiu na pele o efeito desse tipo de influência, e publicou na sua página nas redes sociais um desabafo, que serve de orientação para pais e responsáveis.

"Eu tenho filhos pequenos, que assistem a esses vídeos de youtubers famosos. É uma moda. Mas esse tipo de alimentação proposta por essas pessoas tem sido um dano muito grande nas nossas famílias. Meu filho, por exemplo, que nunca teve acesso a chocolate e até então não gostava desse tipo de alimento; vez ou outra pede para consumir uma marca específica de achocolatado que é muito divulgada por esses youtubers. Todo esforço que fazemos de evitar que tenha chocolate em casa, evitar o biscoito recheado, o refrigerante e a bala - que são alimentos de baixíssimo nível nutricional e extremamente calóricos - a gente sofre guerra do outro lado de pessoas que ficam propondo má alimentação através da internet", disse Pitombo.

A Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderia chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. O excesso de peso pode provocar o surgimento de vários problemas, como diabetes, problemas cardíacos e a má formação do esqueleto. E um sinal de alerta para a necessidade de prevenção imediata: oito em cada dez adolescentes continuam obesos na fase adulta.

"Apesar de ser cirurgião bariátrico, sou o maior apoiador da prevenção, talvez por saber exatamente das graves consequências dessa doença. Já operei em diversos países do mundo e no Brasil desenvolvo ampla pesquisa sobre o tema. Visito escolas, creches e empresas tentando entender onde estamos errando O relato das crianças coloca o hábito alimentar da casa, bem como o tipo de oferta alimentar feita pelos familiares, como o grande "vilão" dessa doença. Vocês pais tem que tomar cada vez mais cuidado no acesso das crianças a esse tipo de conteúdo que reforça o mau hábito alimentar.", destaca Pitombo.

SAIBA MAIS

Desde 2010, quando a equipe de Cid Pitombo criou o Programa de Cirurgia Bariátrica no Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio de Janeiro, foram operados mais de 2.200 pacientes moradores de todas as regiões do estado do Rio de Janeiro. A média de atendimentos ambulatoriais está sendo mantida em 2 mil/mês e a taxa de sucesso é de 99%. A equipe do Programa é multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. A cirurgia não é o objetivo principal e sim a qualidade de vida e a mudança de hábitos.
Estudo feito pela equipe de Pitombo apontou que a vida sexual e financeira dos ex-gordinhos só melhorou após a cirurgia. Cerca de 40% dos pacientes afirmaram que a vida sexual passou de ruim para muito boa. Outros 14% disseram que a vida entre quatro paredes passou de boa para muito boa. Os novos magrinhos também relataram aumento de mais de 30% na renda familiar.
Pioneiro neste tipo de tratamento, o Programa já tratava jovens pacientes dois anos antes da divulgação de portaria do Ministério da Saúde, permitindo a realização da redução de estômago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para pacientes a partir dos 16 anos. O objetivo principal é focar no atendimento especializado e preventivo, ou seja, a redução do peso com dietas. O motivo da opção prioritária pela não intervenção cirúrgica de imediato está relacionado aos eventuais danos psicológicos em pessoas tão jovens.

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