Catástrofe

Centenas de feridos lotam os precários hospitais em Gaza

ONU alerta para falta de medicamentos básicos, como antibióticos, no enclave sob bloqueio de Israel contra o território governado pelo Hamas; é grande número de feridos pela violência nos protestos dos últimos dias

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Palestino ferido repousa em cama no corredor de hospital da Cidade de Gaza
Palestino ferido repousa em cama no corredor de hospital da Cidade de Gaza (Palestino ferido repousa em cama no corredor de hospital da Cidade de Gaza)



CIDADE DE GAZA - Na Faixa de Gaza, enclave palestino onde a provisão de cuidados médicos já é tradicionalmente precária, o grande número de feridos pela violência nos protestos dos últimos dias sobrecarrega os hospitais locais. Na capital, em apenas um hospital foram recebidas pelos médicos mais de 500 pessoas, das quais mais de 90% haviam sido baleadas. A situação preocupa especialistas em direitos humanos da ONU, que alertam para a falta de medicamentos básicos, como antibióticos e adrenalina, em consequência do bloqueio imposto há mais de dez anos por Israel contra o território governado pelo Hamas.

Há semanas protestando na fronteira com Israel, os palestinos lembraram na terça-feira,15, a Nakba (a "Catástrofe"), que constituiu o dia seguinte à criação de Israel, quando milhares de palestinos foram forçados a abandonarem seus lares em 1948. Ontem, 60 pessoas foram mortas na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, entre elas um bebê de oito meses que inalou gás lacrimogêneo em um acampamento de manifestantes. Mais de 2.700 pessoas ficaram feridas.Outros episódios de violência na segunda-feira ocorreram enquanto os Estados Unidos inauguravam sua nova embaixada em Jerusalém, o que coincidiu com o aniversário de 70 da fundação de Israel.

Ayman Sahbani, o diretor do Hospital Shifa, o mais importante na Cidade de Gaza, disse que 192 feridos precisavam ser submetidos a cirurgias, das quais 120 eram ortopédicas. Mas, até a metade de terça-feira, apenas 40 operações deste tipo haviam sido concluídas, por falta de condições hospitalares para realizar mais procedimentos. Outros 80 pacientes estavam na fila de espera. A maioria dos feridos estava em condições preocupantes, incluindo 185 em estado muito grave e 25 em estado crítico. Faltam sangue, medicamentos básicos e material cirúrgico, segundo reportagem do "El País"

"Chegam ao setor de atendimento emergencial um número de feridos 25 vezes superior à nossa capacidade habitual", disse Sahbani ao jornal espanhol, relatando que alguns médicos já estavam sem dormir por mais de 24 horas.

Um destes pacientes era Ibrahim Ruhmi, cujas duas pernas tinham curativos. Ele foi atingido por um tiro na perna direita, enquanto a esquerda tinha ferimentos. Do lado de fora do quarto, a sua mãe chorava sentada em uma cadeira, enquanto a sua irmã a consolava.

"O que estão esperando? Que a perna tenha que ser amputada amanhã?, gritou a irmã de Ruhmi, num momento de frustração, aos funcionários do hospital.

O enviado especial da ONU à região, Nickolay Mladenov, disse na terça-feira ao Conselho de Segurança que os hospitais da Faixa de Gaza haviam informado que passavam por uma crise de recursos médicos essenciais, de medicamentos e de equipes para fornecer atendimento a todos os feridos.

"Não há justificativa para a chacina, não há desculpa", disse Mladenov, acrescentando que Israel tem a responsabilidade de calibrar o uso da força contra os manifestantes na fronteira com o seu território e, ao mesmo tempo, 6indicando. "As mensagens do Hamas mostram a intenção de usar os protestos multitudinários para se infiltrar em Israel e atacar os israelenses".

Os soldados israelenses têm usado munição real contra quem se aproxima ou tenta cruzar a cerca fronteiriça. O Exército também disparou gás lacrimogêneo em reação ao lançamento de pedras. Uma densa nuvem de fumaça podia ser vista sobre a região, depois que pneus foram incendiados por palestinos. No total, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 107 palestinos foram mortos e 11 mil ficaram feridos, dos quais 3.500 por tiros, em sete semanas de protestos.

Sem medicamentos

Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que dois em cada cinco medicamentos já se esgotaram completamente em maio no enclave. E remédios essenciais para doenças graves, como o câncer, também estão em crítica escassez. Nesta quarta-feira, dois caminhões do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) chegaram à Faixa de Gaza, carregados de remédios, antibióticos, solução salina e seringas uficientes para tratar 70 mil pessoas. Segundo o braço da ONU, mais de mil crianças ficaram feridas pela violência em Gaza, e muitas precisaram sofrer amputações.

A população da Faixa de Gaza vive em condições muito precárias, e apenas 13% da terra são aráveis. O isolamento do enclave, que perdura desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle, devastou a sua economia, enquanto os serviços são gravemente escassos. Segundo o Banco Mundial, apenas 10% da população têm acesso a água potável para consumo. Segundo o Escritório de Representação do Brasil na Palestina, lá vivem cerca de 30 cidadãos brasileiros.

Nos últimos meses, três hospitais e 13 clínicas teriam sido fechados temporariamente, afetando a saúde de mais de 300 mil pessoas, enquanto a taxa de aprovação de transferências médicas por Israel caiu de 92% em 2012 para 52% em 2017. No ano passado, houve um total de 26 mil pedidos para receber cuidados de saúde fora do enclave, e 54 pacientes morreram em decorrência das respostas negativas e atrasos para a saída. Para as Nações Unidas, a Faixa de Gaza poderá se tornar inabitável em 2020.

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