Tensão

Trump anuncia saída dos EUA do acordo nuclear com Irã

Presidente cumpre promessa de campanha, se aproxima ainda mais de Israel e isola europeus; para justificar a sua decisão, Trump disse que o pacto, firmado em 2015, não teria impedido o Irã de continuar a desenvolver o seu programa nuclear

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Os presidentes de Irã e Estados Unidos, Hassan Rouhani e Donald Trump, respectivamente
Os presidentes de Irã e Estados Unidos, Hassan Rouhani e Donald Trump, respectivamente (Os presidentes de Irã e Estados Unidos, Hassan Rouhani e Donald Trump, respectivamente)


WASHINGTON - Após uma série de ameaças e duras críticas, o presidente americano Donald Trump anunciou ontem que os Estados Unidos vão abandonar o acordo nuclear firmado entre Irã e o Grupo 5+1 (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha) em 2015. A saída americana aumenta o risco de conflitos no Oriente Médio, desagrada os aliados europeus dos EUA e provavelmente terá impacto no fornecimento global de petróleo, do qual o Irã é o sexto maior produtor.

Em pronunciamento na Casa Branca, o presidente americano chamou o acordo de desastroso e de um embaraço para os americanos, afirmando que o pacto não teria impedido o Irã de continuar a desenvolver o seu programa nuclear.

"O regime iraniano patrocina o terrorismo e exporta mísseis para grupos como Hamas, Hezbollah e al-Qaeda", disse Trump para justificar a sua decisão. "Deixei claro que o acordo deveria ser renegociado ou os EUA não permaneceriam. Está claro para mim que não temos como evitar uma bomba nuclear iraniana com este acordo. Anuncio que os EUA se retiram do acordo nuclear. Vamos restabelecer as sanções econômicas.

Trump afirmou ainda que se o Irã estiver disposto a assinar um novo acordo, "grandes coisas poderão acontecer para o Irã e o Oriente Médio".

O presidente americano tinha até dia 12 de maio para informar ao Congresso americano seu posicionamento sobre o pacto. O histórico acordo teve como objetivo encerrar as pretensões do Irã de desenvolver armas nucleares em troca do fim das sanções econômicas que os países ocidentais aplicavam a Teerã. Desde sua campanha presidencial em 2016, Trump sempre criticou o acordo, firmado por Barack Obama. Ele o considera "desatroso", qualificando o pacto como "o pior acordo da já feito".

Ainda que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, tenha atestado mais de uma vez, ao longo da implementação do pacto, que o governo iraniano está cumprindo a sua parte, o republicano critica o fato de o documento estar circunscrito ao programa nuclear do Irã, sem incluir um corte no equipamento bélico convencional, sobretudo mísseis. Além disso, o americano sustenta que, após o prazo que proíbe a construção de instalações nucleares por 15 anos, o Irã retomará tais projetos.

Pedido de Israel

Na semana passada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu que Trump abandonasse o acordo, afirmando ter provas de que Teerã não havia abandonado o programa de bombas nucleares. O entorno de Trump na Casa Branca também é majoritariamente contra o acordo.

Os países europeus, contudo, indicam que podem manter o acordo com os iranianos mesmo sem os EUA. O Irã, por sua vez, passou os últimos dias ameaçando os Estados Unidos caso Trump decida pela saída dos americanos do tratado.

A decisão de Trump havia sido informada ao presidente francês, Emmanuel Macron, em uma conversa telefônica, segundo o jornal "The New York Times", mas a Casa Branca e o gabinete de Macron negaram a informação.

Macron esteve em Washington no mês passado na tentativa de convencer Trump a permanecer no acordo. Após o encontro com o republicano, o presidente francês defendeu a implementação de uma reforma do pacto, o que tem sido defendido pelos europeus.

Pressão europeia

A decisão de Trump já era esperada, e, antes de seu anúncio, a especulação em torno do posicionamento americano gerou uma série de reações na Europa a favor da manutenção do pacto. A União Europeia manifestou seu apoio para que "todas as partes" continuem aplicando o acordo nuclear com o Irã durante uma reunião com o vice-chanceler iraniano.

De acordo com a diplomacia do bloco, a UE aproveita "essa oportunidade para reiterar [a Abas Araghchi] seu apoio à aplicação plena e efetiva do acordo por todas as partes".

Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disse que era importante manter as conversas nos próximos dias, para evitar uma "escalda descontrolada" depois do anúncio de Trump sobre sua decisão. A reunião de Bruxelas foi parte de um "trabalho intensivo" para tentar manter o acordo nuclear de 2015, que suspendeu as sanções em troca do compromisso do Irã de encerrar seu programa nuclear, inclusive se os Estados Unidos abandonarem o acordo, disse a fonte alemã.

"Durante semanas, estivemos em estreito contato com parceiros dos três países em particular, desde o nível de mesas de trabalho até o dos ministros das Relações Exteriores", disse a fonte alemã.

Americanos divididos

Uma pesquisa do Pew Reserach Center divulgada ontem, horas antes do presidente Donald Trump anunciar sua decisão, indica que os americanos estão divididos sobre o acordo nuclear com o Irã. O levantamento feito com 1.503 pessoas entre 25 de abril e 1º de maio indica que 40% desaprovam o acordo firmado na gestão de Barack Obama, 32% o apoiam e 28% não tem opinião formada sobre o tema. Trump anunciará no início da tarde se mantém os EUA no acordo, firmado com outras potências nucleares.

Apesar do maior grupo de americanos seguir contrário ao acordo, este grupo tem diminuído. De acordo com o Pew, em julho de 2015 45% dos americanos se opunham ao acordo, atingindo o pico de 49% de rejeição em setembro do mesmo ano. Por outro lado, a aprovação passou de 22% em julho de 2015 para 30% em setembro de 2015 até alcançar os atuais 32%. Atualmente, 22% dos americanos ouvidos pela pesquisa que se declaram republicanos aprovam o acordo, contra 43% dos democratas.

Ao mesmo tempo em que um lado um grupo maior parece dividir com Trump sua visão de que o acordo que tenta evitar que o país desenvolva uma arma nuclear é ruim, 42% deles dizem estar "muito confiantes" no tratamento dado por Trump no tema. Cerca de 27% dos americanos afirmam ter ouvido "muito" sobre o tema, 46% disseram conhecer "um pouco" do tema e 26% afirmaram que não ouviram "absolutamente nada" sobre o acordo com os iranianos



Frase

"O regime iraniano patrocina o terrorismo e exporta mísseis para grupos como Hamas, Hezbollah e al-Qaeda"

Donald Trump

Presidente dos Estados Unidos

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