Comportamento

Especialistas discutem os desafios da adoção no cenário atual em SL

Os psicólogos Luíz Schettini e Suzana Schettini falaram sobre dificuldades, paradigmas e sobre o quanto a sociedade maranhense precisa melhorar os índices de adoção no estado

Igor Linhares / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Especialistas  tratam dos desafios  da doção na capital
Especialistas tratam dos desafios da doção na capital (especialistas)

Neste mês, celebra-se o Dia Nacional da Adoção, e várias ações estão acontecendo em todo o país. Em São Luís, foi realizado na sexta-feira, 18, um evento promovido pelo grupo de apoio e adoção AME, no auditório do Sebrae, no bairro Jaracati, que propôs apresentar um painel que retrata o atual cenário de Desafios de Adoção na Atualidade.

O evento contou com a participação do psicólogo, teólogo, filósofo, conferencista e escritor Luíz Schettini Filho, autor de mais de 24 livros na área da psicologia da educação e relações interpessoais. E com a participação de Suzana Sofia Moeller Schettini, mestre em psicologia clínica, psicoterapeuta, especialista em adoção e ex-presidente da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD).

Em entrevista a O Estado, os psicólogos e especialistas em adoção ressaltaram a importância e a necessidade que cada uma das crianças, que estão em abrigos e orfanatos, têm de possuir e fazer parte de uma família.
Mais de 45 mil crianças ocupam vaga, atualmente, em instituições em todo o país. E 8.500 destas estão prontas para serem adotadas e para adotarem um lar e uma família. Infelizmente, de acordo com Suzanna Schettini, há muitos fatores sociais envolvidos no processo de adoção.

“Há um despreparo da sociedade para aceitação de adoção fora do perfil normalmente desejado. Existem crenças sociais de que a criança tem de ser adotada pequena, porque sendo pequena você educa mais fácil e educa melhor”, declarou a psicóloga. “A sociedade precisa conscientizar-se de que é possível adotar e também educar crianças maiores e de mais idade, irmãos, crianças de cor e crianças deficientes”.

A maioria dos pretendentes (à adoção), é de pessoas que não puderam gerar e querem adotar um filho pequeno, de 0 a 6 meses, o que é considerado normal pelos especialistas, pois se trata de um desejo natural. “Não se pode convencer o pretendente a mudar o perfil da criança que ele deseja adotar. Por isso é importante que os pretendentes passem a frequentar os grupos de apoio e passem a tomar conhecimento da realidade”, frisou a psicóloga, em vista da quantidade de crianças que perdem a chance de poder fazer parte de um círculo afetivo familiar.

Suzanna Schettini não hesitou dizer que, caso os pretendentes passassem a frequentar grupos de apoio à adoção, mais adoções fora de perfil aconteceriam, pois, com maior conhecimento sobre a questão, crianças maiores passam a ter chance, mais irmãos passam a ter a oportunidade de crescer juntos na mesma família, porque o grupo apoia e dá suporte às famílias no pós-adoção.

Conquistas
Há duas décadas a situação e a questão da adoção vêm mudando em vários âmbitos em todo o território nacional. As conquistas vão desde a criação da literatura que trata do assunto, que pouco existia e pouco se debatia em ambiente acadêmico e socioeducativo. A população mais jovem começou a se interessar, pesquisar e se empenhar em trabalhos voluntários, assim como a mídia, hoje, aborda o tema em profusão, além da legislação, que também se modificou para facilitar o processo burocrático.

Atualmente, cerca de 180 grupos trabalham juntos na mesma direção tentando dissipar o preconceito, mostrando para a sociedade a naturalização da família adotiva, abrindo espaço para beneficiar as crianças que estão aguardando nas instituições.

Literatura
O psicólogo e escritor Luíz Schettini milita há 40 anos nas questões que tratam o processo de adoção. Durante sua profissão, publicou 24 livros e, oito destes, tratam, especialmente, das questões de adoção, pois, de acordo com ele, houve a necessidade de um criar um material que pudesse estar sendo consultado e servisse de orientação para pais adotivos e pretendentes à adoção, já que, trabalhando com a psicologia clínica, muitos de seus pacientes são famílias adotivas e filhos adotados.

“A parentalidade é construída em cima do vínculo afetivo. A convivência é uma conquista e depende das circunstância que depende das pessoas e da forma como se acolhe as pessoas”, frisou o escritor, que disse, ainda, que há problemas com filhos adotivos da mesma forma que há problemas com filhos biológicos e que tudo se resolve conforme é a convivência e o acolhimento entre o filho adotivo e a família que o adotou, considerando que o mínimo importante é o perfil da criança. “Filho não se escolhe, se acolhe. E acolher é profundamente afetivo”.

No Maranhão
Apenas duas comarcas no Maranhão têm varas únicas e exclusivas para adoção, uma em São Luís e a outra em Imperatriz. Em São Luís, assim como em todo o estado, há apenas um Grupo de Apoio à Adoção, o AME, que ainda não é reconhecido pela vara da infância da capital, embora, legislativamente, é essencial que haja um acompanhamento efetivo por parte do grupo de apoio aos pretendentes, para que se tenha melhor conhecimento sobre a adoção.

O evento em São Luís, que culminou em uma palestra sobre os desafios da adoção na atualidade, teve por objetivo chamar atenção da Ilha e de todo o estado para reflexão diante da questão, atraindo o olhar da sociedade para o assunto de extrema carência, em termos efetivos da cultura de adoção no Maranhão, e congrega as ações que acontecem em todo o país, com intuito de dar repercussão ao dia 25 de maio, quando é comemorado o Dia Nacional da Adoção, sancionado em 2002 sob a Lei n° 10.447.

SAIBA MAIs

Sobre o AME – Grupo de Apoio à Adoção

É uma organização sem fins lucrativos que trabalha pela promoção do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes e pelo fortalecimento da cultura da adoção no Maranhão. A ONG reúne voluntários que atuam no apoio a processos de adoção, na preparação de adotantes, no acompanhamento de pais adotivos, no pós-adoção e na conscientização da sociedade sobre a legitimidade da família adotiva.

Linhas de ação

- atendimento a comunidade sobre processos de adoção, por meio de telefone e reuniões presenciais
- encontros periódicos que tratam de adoção, apadrinhamento e preparação para adotantes
- atividades formativas para a comunidade
- ações de apoio à instituições de acolhimento como realização de eventos para crianças e adolescentes
- atendimento psicológico para crianças e adolescentes
- orientação jurídica relacionadas a processos de adoção
- divulgação da cultura de adoção por meio de palestras

Saiba mais

Como adotar?

Em São Luís, procurar a 1° Vara da Infância e da Juventude, localizada no Fórum, com o objetivo de cadastrar-se para a adoção. O processo de habilitação é feito em três etapas:

1° ETAPA: Providenciar lista de documentos, que serão entregues posteriormente na Secretaria Judicial da Vara;
2° ETAPA: Passar por avaliação social e psicológica na Divisão Psicossocial;
3° ETAPA: Participar do Curso Preparatório à Adoção para pretendentes.

Cumpridas as etapas, os pretendentes aptos serão incluídos no Cadastro Nacional de Adoção podendo adotar em qualquer lugar do país.

Quem pode adotar?

Pessoas maiores de 18 anos, solteiras, casadas, separadas, viúvas, em união estável, padrastos e madrastas, desde que sejam 16 anos mais velhos do que a criança ou adolescente. Tios e tias podem adotar. Avós e irmãos da criança não podem adotar, mas podem pedir a Guarda ou Tutela da criança ou adolescente na Vara da Família.

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