Doenças da chuva

Especialista alerta para riscos de contaminação pela água da chuva

Acúmulo de água e resíduos pode camuflar a presença de mosquitos, baratas, ratos e outros vetores; alagamentos e enchentes, causados principalmente pelo descarte incorreto de lixo, são espaços propícios para a proliferação de doenças

Monalisa Benavenuto / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
ÁGUA da chuva acumulada camufla  vetores de  doenças  graves
ÁGUA da chuva acumulada camufla vetores de doenças graves (água da chuva)

Durante o período chuvoso, cresce o risco de transmissão de doenças infectocontagiosas em áreas alagadas. Sintomas semelhantes aos das populares viroses, como febre, dor no corpo e diarreia, podem estar relacionados a doenças mais graves.
Com as fortes chuvas, alagamentos e enchentes, causados principalmente pelo descarte incorreto de lixo, vêm sendo registrados por todo o estado. O acúmulo de água e resíduos pode camuflar a presença de mosquitos, baratas, ratos e outros vetores. A contaminação acontece pela água e pode causar, à população, patologias severas, como leptospirose, hepatite A, esquistossomose e quadros de diarreia, tétano e dengue.

O professor aposentado e doutor em Doenças Tropicais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Raimundo Nonato Cutrim, chama a atenção para a leptospirose, uma das doenças mais graves e comuns no período de chuva. “A leptospira penetra pela pele da pessoa, sem nenhuma ferida, e se multiplica no organismo. É uma doença grave, que pode matar em pouco tempo”, ressalta. A doença é transmitida pela urina de ratos, presente nos esgotos e bueiros, que atinge um número maior de pessoas ao ficar diluída nas águas acumuladas em vias públicas.

Outra patologia destacada pelo professor e doutor é a esquistossomose, popularmente conhecida como “barriga-d’água”. A parasita causadora da endemia se desenvolve em caramujos que liberam a larva adulta na água e contaminam o homem através da pele. No organismo humano, as larvas chegam ao intestino e fígado, onde se reproduzem por aproximadamente 6 semanas.

Bairros mais afetados
O risco é ainda maior em áreas carentes, onde o saneamento básico é precário. O professor aponta bairros como Barreto, Camboa e Coroadinho entre os mais afetados por essas patologias. “Essas doenças atingem todos os bairros periféricos de São Luís”, reafirma. Além da escassez de saneamento nessas localidades, o professor aponta ainda a demora no atendimento nos postos de saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e despreparo de alguns profissionais, como agravantes desses quadros. “A quantidade de infectologistas no Maranhão não é muito grande e, às vezes, o médico não está preparado para saber que aquilo é uma doença grave”, destaca.

Sobre a adoção de medidas preventivas, a comunidade médica não reconhece a existência de alguma efetiva quanto à prevenção e riscos causados pelos alagamentos. O ideal é evitar, na medida do possível, o contato direto com enchentes e alagamentos, mas caso haja a recomendação é banho e limpeza cautelosa. Automedicação não é recomendada, já que pode agravar quadros de diarreia e febre.

O Estado manteve contato com as secretarias de Saúde municipal e estadual para verificar os últimos levantamentos com dados sobre doenças infectocontagiosas na capital, mas até o fechamento desta edição, não obteve respostas.

SAIBA MAIS

DOENÇAS E SINTOMAS

Leptospirose - A mais famosa das patologias durante épocas de alagamentos ocorre por conta da urina de ratos, que atinge um número maior de pessoas ao ficar diluída nas águas acumuladas nas vias públicas. Entre os sintomas, há aqueles mais leves, similares a resfriados e gripes, como dores nas panturrilhas e febre até quadros mais graves como pele amarelada (icterícia), mau funcionamento dos rins e até hemorragias ligadas aos pulmões. Os primeiros sintomas podem aparecer entre 7 a 10 dias após o contato, segundo os médicos.

Quadros de diarreia - Diarreias causadas por vírus, bactérias e até protozoários podem surgir, representando risco de desidratação especialmente para crianças e idosos. Desconforto abdominal, fezes líquidas, com sangramento ou muco são alguns dos indícios da doença. Os sintomas aparecem, em média, após 3 dias e o tratamento envolve muita hidratação e, no caso de causas bacterianas, a recomendação de antibióticos,sempre feita por médicos.

Hepatite A - Normalmente transmitida por meio de alimentos mal lavados, a hepatite A também pode surgir com a ingestão acidental de água das chuvas. Os sintomas envolvem dores abdominais, febre, pele e olhos amarelados, além de uma urina escura. O período para o surgimento dos primeiros sintomas está entre 15 a 45 dias, o que aumenta a necessidade de alerta da população para os sintomas nesta época do ano.

Tétano - A confusão criada pelas chuvas pode levar a arranhões e hematomas nas vias públicas e mesmo dentro das casas, com o aparecimento do tétano. Sintomas como febre, dor de cabeça, calafrios e rigidez no pescoço, membros e na mandíbula podem indicar a patologia.

Dengue - Apesar de sua incidência aumentar no verão, a intensificação das chuvas representa risco pelo acúmulo de água em pneus, canaletas e recipientes. Caracteriza-se por febre alta e sintomas como dores nas articulações, cansaço, enjoo e manchas na pele. Os sintomas começam a surgir geralmente entre 5 e 7 dias após o contágio.

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