Balanço epidemiológico

Microcefalia registrada em São Luís antes de surto de zika, diz estudo

Estudo promovido pela UFMA aponta que pelo menos 174 bebês nasceram no referido ano com perímetro cefálico fora dos padrões; muitas crianças tiveram alterações cefálicas de apenas 10%, índice considerado pela medicina específico de casos mais leves

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Professor Antônio Augusto Moura fala do registro de casos de microcefalia
Professor Antônio Augusto Moura fala do registro de casos de microcefalia (Professor Antônio Augusto Moura fala do registro de casos de microcefalia)

SÃO LUÍS - Mesmo antes do surto de zika, que afetou vários municípios maranhenses, principalmente em em 2015, São Luís já apresentava registros de microcefalia - má-formação congênita que altera o perímetro cefálico - em consequência de outros fatores, como cigarro e álcool, cinco anos antes. Foi o que apontou estudo revelado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que se baseou em relatórios emitidos pelo Ministério da Saúde. De acordo com a pesquisa, ainda é possível registrar transmissão ativa da zika e febre chikungunya, mesmo controlada, e um novo surto das enfermidades deve ser registrado na cidade.

Segundo a pesquisa, em 2010 foi verificada a existência de 174 bebês microcefálicos na capital. Destes casos, 33 (ou 18,9%) estavam no grupo dos pacientes mais graves. Por causa da incidência – em sua maioria - de casos considerados brandos, o professor Antônio Augusto Moura, um dos idealizadores do estudo e que leciona na UFMA, explicou que muitas crianças tiveram alterações cefálicas de apenas 10%, índice considerado pela medicina específico de casos mais leves. “Muitos pais, nesta época, tiveram crianças com cabeças cujos crânios tinham pequenas alterações, quase imperceptíveis. Logo, não se preocuparam em procurar as autoridades públicas de saúde”, explicou o professor.

Enquanto que, especialmente em 2015, a circulação do vírus transmissor era o fator responsável pelo surto e alerta da chikungunya, outros fatores, em 2019, contribuíram para o aparecimento de crianças com esta anormalidade. Antônio Augusto explicou que razões relacionadas à mãe influenciaram diretamente no registro dos casos. “Estudos apontam, por exemplo, que mães que mantêm o hábito do fumo durante a gestão têm risco de terem crianças com microcefalia cinco vezes maior do que mães que não possuem esse hábito nocivo”, afirmou o docente.

Outro fator é social, de acordo com o pesquisador da UFMA. Pessoas com poderes aquisitivos considerados mais baixos e com claras deficiências nutricionais também geraram crianças com microcefalia. “Quando não há um equilíbrio nutricional na dieta da mãe, a criança está mais propícia à doença. Foi o que ocorreu em 2010, de acordo com nosso estudo na capital maranhense”, explicou.

O professor afirmou ainda que, apesar da diminuição de casos, a zika e a febre chikungunya devem sair do controle nos próximos anos com a diminuição gradativa da resistência biológica da população. “No momento, estamos protegidos após um forte surto no país. No entanto, esta proteção deverá diminuir no futuro e voltaremos a viver dias preocupantes de controle epidemiológico”, afirmou Antônio Antônio Augusto Moura.

Relembre

Por orientação do Ministério da Saúde (MS), os casos de microcefalia começaram a ter os registros catalogados de forma obrigatória a partir de novembro de 2015, quando o Governo Federal decretou situação de emergência na saúde pública. Atualmente, segundo o mais recente boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do MS, foram registrados no Maranhão 1.867 casos prováveis de febre chikungunya no ano passado. Este ano, segundo a pasta, são 140 casos prováveis.

Números

- 1.867 casos prováveis de febre chikungunya no MA em 2017

- 174 bebês microcefálicos na capital maranhense em 2010

Frase

“Muitos pais, nesta época, tiveram crianças com cabeças cujos crânios tinham pequenas alterações, quase imperceptíveis. Logo, não se preocuparam em procurar as autoridades públicas de saúde”

Antônio Augusto Moura

Professor UFMA

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