Perigo da chuva

Desmoronamento apavora moradores da Vila Lobão

Bairro, classificado como área de risco pela Defesa Civil, possui diversos pontos sinalizados, mas moradores não têm para onde ir; apesar de ter os fundos de sua casa destruídos no deslizamento, dona da casa alega não poder sair

Monalisa Benavenuto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31

Um deslizamento de terra derrubou parte de um imóvel durante a forte chuva que caiu no domingo, 6, na Rua São Raimundo, na Vila Lobão. Moradores ficaram em pânico e temem que outras residências sejam afetadas. O bairro faz parte das áreas de risco monitoradas pela Defesa Civil, em São Luís.

“Eu estava deitada. Quando me espantei, foi o baque do muro”, contou a dona de casa Maria da Guia Alves, de 69 anos. A idosa, que mora com um filho, teve parte da casa destruída com o desmoronamento ocorrido durante a chuva. Apesar de estar em uma área de risco, a moradora explicou que não tem como sair da casa para morar de aluguel. “A Defesa Civil veio aqui, disse que era para alugar uma casa, mas eu não posso. Um aluguel é R$ 400,00, R$ 500, 00. Eles dão dois meses, mas e depois?”, alegou.

Os vizinhos mais próximos também ouviram os estrondos e tiveram medo de que algo mais grave tivesse acontecido. “A minha irmã, que estava presente, se desesperou, porque achou que a dona Maria estivesse na área que caiu. Ela costuma cozinhar lá. Tanto que o fogão e as panelas dela estão no meio dos entulhos”, contou Tatiana Gama, de 32 anos.

Os moradores do bairro temem por outras residências da rua, que correm riscos semelhantes. “A preocupação maior agora é com a vizinha mais próxima dela, porque lá tem um neném recém-nascido”, explicou a secretária Selene Pontes, de 46 anos.

O caso do domingo não foi o primeiro na Rua São Raimundo, mas, segundo os moradores, além do mapeamento e instruções da Defesa Civil, nenhuma ação efetiva foi tomada na região.

“Representantes da Secretaria de Infraestrutura já vieram aqui várias vezes, já houve várias solicitações e ofícios, pedindo melhorias para nossa rua, que até o presente momento se encontra da mesma maneira. Nem carro grande pode passar mais aqui, devido ao risco”, ressaltou Selene Pontes.

De acordo com o último mapeamento realizado pela Defesa Civil do Maranhão, foram registradas 59 áreas de risco em São Luís. Deste total, 27 pontos foram considerados áreas de alto risco.

Em janeiro deste ano, a superintendente da Defesa Civil, Elitânia Barros, destacou a O Estado que muitos imóveis catalogados como perigosos foram desocupados e os moradores incluídos no programa “Aluguel Social” ou contemplados pelo “Minha Casa, Minha Vida”, por intermédio da Prefeitura. No entanto, nenhum dos moradores da Vila Lobão faz parte dos auxílios.

A Secretaria Municipal de Segurança com Cidadania (Semusc), por meio da Superintendência de Defesa Civil Municipal, informou, em nota, que realiza trabalho contínuo nas áreas de risco da capital, durante o período chuvoso, incluindo a Vila Lobão. E ressalta que todas as ocorrências recebidas por meio do número de emergência 153 e via Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) são atendidas pela Defesa Civil e encaminhadas para os órgãos responsáveis.

A Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas) informou que uma equipe do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da área iria ao local ainda ontem, para fazer a identificação, cadastramento e acompanhamento das famílias envolvidas. Após a identificação, será realizada avaliação individual de cada família afetada, para levantamento das necessidades emergenciais e posterior acolhimento, que pode ser em casa de familiares, abrigo institucional temporário da Semcas, além de posterior encaminhamento para aluguel social.

Desmoronamentos são comuns em encostas

O fenômeno é provocado pelo escorregamento de materiais sólidos, como solos, rochas, vegetação e/ou material de construção ao longo de terrenos inclinados, denominados de encostas. Ocorre em áreas de relevo acidentado, das quais foram retiradas a cobertura vegetal origina,l que é responsável pela consistência do solo e impede, por intermédio das raízes, o escoamento das águas.

O deslizamento de terra se difere dos processos erosivos pela quantidade de massa transportada a uma grande velocidade. Esses fenômenos naturais e/ou antrópicos causam problemas imediatos para a população, independentemente de sua condição social, e também para o meio ambiente.

No Brasil, pelo fato de ter predominância de clima tropical, existem grandes índices pluviométricos no verão, que corresponde ao período chuvoso. Com isso, as encostas naturalmente são locais de risco de deslizamento de terra.

É notório que os deslizamentos em encostas e morros urbanos vêm ocorrendo com uma frequência alarmante nestes últimos anos, devido ao crescimento desordenado das cidades e com a ocupação de novas áreas de risco, principalmente pela população mais carente.

Muitas cidades, em sua expansão, avançam para terrenos topograficamente mais inclinados e geologicamente instáveis. É o caso da ocupação de vertentes de morros ou de obras efetuadas em áreas extremamente suscetíveis à intempéries intensas ou solos fragilizados.

A época de ocorrência dos deslizamentos coincide com o período das chuvas, intensas e prolongadas, visto que as águas escoadas e infiltradas vão desestabilizar as encostas. Nos morros, os terrenos são sempre inclinados e, quando a água entra na terra, pode acontecer um deslizamento e destruir as casas que estão em baixo.

Desta maneira, os escorregamentos em áreas de encostas ocupadas costumam ocorrer em taludes de corte, aterros e taludes naturais agravados pela ocupação e ação humana.

SAIBA MAIS

COMO EVITAR UM DESLIZAMENTO

- Não destruir a vegetação das encostas;
- No caso de vazamentos, consertar o mais rápido possível e não deixar a água escorrendo pelo chão - o ideal é construir canaletas;
- Juntar o lixo em depósitos para o dia da coleta e não deixá-lo entulhado no morro;
- Não amontoar sujeira e lixo em lugares inclinados porque eles entopem a saída de água e desestabilizam os terrenos provocando deslizamentos;
- Não jogar lixo em vias públicas ou barreiras, pois ele aumenta o peso e o perigo de deslizamento. Assim, deve-se jogar o lixo e entulho em latas ou cestos apropriados;
- Não dificultar o caminho das águas de chuva com lixo, por exemplo;
- As barreiras em morros devem ser protegidas por drenagem de calhas e canaletas para escoamento da água da chuva;
- Não fazer cortes nos terrenos de encostas sem licença da Prefeitura, para evitar o agravamento da declividade;
- Solicitar à Defesa Civil, em caso de morros e encostas, a colocação de lonas plásticas nas barreiras;
- As barreiras devem ser protegidas com vegetação que tenham raízes compridas, gramas e capins, que sustentam mais a terra;
- Em morros e encostas, não plantar bananeiras e outras plantas de raízes curtas, porque as raízes dessas árvores não fixam o solo e aumentam os riscos de deslizamentos;
- Pode-se plantar, para que a terra não seja carregada pela água da chuva. Perto das casas: pequenas fruteiras, plantas medicinais e de jardim, tais como: goiaba, pitanga, carambola, laranja, limão, pinha, acerola, urucum, jasmim, rosa, pata-de-vaca, hortelã, cidreira, boldo e capim santo. Nas encostas, pode-se plantar: capim braquiária, capim gordura, capim-de-burro, capim sândalo, capim gengibre, grama germuda, capim chorão, grama pé-de-galinha, grama forquilha e grama batatais. A vegetação irá proteger as encostas.
- Em morros e encostas não plantar mamão, fruta-pão, jambo, coco, banana, jaca e árvores grandes, pois acumulam água no solo e provocam quedas de barreiras.

Sinais que indicam que pode ocorrer um deslizamento:
Aparecimento de fendas, depressões no terreno, rachaduras nas paredes das casas, inclinação de tronco de árvores, de postes e o surgimento de minas d’água. Ocorrendo um desses sinais, a Defesa Civil deve ser imediatamente acionada.

O QUE FAZER QUANDO OCORRE UM DESLIZAMENTO

Se você observar um princípio de deslizamento, avise imediatamente a Defesa Civil do seu município e o Corpo de Bombeiros, bem como o máximo de pessoas que residem na área do deslizamento. Afaste-se e colabore para que curiosos mantenham-se distantes do local, pois pode haver mais deslizamentos

Contato
Para outras informações acerca das áreas de risco ou solicitação de serviços, basta ligar para a Defesa Civil Municipal: 153 e 3212-8473 ou Corpo de Bombeiros: 193 e 3212-1501.

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