Eleições

EUA impõem novas sanções econômicas à Venezuela

Medida executiva que, segundo a Reuters, foi assinada por Donald Trump ontem, impede que cidadãos dos EUA negociem títulos da dívida venezuelana; Maduro obteve 6,1 milhões de votos; pleito foi marcado por denúncias de fraude

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Nicolás Maduro foi reeleito na Venezuela sob denúncias de fraude e abstenção recorde
Nicolás Maduro foi reeleito na Venezuela sob denúncias de fraude e abstenção recorde (Nicolás Maduro foi reeleito na Venezuela sob denúncias de fraude e abstenção recorde)

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos Donald Trump assinou, ontem, uma ordem executiva banindo o envolvimento de cidadãos norte-americanos em negociações de títulos da dívida da Venezuela e de outros ativos.

A medida foi confirmada a jornalistas por um membro sênior da administração da Casa Branca, segundo informou a agência de notícias Reuters.

"A ordem executiva de hoje [ontem] fecha mais uma avenida de corrupção que observando que está sendo usada: ela impede que oficiais venezuelanos corruptos possam valorizar indevidamente e vender bens públicos em troca de propinas", disse a autoridade da Casa Branca aos repórteres. A medida vale para bens relacionados ao petróleo e a outras áreas do governo da Venezuela.

A confirmação foi feita depois que o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, anunciou em seu perfil no Twitter que o país não ficaria "de braços cruzados". Na publicação, ele classificou as eleições venezuelanas como "uma farsa".

Pressão norte-americana

Os Estados Unidos, que desde março 2015 veem a Venezuela como uma "ameaça à segurança nacional", já aplicaram uma série de medidas contra dezenas de funcionários e ex-funcionários venezuelanos, inclusive Maduro e outras autoridades, acusando-os de corrupção e tráfico de drogas.

Na sexta-feira,18, ampliando a pressão que começou em agosto passado, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já havia sancionado o poderoso líder venezuelano Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unido (PSUV) e um dos políticos mais influentes do país, assim como sua esposa Marleny Contreras e o empresário Rafael Alfredo Sarria, segundo informou a agência France Presse (AFP). Com a sanção a Cabello, não há quase nenhum importante líder venezuelano fora da mira do governo Trump.

De acordo com o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac, na sigla em inglês) do Tesouro, no início de maio a lista de sanções a venezuelanos chegou a 62 pessoas e 15 entidades.

Washington, que compra um terço do petróleo venezuelano, proibiu entidades americanas de negociarem dívidas públicas do país ou de sua petroleira estatal PDVSA e de comercializar com petro, a criptomoeda lançada por Caracas. A Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, está atolada na pior crise econômica de sua história.

Condenação internacional

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enfrentou ontem uma nova onda de condenação internacional depois de ter sido reeleito na votação deste domingo, marcada por denúncias de fraude, boicote da oposição e alta abstenção. Os EUA, por meio do vice Mike Pence, classificaram o resultado de "farsa". Segundo uma fonte da Casa Branca, o presidente Donald Trump também impôs, nessa segunda, novas sanções à Venezuela.

Além do governo norte-americano, outros países, como Brasil, Chile, Colômbia, Panamá, Espanha e Argentina já emitiram comunicados afirmando que não reconhecem o resultado das eleições. Por outro lado, Rússia, Bolívia, Cuba e Irã reconheceram a reeleição de Maduro.

Nicolás Maduro obteve 6,1 milhões de votos na eleição, segundo boletim divulgado ontem pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), 20,5 milhões de venezuelanos estavam convocados a participar do pleito, e o índice de abstenção ficou em 53,98%, o que significa uma das participações mais baixas da história venezuelana.

A vice-presidente do CNE, Sandra Oblitas, informou que o Maduro teve 6.190.612 votos, enquanto o adversário mais próximo, o ex-governador Henri Falcón, conseguiu 1.917.036. O levantamento de ontem define o índice de participação em 9.132.655, ligeiramente superior aos 8.603.936 votos anunciados domingo.

O ex-pastor evangélico Javier Bertucci obteve 988.761 votos e o engenheiro Reinaldo Quijada, 36.246, o terceiro e quarto lugares das eleições, denunciadas como "fraude" pela principal coalizão opositora e por boa parte da comunidade internacional.

Antes da realização das eleições, Estados Unidos, Canadá, União Europeia (UE) e vários países latino-americanos já haviam afirmardo que a eleição não é justa, nem transparente, e acusaram Maduro de sufocar a democracia. Os EUA anteciparam há um mês que não reconheceriam o resultado do pleito.

Estados Unidos

O vice-presidente dos EUA , Mike Pence, escreveu no Twitter criticando a disputa eleitoral venezuelana: "A eleição da Venezuela foi uma farsa. A América se mantém contra a ditadura e com o povo da Venezuela pedindo eleições livres e justas. O presidente tomou medidas firmes em relação à Venezuela e há mais por vir… Os EUA não ficarão de braços cruzados enquanto a Venezuela se desfaz".

Grupo de Lima

O grupo declarou que não reconhece a legitimidade das eleições e que irá convocar seus embaixadores em Caracas para expressar protesto. O Grupo de Lima é formado por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia.

Seu comunicado informa ainda que os países reiteram sua preocupação com a situação na Venezuela e vão submeter uma resolução sobre isso à assembleia da Organização dos Estados Americanos (OEA) .

"[Os países] não reconhecem a legitimidade do processo eleitoral que teve lugar na República Bolivariana da Venezuela, concluído em 20 de maio passado, por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente", diz a nota.

"Reiteram sua preocupação com o aprofundamento da crise política, econômica, social e humanitária que deteriorou a vida na Venezuela, o que se reflete na migração em massa de venezuelanos que chegam a nossos países em condições difíceis, na perda de instituições democráticas, do estado de direito e na falta de garantias e liberdades políticas dos cidadãos", afirma também.

A nota ainda diz que o Grupo irá discutir apoio e cooperação para questões de imigração e saúde. Uma reunião sobre imigração e refúgio de venezuelanos deve ser realizada no Peru em julho.

Brasil

O Ministério das Relações Exteriores afirmou por meio de nota oficialque a eleição presidencial na Venezuela não teve "legitimidade" nem "credibilidade". Na nota, o Itamaraty disse que o governo venezuelano não atendeu as reivindicações internacionais para uma eleição "livre e justa".

"Nas condições em que ocorreu - com numerosos presos políticos, partidos e lideranças políticas inabilitados, sem observação internacional independente e em contexto de absoluta falta de separação entre os poderes - o pleito do dia 20 de maio careceu de legitimidade e credibilidade", afirmou o Itamaraty.

Chile

Pouco antes do anúncio da vitória de Maduro, o presidente chileno Sebastián Piñera tuitou: "As eleições na Venezuela não cumprem com os padrões mínimos de uma verdadeira democracia. Não são eleições limpas e legítimas e não representam a vontade livre e soberana do povo venezuelano. O Chile, como a maioria dos países democráticos, não reconhece estas eleições".

Panamá

"O governo da República do Panamá não reconhece os resultados das eleições celebradas neste domingo, 20 de maio, na República Bolivariana da Venezuela, por não considerar o processo como democrático nem participativo", diz o post do governo no Twitter.

Espanha

"No processo eleitoral da Venezuela não foram respeitados os mínimos padrões democráticos. A Espanha estudará, junto com seus sócios europeus, as medidas oportunas e seguirá trabalhando para diminuir o sofrimento dos venezuelanos", disse o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, pelo Twitter.

Colômbia

De acordo com a agência de notícias EFE, a ministra de Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín, afirmou ontem que o governo colombiano não reconhece a vitória de Maduro porque considera que não houve "garantias", como já havia antecipado o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.

"O governo colombiano havia reiterado em numerosas ocasiões que não reconheceria estas eleições que aconteceram ontem por falta de garantias, por não serem transparentes, por não terem observação internacional", afirmou María Ángela.

Reino Unido

Também segundo a EFE, o ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou nesta segunda que as eleições celebradas neste domingo na Venezuela não foram "nem livres nem justas". De acordo com ele, "há uma necessidade urgente de restaurar a ordem democrática, liberar os prisioneiros políticos e respeitar a Assembleia Nacional e a oposição política".

Ele afirmou, ainda, que o país tem preocupação pela crise humanitária e econômica na Venezuela, que, na sua opinião, piora a cada dia. "Estou decepcionado, mas não surpreso, pelo fato de que Maduro seguiu adiante com uma eleição com profundos defeitos, para assegurar sua própria sobrevivência", afirmou Johnson em um comunicado.

Rússia parabeniza

O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Maduro por meio de um telegrama. "O presidente russo desejou boa saúde a Nicolas Maduro e sucesso na solução dos desafios sociais e econômicos que o país enfrenta", disse o Kremlin em um comunicado.

Um responsável da chancelaria russa acusou os EUA e outros países ocidentais intervieram nas eleições na Venezuela, segundo a agência "Interfax".

"Infelizmente temos que constatar que nestas eleições, além dos dois participantes tradicionais, isto é, o povo venezuelano, os eleitores, por um lado, e por outro os candidatos que apresentaram seus programas... houve um terceiro participante, os governos que chamaram abertamente a boicotar as votações", afirmou Alexander Schetinin, diretor do Departamento da América Latina do Ministério de Relações Exteriores.

"É ainda pior quando uma série de governos, incluído o que o senhor está nomeando (os Estados Unidos), a priori declararam que não iriam reconhecer os resultados", afirmou a um grupo de jornalistas. "As eleições foram realizadas. Os seus resultados já têm um caráter irreversível: dois terços dos votos foram para o atual presidente do país, Nicolás Maduro", acrescentou.

Bolívia

"O povo venezuelano soberano, triunfou novamente ante o golpismo e intervencionismo do império norte-americano. Os povos livres jamais se submeterão. Parabéns ao irmão Nicolás Maduro e ao bravo povo da Venezuela", tuitou o presidente boliviano Evo Morales.

Cuba

O chanceler de Cuba, Jorge Arreaza, divulgou uma nota do presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, Raúl Castro, em que afirma: "Estimado Nicolás, te envio as mais fraternais felicitações por sua contundente vitória nas eleições presidenciais deste domingo. O povo bolivariano e chavista demonstrou mais uma vez sua determinação de defender o legado de Chávez, que representa tão dignamente. Nos novos desafios, terá, como sempre, a solidariedade de Cuba".

Irã

O porta-voz de Relações Exteriores do Irã, Bahram Qasemi, parabenizou Maduro em comunicado por sua reeleição, além do governo e da nação venezuelana por terem realizado "com sucesso" as eleições presidenciais de domingo.

"Realizar as eleições presidenciais apesar da pressão interna e das ameaças e sanções estrangeiras é uma grande vitória e uma conquista para a democracia na Venezuela", ressaltou Qasemi. Também afirmou que o Irã espera que "os Estados estrangeiros respeitem a escolha do povo venezuelano (...) e apoiem a estabilidade política e o desenvolvimento econômico no país".

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.