Crise econômica

Eleição ameaça agravar o êxodo dos venezuelanos

Muitos acreditam que se o presidente Nicolás Maduro for reeleito, a tendência é os problemas socioeconômicos se aprofundarem com a continuidade do modelo econômico atual

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

CARACAS - A eleição presidencial acontece neste domingo, 20, na Venezuela ameaça agravar o êxodo de venezuelanos, consequência da pior crise econômica da história do país. Cifras mostram que um milhão já deixaram a Venezuela desde 2015, quando teve início a escassez de alimentos e remédios. Se o presidente Nicolás Maduro for reeleito, a tendência é os problemas socioeconômicos se aprofundarem com a continuidade do modelo econômico atual. Nos últimos dias, ocorreram diversos protestos nas ruas de Caracas. Os manifestantes denunciam a possibilidade de fraude no pleito.

Segundo o Organização Internacional para Migrações (OIM), das Nações Unidas, desde 2015 ao menos 924.438 mil de venezuelanos migraram para outros países. Em 2015, o total de venezuelanos vivendo fora da Venezuela era de 697.562. Dois anos depois, esse número atingiu 1,622 milhão. Os principais destinos dos que deixam o país sul-americano são Estados Unidos, Espanha e Colômbia. Esta última nos últimos dois anos recebeu mais de 550 mil venezuelanos.

Os vizinhos Brasil e Equador também viram o fluxo de imigrantes venezuelanos crescer, especialmente no último ano. Em 2016, eram 5.523 venezuelanos vivendo no Brasil, número que foi para 35 mil no ano passado. O Equador, por sua vez, passou de 23.719 imigrantes venezuelanos, em 2016, para 39.519 em 2017. "Esse não é um movimento migratório qualquer, mas sim uma migração forçada", afirma Carlos Patiño, da Provea, ONG de direitos humanos de Caracas. "Estamos diante de uma 'emergência humanitária complexa', uma crise de saúde, alimentação e pobreza que não é causada por um conflito bélico ou desastres naturais, mas por razões políticas e más políticas públicas.

O governo Maduro se tornou uma fábrica de pobreza." Pesquisa Nacional de Condições de Vida da População Venezuelana (Encovi, na sigla em espanhol), da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), mostra que 48,4% dos venezuelanos eram pobres em 2014. Três anos depois, a taxa de pobreza aumentou para 87%. Em 2014, 23,6% das famílias venezuelanas que viviam em condições de pobreza extrema. Hoje são 61,2.

A situação econômica deve piorar neste ano, com inflação anual na casa de 14.000% e contração de 15% do PIB, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ligia Bolívar, do centro de direitos humanos da Ucab, observa que a Venezuela passou de um país tradicionalmente receptor de imigrantes para um exportador.

"Sempre trabalhamos monitorando condições de vida de colombianos, equatorianos e haitianos que chegavam aqui. De uns anos para cá, deixamos de receber essa demanda e vimos que o fluxo migratório estava se invertendo", diz. Ela afirma que, nos últimos três anos, 1,5 milhão decidiram viver em outro país, o que representa um "problema em termos de mão-de-obra".

A primeira onda migratória, diz, ocorreu antes mesmo de a crise econômica se intensificar, quando investidores e empresários deixaram a Venezuela para investir em países como EUA, Colômbia ou Panamá, há cinco anos. "Em 2014 tem início uma segunda onda, com médicos, pesquisadores e professores universitários que deixam o país. De 2016 para cá, passaram a ir embora também venezuelanos sem formação profissional, que trabalham em setores como serviço", diz.

Claudia Vargas, professora da Universidade Simón Bolívar, afirma que o número de venezuelanos que deixaram o país pela crise pode chegar a 3,5 milhões, sendo 70% na faixa etária entre 18 anos e 45 anos de idade. O número difere do da OIM porque leva em conta venezuelanos com dupla nacionalidade que decidiram sair da Venezuela e outros que não possuem documentos.

"Com um salário mínimo que vale um centésimo do que custa a cesta básica, aqueles que podem se vão", diz. O salário mínimo hoje na Venezuela é de 1 milhão de bolívares - equivalente a US$ 36,2 no câmbio oficial, mas só US$ 3,48 no paralelo. Com o vale-refeição, o total fica em 2,55 milhões de bolívares. A cesta básica neste mês custa cerca de 100 milhões de bolívares. "A eleição pode agudizar ainda mais o êxodo venezuelano. E é por isso que os países da região estão preocupados com o que vai acontecer no domingo", conclui Patiño.

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