Impressões

Vento novo vindo do Ceará

Artista conta suas impressões após participar do Maloca Dragão, evento realizado em Fortaleza

Luciana Simões/ Cantora e realizadora do BR135

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Maloca Dragão mostrou a diversidade musical do país e teve atrações como Letrux, do Rio de Janeiro
Maloca Dragão mostrou a diversidade musical do país e teve atrações como Letrux, do Rio de Janeiro (Maloca Dragão)

SÃO LUÍS- SÃO LUÍS- Para superar os momentos atuais de violência e de trevas em que vivemos no Brasil e pelo mundo, a arte é um portal que se abre e ilumina nossas consciências e nosso espírito. Acabamos de voltar de uma missão no Ceará: o Festival BR 135 foi convidado para conhecer a cena cultural cearense no Maloca Dragão, evento realizado pelo Dragão do Mar Centro de Arte e Cultura e Governo do Estado do Ceará.

Vimos que é possível realizar um evento grandioso, gratuito, ocupando a cidade com múltiplas linguagens do Brasil. Como? Com política pública de cultura criada e executada por gente qualificada, criativa e disposta a provocar faísca no coração de quem se permite. A programação musical local foi o que mais impressionou, pela pluralidade e o encantamento do público pelo som das bandas da casa. Bandas do CE que criaram alvoroço, anotem aí: Getúlio Abelha, Casa de Velho, Ilya, Soledad, Procurando Kalu, Selvagens a Procura de Lei, Daniel Groove e Gero Camilo Cantando Belchior.

A terra que nos presenteou com Belchior tem espírito de valentia, liberdade e ativismo em seu DNA cultural. E além do território cearense vimos e ouvimos Apokálipo (Chile), Makina Kandela( Chile), Rincon Sapiência (SP), Letrux (RJ), Francisco El Hombre (SP) e Gilberto Gil com Refavela.

Depois de tudo o que conhecemos nos palcos do festival, voltamos com a certeza de que não faltarão bandas do Ceará ocupando o Festival BR 135 2018 e quem sabe até uma delegação do Dragão do Mar para trocar uma ideia no Conecta Música sobre o pensamento estratégico deles para movimentar a cena do Maranhão. O público que canta junto músicas dos artistas de sua cidade aliado à consistência da cena musical em cidades próximas é sintoma gravíssimo de final do exílio ou início do fim da peregrinação do artista nordestino e nortista para o Sudeste. Evoé!

Também chamou a nossa atenção a quantidade de mulheres no front: representantes de festivais, produtoras, artistas, convidadas pela curadoria e produção da equipe formada por Priscila Melo, Heloisa Aidar, João Wilson Damasceno e Márcio Caetano. Um sinal de que os realizadores do evento pensaram a participação feminina do início até a última ponta. Hermanas, minas, manas da maloca, maloqueiras de guerra, avante!

Vemos este caminho que os festivais estão percorrendo, em conjunto com agentes culturais e artistas, como um momento de valorização local. Mas não somente isso. Essa trajetória revela também a consolidação dos elementos essenciais para que a música produzida no Norte e Nordeste do país pegue vento por aí: provincianismo e universalismo, o regionalismo e cosmopolitismo, continentalismo e oceanismo, como dizia Gilberto Freyre.

A sonoridade musical criada a partir dessa proposta é o grande lance e se fortalece também nos encontros entre a cultura local e os agentes culturais, jornalistas e festivais visitantes, que compartilham olhares e provocam novas experimentações. Uma bandeira que o Festival BR 135 vem levantando desde 2012 com o desejo de acompanhar os estados vizinhos (Pará, Ceará, Pernambuco e Bahia) numa mesma vibração de respeito, pertencimento e orgulho pelo fazer artístico

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