Espionagem comunista

PM confirma: ordens para “fichar” oposição no interior ocorreram

Documento expedido pelo comandante-geral da corporação, coronel Jorge Luongo, tornou sem efeito ofícios anteriores, admitindo que eles eram oficiais

Gilberto Leda / O Estado do Maranhão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Governador Flávio Dino ao lado do coronel Jorge Luongo em recente cerimônia na Polícia Militar do Maranhão
Governador Flávio Dino ao lado do coronel Jorge Luongo em recente cerimônia na Polícia Militar do Maranhão (Flavio Dino e Coronel Luongo)

SÃO LUÍS - O Governo do Estado, por meio da Polícia Militar do Maranhão, confirmou na sexta-feira, 20, em um novo ofício, a autenticidade dos memorandos revelados com exclusividade por O Estado, ordenando que comandos da corporação no interior do estado identificassem e catalogassem lideranças políticas de oposição que pudessem causar “embaraço ao pleito eleitoral”.
Assinado pelo comandante-geral da PM, coronel Jorge Guerra Luongo, o Ofício Circular nº 019/2018 – GCG torna sem efeito dois memorandos que dispunham sobre o assunto: o Memorando Circular 098/2018, expedido pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI), em São Luís; e o Memorando Circular 08/2018, do Comando de Policiamento de Área (CPA) de Barra do Corda.
Ao admitir que os documentos anteriores produziam efeitos oficiais – que precisavam ser cessados -, a PMMA, então, reconheceu que tratavam-se de ordens autênticas, desmentindo a tese do próprio governador Flávio Dino (PCdoB), de que estava-se diante de “uma farsa, uma fraude”.
Segundo o comandante Jorge Luongo, os memorandos que deram ordem ao pedido de “fichamento” dos opositores do governo Flávio Dino deveriam ser anulados porque “não foram submetidos à análise e autorização do comando da instituição policial militar” e tratavam-se de “ordem manifestamente ilegal”.
Apesar de anular os ofícios que partiram de São Luís e Barra do Corda, o memorando do comando da PM não faz qualquer referência a um terceiro documento que surgiu na noite de sexta-feira, 20.
O Ofício Circular 071/2018, do Comando de Policiamento de Área sediado em Caxias, foi expedido no dia 6 de abril – mesma data do memorando exarado da capital.
Nele, o major Jadiel Rezende, respondendo pelo Comando de Policiamento de Área 4, também encaminhou ordem a subordinados determinando o cadastro de opositores.
O ofício de Caxias faz referência ao mesmo memorando 098/2018 que embasou todas as recomendações para fichar líderes de oposição no interior.


Outro lado
O governador Flávio Dino (PCdoB) negou, por meio de postagem nas redes sociais, que tenha ordenado a emissão do memorando determinando o cadastro de líderes políticos de oposição ao seu governo.
Segundo ele – que atribuiu o fato a conduta isolada de um coronel de Barra do Corda -, a cúpula da Segurança Pública estadual não tem qualquer envolvimento com o caso.
“Absurdo imaginar que um papel assinado por um oficial da PM possa ter a minha orientação, apoio ou concordância. Ao tomar conhecimento, mandei demitir o autor do papel disparatado. Mandei também apurar por que esse oficial da PM assinou aquele papel absurdo. Ele irá responder a processo disciplinar para esclarecer os fatos”, declarou.

Saiba Mais

Até juízes e promotores

O Memorando Circular 098/2018, que deu origem a todas as ordens de fichamento das lideranças de oposição do Maranhão, assinado por delegação pelo tenente-coronel Emerson Farias Costa, exigia, também, a catalogação das autoridades eleitorais – juízes e promotores – em cada município. O “levantamento eleitoral” consistia em saber nome e telefone do prefeito, do juiz eleitoral, do promotor, quantidade de eleitores, locais de votação fora da sede, além de nome de delegados e demais oficiais militares da região. Além do monitoramento dos adversários de Flávio Dino, os comandantes de batalhão precisavam registrar, também, todos os fatos da eleição anterior que possam “ter causado transtornos”.

Nossa Opinião

Monitoramento planejado

Enquanto todos aqueles que tomaram conhecimento do fato - inclusive o próprio Secretário de Segurança Pública - ficaram estarrecidos diante da gravidade que representa o monitoramento da oposição maranhense por parte da Polícia Militar, o governador Flávio Dino praticamente deu de ombros ao dizer que a patrulha não passou de “condutas isoladas de um coronel lotado em Barra do Corda”.
Novamente, o governador torna a dar exemplo de sua incapacidade de reconhecer erros de seu governo marcado por tantos atos desastrosos. Esse monitoramento policialesco da oposição não é um fato isolado e tampouco um mero documento “emitido equivocadamente”, como tentou justificar.
Ao que se vê, a julgar pelas datas dos documentos vazados, trata-se de uma ordem premeditada e planejada por integrantes da Polícia Militar Maranhense. A determinação original do monitoramento não partiu de um coronel residente em Barra do Corda, mas do Comando de Policiamento no Interior (CPI), sediado em São Luís, para o imenso interior do Maranhão.
O objetivo dessa aberração todos sabemos, porque é autoexplicativo. O que ainda falta se saber com precisão é quem mandou o alto comando da PM fazer esse monitoramento, porque o beneficiário exclusivo dele, sem sombra de dúvida, seria o governador Flávio Dino.
Mas, o Ministério Público Eleitoral já entrou no circuito. Com isso, espera-se que em breve todos saibamos oficialmente quem é o verdadeiro autor dessa ordem, já que esse é o último enigma a ser esclarecido nessa história.

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