Consequências

Transtornos: alta do combustível compromete abastecimento em SL

Efeitos estão sendo sentidos no Ceasa, com falta de produtos e em postos de combustíveis da capital, onde já falta combustível; usuários de ônibus começam a sentir as consequências a partir de hoje, com a frota reduzida em 50%

Monalisa Benavenuto e Daniel Júnior / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

[e-s001]São Luís amanhece nesta sexta-feira com a frota de ônibus reduzida em 50%, o que gera transtornos aos usuários. A situação acontece devido ao aumento no preço dos combustíveis, que tem acarretado prejuízos em vários setores. Caso não haja uma redução, há possibilidade de mais redução na frota de coletivos na capital. Além dos ônibus, já faltam tomate, cebola, batata e pimentão no Centro de Abastecimento de Hortifrutigranjeiros (Ceasa) de São Luís, localizado na Avenida Jerônimo de Alburquerque, no Cohafuma, por causa da manifestação dos caminhoneiros nas estradas do país. A população tem dificuldade também para abastecer veículos, pois já há pouco combustível nos postos da cidade.

Os usuários do sistema de transporte de passageiros de São Luís deverão enfrentar transtornos hoje, devido à redução em 50% da frota de coletivos, em razão da greve dos caminhoneiros, que ocorre pelo quinto dia em todo o país.

O superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte (SET), Luiz Cláudio Siqueira, disse ontem que a redução da frota foi a alternativa encontrada pelas empresas, que já estão operando com o nível de estoque de combustível reduzido.

“As empresas lamentam que isso venha a ocorrer, tendo em vista que os usuários do sistema vão enfrentar sérios transtornos para se locomover devido ao número insuficiente de ônibus”, disse.

Siqueira admite que a frota de coletivos poderá ser reduzida ainda mais, caso a mobilização dos caminhoneiros não seja encerrada. “Em várias capitais do país as empresas já estão sendo afetadas e sendo obrigadas a retirar os ônibus de
circulação”, afirmou.

Ele disse ainda que o SET se manifesta contra a alta de preços dos combustíveis, que causa o desiquilíbrio financeiro das empresas de ônibus, e contra o monopólio da Petrobras.

Alimentos
Os caminhoneiros estão bloqueando diversos trechos do estado desde segunda-feira, 21, protestando contra o aumento no preço do óleo diesel. Até ontem, 14 pontos das rodovias do Maranhão haviam sido interditados, e os protestos já afetavam diversos setores da economia, principalmente o alimentício.

No Ceasa, vendedores atacadistas, varejistas e consumidores já estão sentindo o reflexo dos protestos, com os principais produtos de consumo diário em falta. De acordo com o presidente da Cooperativa de Hortifrútis do Maranhão, Milton Gadelha, a situação é preocupante. “Desde terça-feira não entra quase nada dos produtos de alto consumo, que no caso são batata, cebola, tomate, pimentão, essas coisas. Nós temos muitos caminhões parados, presos, que não entraram nem no Maranhão, ainda. Então, isso realmente está afetando a nossa cooperativa e logicamente os consumidores”, relatou.

Segundo ele, grande parte dos produtos revendidos no Ceasa é oriunda de outros estados. Por isso, muitos boxes estão vazios. “90% dos produtos consumidos no Maranhão, vêm de fora, do Sudeste, ou do Centro-Oeste, ou da Serra do Tianguá [CE], e alguns de Juazeiro e Petrolina. E é exatamente esse pessoal que está mais organizado no fechamento das estradas. Todos os comerciantes estão prejudicados. Se você prestar atenção, não tem um caminhão na porta”, ressaltou.

Além da falta de produtos, que já acontece, a preocupação é com o estado em que as mercadorias que estão paradas chegarão aos vendedores. “Como os produtos são perecíveis, ninguém sabe como é que vão chegar aqui, na sexta-feira”, informou Gadelha.

[e-s001]Segundo o presidente do Ceasa, os produtores não devem mandar novas cargas, por medo de que as manifestações continuem nas estradas e mais produtos fiquem presos no caminho. A preocupação é que o estoque esteja esgotado no sábado, caso os produtos não cheguem até esta sexta-feira.

“A grande preocupação é a feira de sábado, porque hoje já está tendo problema, de alguns produtos faltando. Então, isso vai acarretar um problema grande”, alertou.

Nos dias 16 e 17 deste mês, 76 caminhões descarregaram no Centro de Abastecimento. Nesta semana, até ontem, apenas 26 caminhões conseguiram chegar ao local. A maioria oriunda do Pará, que faz o trajeto pelo ferry-boat, vindo por Pinheiro.
Cristiano Macedo, proprietário de um box atacadista de verduras, teme ficar sem produtos nos próximos dias. Ele aguardava a chegada de seis carradas de mercadorias, mas até ontem nenhuma havia chegado. Além do desabastecimento, o empresário ressaltou que consumidores não estão procurando os estabelecimentos.

“Aqui é onde vem todo mundo comprar para vender nos seus mercadinhos, nas suas cidades, e ninguém veio, por medo de não ter a mercadoria. Aí, não vende nem estoque velho nem novo. O que ainda tenho, se não for vendido hoje, vai ser jogado fora amanhã, porque não teve cliente. Se não entrar caminhão, não vai ter mais nada de frutas e verduras na cidade”, relatou.

Para o feirante Arcelino Sousa, proprietário de uma banca no Ceasa há 26 anos, a manifestação tem prejudicado as vendas. Produtos estão em falta. O preço aumentou e a clientela diminuiu, mas o vendedor entende as razões dos manifestantes.
“Eles tomam de conta da estrada se manifestando e o consumidor vai pagar o preço mais caro. Já tem muitos produtos faltando e outros subiram de preço. O Governo não resolve, e o preço do combustível está muito alto mesmo. Então, eles tem razão de fazer isso”, apontou.

De acordo com Arcelino Santos, as mercadorias estão sendo repassadas com valor elevado e os vendedores varejistas precisam passar a diferença para os consumidores. Segundo ele, “O tomate e a batata estavam de R$ 3,00. Agora, de
R$ 4,00, R$ 5,00”.

O consumidor final sente os efeitos dos protestos, mas precisa da mercadoria. Jeiciane de Oliveira faz compras semanalmente no Centro de Abastecimento e, após os bloqueios, teve dificuldade em encontrar produtos em bom estado e preço.

“Estou sem opção de compra, porque o que tem, além de caro, não presta. A diferença de preço é quase o dobro. Hoje eu estou levando mesmo, só para não faltar tomate, que é o principal”, relatou.

Combustíveis
Os reflexos dos protestos são observado ainda em outros setores, como o de combustíveis. Ontem, alguns postos já apresentavam as bombas vazias na Ponta d’Areia, Renascença e São Francisco.

Em um posto, na Ponta d’Areia, as bombas estão sem funcionar desde a noite de quarta-feira, 23, conforme informou a gerente Carmelita Vieira.

“Estamos desde ontem [quarta-feira] sem combustível e nenhuma previsão de retorno. Somente quando eles acabarem a greve é que deve ser normalizado. Como não tem nenhum acordo até o momento, temos que aguardar”, frisou.
Todos os combustíveis vendidos no local foram esgotados assim que os protestos se intensificaram, de acordo com a gerente. “Ontem, quando estava passando nos jornais, sobre a greve, os clientes correram para o posto e secaram tudo”.

Segundo Carmelita Vieira, os prejuízos são incalculáveis, até o momento. “A gente ainda não parou para calcular. Normalmente, são vendidos 15 mil litros de combustível por dia. Por aí, já dá para ter ideia. Além de não vender, ainda temos as despesas com os funcionários que vêm para o trabalho normalmente, com todos os encargos”, ressaltou a gerente.

Quem procura o posto é recepcionado pelos funcionários, que informam a escassez do produto. Um consumidor, que preferiu não ser identificado, lamentou a situação, mas apoia as reivindicações.

“Está complicado, atrapalhando o país, mas eu acho que é justa essa reclamação, porque está muito caro o preço do combustível. Em outros países é baixo, e é aqui que a gente produz petróleo. Pagamos o preço da roubalheira no Brasil”, afirmou.

Por causa da falta de combustível em alguns postos, outro ficaram lotados no fim da tarde de ontem. Condutores ficaram com temerosos de desabastecimento e lotaram postos que ainda tinham o produto.

Caminhoneiros
Em entrevista na manhã de ontem, 24, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, afirmou que as manifestações dos motoristas autônomos seriam suspensas no período da tarde, desde que o projeto que prevê zerar, até o fim de 2018, o PIS-Cofins que incide sobre o óleo diesel, fosse aprovado pelo Senado, mas não houve acordo.

[e-s001]Motoristas do Uber fazem manifestação

Em razão do aumento no preço de combustíveis, motoristas do aplicativo Uber realizaram uma manifestação durante a tarde de ontem, em São Luís. Os condutores desse tipo de transporte se reuniram em um posto na Ponta d’Areia e saíram em carreata pelas avenidas da capital. O fluxo de veículos ficou congestionado.

“A finalidade do nosso ato é conscientizar as pessoas sobre esse alto valor dos combustíveis, que está um absurdo. A nossa gasolina é vendida aí fora muito mais barata do que estamos pagando hoje. Em vários postos aqui da capital maranhense, o litro da gasolina já está a R$ 4,80, quase R$ 5,00. E aqui no Posto São Marcos, onde a maioria dos motoristas do aplicativo Uber abastece, está faltando gasolina desde quarta-feira à tarde”, revelou Wellington Sall, representante dos motoristas de aplicativos particulares de São Luís.

Devido ao reajuste no valor do óleo diesel, caminhoneiros já fazem paralisação há cinco dias. Trechos de estradas federais no Maranhão estão interditados e, com isso, diversos setores de serviços essenciais aos maranhenses já começam a sentir os reflexos. Já existem postos de combustíveis sem o produto, por exemplo.

“Não podemos ficar omisso diante de uma situação tão complicada que está o nosso país. Não compensa oferecer o serviço, se a gasolina está sendo comercializada em um preço muito elevado”, acrescentou Sall a O Estado.

Alguns motoristas do Uber deixaram de circular ontem na capital maranhense. “Não rodei hoje porque a viagem mais barata custa R$ 6,75. Temos de pagar uma porcentagem ao Uber e o que resta não satisfaz nem para comprar a gasolina que gastamos”, explicou Marcos Carvalho, que trabalha como motorista do Uber há sete meses.

SAIBA MAIS

Diesel
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (ANP), o preço médio do diesel nas bombas já acumula alta de 8% no ano. O valor está acima da inflação acumulada no ano, de 0,92%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Gasolina teve 12 altas só neste mês
A Petrobras adota novo formato na política de ajuste de preços desde 3 de julho do ano passado. Pela nova metodologia, os reajustes acontecem com maior frequência, inclusive diariamente, refletindo as variações do petróleo e derivados no mercado internacional, e também do dólar. Somente na semana passada, foram 5 reajustes diários seguidos.
Desde julho de 2017, o preço da gasolina nas refinarias acumula alta de 54,51% e, o do diesel, de 55,09%, segundo o Valor Online. Em maio, já foram anunciadas 10 altas e 6 quedas no preço do diesel e 12 altas e 3 quedas no da gasolina.
Após o início das manifestações já foram registradas variações entre R$ 2,10 e R$ 10,00 em postos do país.

Petrobras
Na noite de quarta-feira, 23, a Petrobras anunciou congelamento do preço do diesel por 15 dias e um desconto de 10% nos preços nas refinarias, na tentativa de chegar a um acordo para pôr um fim à greve.

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