SÃO LUÍS- A escritora Arlete Nogueira da Cruz publicou às suas expensas, no ano passado, um notável ensaio de Franklin de Oliveira sobre a obra romanesca de Josué Montello, ensaio que, em vida, o romancista confiou a ela, recebendo, Arlete, da família de Franklin, autorização para publicá-lo. Em São Luís, o talentoso ensaísta Adonay Moreira logo se manifestou através de importante artigo, onde destaca a iniciativa e o valor da publicação. O ensaio, agora, recebe justo reconhecimento nacional: “Obrigadíssimo pelo livro, com excelente, precisa e iluminadora introdução sua a respeito do texto do Franklin de Oliveira sobre Josué Montello.” (Alexel Bueno). “Excelente e minucioso o seu ensaio Duas vozes maranhense. Você é ótima em tudo que escreve – poema, ficção, ensaio...” (Antônio Carlo Secchin). O respeitável ensaísta Mário Ponte elogiou e escreve mais longamente acerca do referido trabalho de Franklin sobre Josué.

A seguir, uma resenha publicada na Tribuna de Petrópolis/RJ, dia 24-11-2017, o escritor carioca Fernando Py, sob o Título:

Os romances de Josué Montello

“De todos os escritores maranhense que conheci pessoalmente, um deles me chamou a atenção: Franklin de Oliveira(1916/2000). Interessou-me especialmente sua cuidadosa e pessimista avaliação de certas condições ambientais e sociais do Estado do Rio Grande do Sul: um novo Nordeste(1962). Isto porque, tanto pelo pai quanto pela mãe, sou descendente de gaúchos e muito amigo de tudo que se refira aos pampas.

Bem, esse foi o ponto de partida de minhas leituras “franklinianas” e, desde então, é com satisfação que abro um livro de Franklin de Oliveira. Recebi por último seu ensaio – de publicação póstuma – A saga romanesca de Josué Montello (Rio de janeiro: Contra Capa, 2017, organização e prefácio de Arlete Nogueira da Cruz). O autor estuda com bastante cuidado a obra ficcional de Montello, seu companheiro de geração.

O texto se inicia com uma abordagem teórica, quando distingue duas famílias intelectuais: a dos precursores e a dos preservadores, acrescentando que não se trata de posições antagônicas, pois pode haver interdependência entre elas. A seguir, Franklin afirma que a obra de Montello retoma e desdobra a saga de São Luís, principiada por Aluísio Azevedo: enquanto Aluísio se preocupa com a pressão das forças sociais na conduta humana, Montello, recuperando o realismo de autor de O cortiço, privilegia a subjetividade. Assim, Montello abre caminho para a realização do romance épico, que atinge o máximo em Os tambores de São Luís.

Franklin observa as diferenças de época entre Aluísio e Montello. Enquanto o primeiro viveu numa sociedade senhorial, que tinha consciência de sua identidade, o segundo escreveu quando a sociedade maranhense já era uma sociedade vegetativa. No análise que faz de todos os romances de Montello, Franklin realça aqueles que assumem o caráter de romances de denúncia, como A décima noite(que denuncia a perda da personalidade), Os tambores de São Luís(que denuncia a escravidão) e Os degraus do paraíso (que denuncia a intolerância), insistindo que a personalidade contestatória de Montello difere da de Aluísio: enquanto o primeiro descreve conflitos morais, Aluísio confronta forças sociais.

Franklin de Oliveira estuda outros grandes romances de Josué Montello, destacando especialmente Noite sobre Alcântara, Cais da sagração e Aleluia. A grande obra ficcional do romancista maranhense está admiravelmente analisada neste livro, que deve ser lido e consultado várias vezes por aqueles que se interessam não só pelo autor como por toda a literatura brasileira.”

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