Operação Pegadores

Em nova carta, operador de esquema na Saúde confirmaria autoria de denúncia de corrupção

Mariano de Castro foi encontrado morto em seu apartamento em Teresina, na semana passada

Gilberto Léda

Atualizada em 11/10/2022 às 12h31
Mariano de Castro teria sido o autor de nova carta, em que reafirma conteúdo da anterior
Mariano de Castro teria sido o autor de nova carta, em que reafirma conteúdo da anterior (Mariano de Castro)

O médico Mariano de Castro Silva, encontrado morto em seu apartamento em Teresina, na semana passada, teria confirmado em uma nova carta, já de posse da Polícia Civil do Piauí, que são dele as anotações recentemente divulgadas em um manuscrito revelando dados da corrupção na Secretaria de Estado da Saúde (SES) do Maranhão.

Os novos escritos foram divulgados ontem pelo blog Atual 7.

Mariano foi assessor da Secretaria de Estado da Saúde (SES) e era apontado pela Polícia Federal como operador do esquema de desvio de R$ 18 milhões na pasta, desbaratado no bojo da Operação Pegadores.

A carta, atribuída a Mariano, diz que ele repassou o primeiro manuscrito a um advogado identificado como Zé Carlos e que suspeitava que o defensor o tivesse vendido, ou mandado vender, a um blog.

“Lá conto tudo”, revela o escrito, atribuído ao médico, referindo-se ao primeiro texto e dizendo que, por conta da delação que fez na carta-denúncia, ele estaria mais prejudicado ainda em sua própria situação, e que não queria mais “dar trabalho” aos seus familiares.

Mariano também mostrou-se receoso de ter que voltar a Pedrinhas, possivelmente em virtude das novas revelações que fez sobre o caso. “Não vou voltar para aquele lugar”, escreveu.

Ainda na carta-despedida, o médico diz se sentir aliviado por ter colocado no papel detalhes do esquema de corrupção montado na Saúde do Maranhão.

“Foi boa a carta porque expôs a verdade… E mostra o quanto sofri fazendo o que era errado […] espero que Deus perdoe os meus pecados”, completa.

Detalhes – O primeiro texto vazado, ainda antes de morte de Mariano de Castro - e referenciado por ele no segundo, antes da morte -, contém revelações sobre as entranhas da corrupção na SES.

Há informações, por exemplo, sobre pagamentos que ele fazia da sua própria conta corrente para custear despesas de unidades hospitalares do Estado.

“Em Coroatá, fui responsável pela inauguração de 25 leitos pagando ao Raimundinho [...] [fez a obra], transferência da minha conta para a conta dele, além de pagar vários ar-condicionados em Teresina [...] que o próprio Raimundinho foi buscar... Posso mostrar os extratos de transferências... Pagos...”, destaca o manuscrito.

O texto cita, também, desvios feito pela ex-subsecretária Rosângela Curado, diz que Mariano saía da sala quando se iniciavam reuniões entre o Idac e o secretário Carlos Lula ou seus representantes e que institutos eram acionados pela SES para pagar por despesas que não estão incluídas no plano de trabalho – denúncia corroborada pelo inquérito da Polícia Federal.

Já recolhidos, os dois escritos devem ser periciados pela Polícia Civil do Piauí, que investiga a morte do médico.

Após cartas, deputado propõe CPI

O deputado estadual Wellington do Curso (PSDB) está recolhendo assinaturas para tentar propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue as denúncias contidas numa carta escrita pelo médico Mariano de Castro quando ele ainda estava preso por conta da Operação Pegadores.

O parlamentar contou a O Estado que já conseguiu três assinaturas para o pedido. Para a instalação são necessárias 14.

"O Governo Flávio Dino não é transparente, não combate corrupção e, ao contrário, acaba por aceitar essas práticas em seu Governo, sempre com o mesmo argumento de que é 'perseguição'. Se não devem coisa alguma, por que tanto medo de investigação? Eu assinei a criação de todas as CPI's nesta Assembleia. Solicitei, também, a criação da CPI da Saúde: de 42 deputados, apenas 3 assinaram até o presente momento. Por que Flávio Dino tem tanto medo de uma CPI na área da saúde?”, questionou Wellington.

Segundo ele, o governador Flávio Dino (PCdoB) deveria ser solidário não ao seu secretário de Saúde, Carlos Lula – que também responde a inquérito na Polícia Federal por suposta fraude a licitação na UPA de Chapadinha -, mas a quem “está meses e meses em uma fila à espera de atendimento”.

“Com os seus, Flávio Dino é solidário; mas com quem está meses e meses em uma fila à espera de atendimento, o Governador consegue ser a própria insensibilidade. Estamos em defesa da população que depende do sistema de saúde público do Maranhão", disse Wellington ao citar as Operações Sermão dos Peixes, da Polícia Federal.

A carta-denúncia de Mariano vazou dias antes da sua morte, e traz detalhes do esquema de corrupção montado na Saúde do Maranhão e desbaratado pela Polícia Federal. No total, segundo os federais, foram desviados R$ 18 milhões entre 2015 e 2017.

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