Bairro da Liberdade

Liberdade e suas facetas: tradição na cultura e berço de gente honesta

Bairro é conhecido por seus diferentes grupos de bumba-meu-boi, tambor de crioula e amantes de reggae; gente guerreira e honesta faz a localidade

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

Conhecida por seus diferentes grupos de bumba-boi, tambor de crioula e seus fãs de reggae, a Liberdade possui facetas e curiosidades que a fazem ser um bairro único e que respeita as tradições de um local centenário. Uma gente honesta e guerreira faz o bairro se mover em prol do trabalho. Um povo motivado em superar os problemas sociais e fazer um bairro a cada dia melhor.

O Estado escolheu, entre tantas pessoas do bairro, uma apenas para simbolizar todo o exemplo de luta e perseverança do lugar. Com 105 anos - logo, mais velha do que a própria Liberdade -, Eugênia Rosa Ferreira nasceu na Baixada e veio ainda criança, com a família, tentar a sorte na capital. Ela completará mais um ano de vida no próximo dia 2 e relembra histórias do bairro. “Ah, quando eu cheguei aqui era só água. Não tinha quase casa...”, rememorou.

Dona de uma memória invejável, dona Eugênia - que lembra a data, por exemplo, em que a mãe faleceu (no dia 31 de maio de 1942) - descreve um bairro tranquilo, que se movia a partir do Matadouro Modelo (cujo prédio atualmente recebe a escola municipal Mário Andreazza). “Aqui tudo era voltado para o Matadouro. Muita gente trabalhava ali”, disse.

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Ela, que ajudou a mãe em serviços domésticos durante boa parte da vida, definiu a vida antiga na Liberdade como difícil. “A gente sempre tinha de trabalhar muito para ganhar nosso pão aqui. Como em todo lugar, na verdade”, disse.

Uma das brincadeiras lembradas por ela quando era mais jovem era “bater nos amigos”, mas - segundo ela - de um jeito carinhoso. “Eu dava porrada era mesmo [risos]”, disse. Ao falar do bairro, dona Eugênia se emociona. “Eu estou muito feliz por ter saúde de estar aqui até hoje”, disse.

Dona Eugênia - que teve quatro filhos e tem três tataranetos, sendo um de 11 anos - se espanta ao saber que é mais velha do que o bairro. “É? Parece que estou velha mesmo”, disse. Além do bom humor, dona Eugênia (admiradora da Festa do Divino Espírito Santo) disse qual o segredo da vitalidade. “Comer coisa natural e de vez em quando tomar uma garrafa de vinho”, afirmou.

Os cajueiros de dona Celita
Outra moradora antiga do bairro e que ama residir na Liberdade é Célia Maria Marques, de 78 anos, conhecida como Celita. Nascida em São João Batista (MA), ela lembra dos cajueiros plantados no antigo terreno do Matadouro e que cercavam as primeiras casas da Liberdade.

“Eu adorava aquela paisagem! Andava com meus amigos pelo bairro e sempre me lembrei daquelas árvores”, disse. Ela também se declara para a Liberdade. “Eu não tenho a menor vontade de sair daqui. Pelo contrário, faço o convite para quem quiser mo­rar aqui”, disse.



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Liberdade é tradição cultural afro e popular maranhense

Por ser uma localidade em que a maior parte das pessoas é originária de comunidades rurais e de quilombos da Baixada Maranhense, a Liberdade é conhecida por sua tradição em manifestações tipicamente populares da cidade, como bumba-boi e o tambor de crioula. Atualmente, de acordo com pesquisadores, o bairro possui registrados aproximadamente 100 grupos ligados às tradições de ritmo e dança do estado. De acordo com pesquisadores, do total da população da Liberdade, mais de 90% do contingente seria negro.

Entre as mais famosas estão o Boi do Mestre Leonardo e o Boi da Floresta, de Mestre Apolônio. Fundado no fim da década de 1950, o Boi de Leonardo possui aproximadamente 150 brincantes, que participam, nos mais diferentes pontos de cultura, das comemorações de São João no Maranhão.

Já o Boi da Floresta nasceu em 1972, como um grupo que se inspirou na manifestação de Mestre Leonardo. Além do Boi da Floresta, Mestre Apolônio foi um dos fundadores do Boi de Pindaré, ao lado de Coxinho. Trata-se, de acordo com especialistas da cultura, de um dos grupos mais representativos da Baixada Maranhense no estado.

Canto Bob Marley
O bairro da Liberdade também é conhecido por sua tradição na cultura regueira. A rua Inglês de Souza, famosa no bairro, foi renomeada há alguns anos e atualmente é conhecida como Rua do Reggae, ou Canto Bob Marley, em referência ao cantor jamaicano.

SAIBA MAIS

Tradição em terreiros
O bairro da Liberdade também é conhecido por seus terreiros. Entre os principais, está a Casa Ilê Ashé Ogum Sogbô, fundado em 1987 na rua Tomé de Sousa. Atualmente, o terreiro funciona na rua da Ajuda, antiga rua Nossa Senhora das Graças. Vários representantes do bairro possuem afinidade com as religiões afro.

Festa do Divino na Liberdade
O bairro também é conhecido por sua tradição em diferentes cultos. A Festa do Divino Espírito Santo de Benedita, como é popularmente conhecido o festejo no bairro da Liberdade, é uma das mais antigas de São Luís e ainda ocorre.


Curiosidades da Liberdade

O dia em que um boi matou uma mulher
Se a passagem dos bois era tratada, na maior parte do tempo, como uma “festa” por crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos, houve um dia em que a passagem da manada foi motivo de tristeza. Sem saber a data exata, seu Olegário de Carvalho, de 73 anos, e que mora na Liberdade desde os seis anos de idade, jura que – quando era mais jovem – viu um boi matar uma mulher. “Na verdade, os bois começaram a descer do trem e foi aquela correria. Uma mulher, uma senhora já de idade, se apavorou e correu. O boi afoito e assustado foi para cima dela e sentou em cima dela. Ainda a levaram para o hospital, mas não teve jeito”, disse.

Primeiras vias
Assim que foi oficializada como Liberdade, o bairro começou a se desenvolver. Foi neste período que começaram a surgir as primeiras vias, como Correia de Araújo, Alberto de Oliveira, Gregório de Matos, Luiz Guimarães, Inglês de Souza, Alberto de Lima, dentre outras. “Na verdade, o bairro da Liberdade é um dos poucos da cidade que nasceu de forma planejada, com ruas feitas sob medida e casas construídas em tamanho proporcional”, frisou Seu Olegário de Carvalho Gama, outro morador antigo do bairro.

“Bairros” dentro da Liberdade
Floresta, Japão, Alto do Bode, Alto da Carneira, Baixinha, Brasília do Matadouro e Camboa são algumas das comunidades incorporadas pela Liberdade.

Iziane
Iziane Castro Marques, nasceu e morou na Liberdade até os 15 anos de idade. Começou jogando basquete nas escolinhas do Colégio Batista e foi destaque da seleção brasileira, sendo comparadas com grandes nomes do esporte, como Hortência.

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