Negociações

Governo da Colômbia e ELN buscam trégua antes de eleições

''Alcançar a paz constitui um anseio histórico para toda a região da América Latina e do mundo'', diz o cubano Ivan Mora, que presidiu as negociações

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

BOGOTÁ - O governo da Colômbia e a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN) retomaram ontem suas negociações em Havana para buscar um cessar-fogo que garanta a tranquilidade durante as eleições presidenciais de maio e abra caminho para um acordo para acabar com um sangrento conflito de meio século.

"Alcançar a paz constitui um anseio histórico para toda a região da América Latina e do mundo", declarou o cubano Ivan Mora, que presidiu as negociações.

Sentado à esquerda de Mora, o chefe da delegação do governo colombiano, Gustavo Bell, afirmou que este quinto ciclo de reuniões busca "chegar a um acordo sobre um cessar-fogo mais robusto", que "permita que as eleições sejam alcançadas em absoluta paz" e que acabe com os "sequestros, extorsões, recrutamento de crianças e ataques às infraestruturas".

Mais cedo, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, declarou estar "convencido de que vamos conseguir" um cessar-fogo.

Embora Santos - que deixará o poder em agosto após dois mandatos de quatro anos - espere um acordo de paz final "o mais rápido possível" com a última guerrilha ativa no país, ele admite que não conseguirá isso antes de concluir seu mandato.

"Não poderei assinar esse acordo, mas espero deixar para o próximo presidente o caminho pavimentado na direção correta", acrescentou o presidente, Prêmio Nobel da Paz em 2016 por suas tentativas de pôr fim ao último conflito armado interno da América.

"Sem dúvida vai ser uma negociação de longo prazo pela complexidade dos temas (...) Não tem que pôr no acelerador", disse à AFP o professor da Universidade Nacional da Colômbia e especialista em conflitos armados Víctor de Currea-Lugo.

"A alternativa que se tem é conseguir algum tipo de acordo, e será o novo presidente que tomará uma decisão sobre o futuro", acrescentou. Além de garantir o cessar-fogo, outro ponto central é estabelecer mecanismos para que a sociedade participe do processo.

O chefe da delegação negociadora do ELN, Pablo Beltrán, também espera um cessar-fogo no curto prazo.

"Estamos por reiniciar esse ciclo de conversas em Havana. É muito importante que possamos levar adiante um novo cessar-fogo muito melhor do que o anterior, ainda que não seja o do fim do conflito", disse ele, de Cuba, em um vídeo divulgado por sua organização.

As negociações começaram em fevereiro de 2017 em Quito, onde conseguiram uma histórica trégua em outubro do ano passado que se estendeu por 101 dias, em meio a acusações mútuas de descumprimentos.

Com o fim do cessar-fogo em janeiro de 2018, o governo colombiano denunciou uma imediata ofensiva do ELN, situação que atrasou o início do quinto ciclo de negociações. A guerrilha conta com cerca de 1.500 combatentes.

Estas foram, enfim, retomadas até que o Equador se afastou oficialmente como sede e garante do processo em 20 de abril, após inusitados ataques e sequestros realizados por dissidentes da dissolvida guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em seu território. Agora, Havana assume o posto.

A ilha caribenha, que também é garante do processo com o ELN, acolheu durante quatro anos os diálogos com as Farc. Essas discussões levaram, no final de 2016, ao acordo que desarmou e transformou em partido político a outrora guerrilha comunista.

"Nas últimas décadas, Cuba desenvolveu credenciais mediadoras na promoção da solução e no manejo de vários conflitos, dada sua história contestadora e contatos além das fronteiras ideológicas", considerou o professor cubano Arturo López-Levy, da Universidade do Texas-Rio Grande Valley.

"O ELN, como antes as Farc, e o governo colombiano sabem que Cuba será um interlocutor sério e que seu principal interesse é levar a negociação a bom termo, sem ceder a pressões para emboscar nenhuma das partes", acrescentou.

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