Tradição em negócios

Estabelecimentos que resistem ao tempo e se mantêm abertos

Comércios tradicionais, como a Sorveteria Elefantinho e a Padaria Santa Maria, na Rua dos Afogados, no centro de São Luís, são conhecidos por toda a cidade por seus produtos únicos e atendimentos de qualidade

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

[e-s001]Apesar da concorrência, do forte apelo das redes sociais e, principalmente, com o aumento da violência cotidiana e urbana, vários estabelecimentos distintos de São Luís sobrevivem à ação do tempo e se mantêm ativos. Alguns deles existem há pelo menos um século, com grande sucesso e seus atuais donos fazendo planos acerca do futuro. É o caso da Sorveteria Elefantinho - para quem quer degustar um delicioso sorvete feito artesanalmente - e da Padaria Santa Maria (quem não conhece?) com a conhecidíssima bolachinha que leva o nome do local, até hoje. E quem nunca fez uma refeição no legítimo e verdadeiro “Come em pé” da Magalhães de Almeida? Ou tomou um caldo do seu João, na Rua do Sol? Ou, ainda, comprou tubos de linha no armarinho A Moderna? E por aí vai a arte dos negócios antigos...

O tour por estabelecimentos antigos começa no Canto da Fabril, próximo ao Centro. Criada em 1974, por uma família originalmente cearense, a Sorveteria Elefantinho valoriza a produção artesanal e oferece delícias dos mais diferentes sabores, no mesmo ponto. De segunda a segunda (normalmente das 9h às 21h30), o estabelecimento mantém clientes fiéis e que pedem os sorvetes conhecidos e saborosos, como os de tapioca e coco (os mais procurados).

O painel que dispõe os sabores é ainda o original e os sorvetes são feitos diariamente. “Seis da manhã já tem sorvete saindo aqui”, disse seu Francisco Henrique, dono do negócio. Ele contou que, no início, a sorveteria fazia parte do cotidiano do ludovicense. “Quem costumava ir à praia ou à igreja passava aqui para tomar um sorvete”, disse. Atualmente, a concorrência afastou parte da clientela. Mesmo assim, há aquelas pessoas que dificilmente trocam o sorvete da “maquininha” ou fast-food pelo tradicional e caseiro sorvete da Elefantinho.

Namoros
Seu Francisco, dono da Elefantinho, contou que vários casais já estiveram em seu estabelecimento firmando a relação a partir de um sorvete do negócio. “Teve gente que, quando se casou, veio pedir encomenda de sorvete aqui, talvez para a celebração”, disse.

Além de oferecer a casquinha e/ou no copo plástico, a Elefantinho também oferece saída de sorvetes por encomenda. “Muitos clientes pedem aqui, porque sabem do sabor tradicional e único do verdadeiro sorvete”, disse Maria Eliane de Araújo, funcionária da Elefantinho desde 1979.

No sol e na chuva
Os clientes da Elefantinho são fiéis e, mesmo fora da região central, ainda mantêm o costume de degustar um bom sorvete no local. É o caso do administrador de empresas, Evandro Luíz. Ele se criou no Centro, mora atualmente em outro bairro, mas preserva o hábito do sorvete da Elefantinho.

O sabor preferido dele é tapioca. “Mesmo depois de velho, eu atualmente tenho 36 anos, continuo preferindo somente o sorvete da Elefantinho. Quando eu era criança e saía da escola, sempre vinha aqui”, disse. Ele afirmou ainda que o sorvete é recomendado no sol e na chuva. “Pode estar fazendo aquele sol ou mesmo na chuva, o sorvete da Elefantinho sempre é recomendado”, afirmou.

Clientela internacional
O psicólogo Paulo Oliveira, natural de São Luís e que reside nos Estados Unidos, há mais de 20 anos, está de férias na Ilha e nunca havia tomado sorvete na Elefantinho. “Pela primeira vez estou aqui e decidi pedir duas bolas de tapioca. É uma delícia”, disse. Comparado com os sorvetes do país onde reside, o psicólogo contou que a diferença a favor da delícia ludovicense é enorme. “Nem se compara. O sabor do sorvete nos Estados Unidos é artificial, cheio de conservantes. Aqui é um sorvete absolutamente natural e legítimo da Ilha”, disse.

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Vai uma bolachinha da Santa Maria aí?
Aberta há exatos 100 anos pela família paraense Belfort, a Padaria Santa Maria – situada na Rua dos Afogados, no Centro - é o exemplo de que o negócio, caso ofereça qualidade no produto e, principalmente, simplicidade no atendimento, pode resistir à concorrência dos grandes empreendimentos do setor. Após ser aberta, a padaria foi vendida para um homem chamado Domingos Martins e administrada, desde 1957, por José Ramos Carvalho (o “seu Ramos”).

Seu Ramos criou filhos e netos, a partir das vendas da Santa Maria (que recebeu este nome devido ao nome de uma das precursoras do empreendimento oriunda da família Belfort), vindo a falecer aos 75 anos, em 2014.

Antes disso, uma das filhas de seu Ramos, Rosana Carvalho, tomou conta do negócio e, até hoje, atende clientes de todas as partes da cidade e até de outros estados. “Graças a Deus nós temos vários clientes e até pessoas de outros estados que, por intermédio de pessoas que moram em São Luís, conhecem nossos produtos e levam, em especial, a nossa bolachinha para seus endereços de origem”, disse.

Falando em bolachinha, ela é, sem dúvida, a “vedete” da padaria - que oferece ainda o tradicional pão francês, além dos pães caseiros e bolos em geral. A bolachinha tem uma história, no mínimo, curiosa. De 1930, quando começou a ser feita com donos anteriores a seu Ramos até 2006, a delícia era feita predominantemente com banha de porco.

Por ação da Vigilância Municipal, a padaria precisou literalmente refazer a receita. “Tivemos que substituir a banha de porco por margarina”, disse Rosana Carvalho. Mesmo assim, o produto não perdeu a clientela e, em alguns dias, chegam a ser comercializados até 20 quilos da bolachinha. “Outros já imitaram, mas a bolachinha famosa e tradicional é daqui da Santa Maria”, afirmou Rosana.

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Clientes de várias partes
Desde os estudantes do antigo cursinho preparatório José Maria do Amaral até moradores das redondezas do Centro, todos já frequentaram ou frequentam a padaria Santa Maria - que conserva a fachada original do prédio com apenas alguns reparos. Funcionando atualmente de segunda-feira a sábado, das 6 às 19h (somente não fecha mais tarde devido aos inúmeros assaltos já sofridos), a Santa Maria conserva uma coleção vasta e fiel de clientes. “Eu moro na Cohama e saio de lá apenas para comprar meu pão e minhas bolachinhas aqui”, disse a aposentada Graciete Martins.

A aposentada levou simplesmente um quilo e meio de bolachinha. “Um quilo é para mim e outras pessoas da família e o meio quilo é somente para meu netinho, de apenas três anos. Ele adora a bolachinha da Santa Maria”, disse. Outro cliente fiel é o bancário Rosalvino Pereira. Ele se criou na rua dos Afogados e se lembra de ir comprar pão, quando era mais novo, na Santa Maria. “Isso aqui é uma verdadeira relíquia da cidade. Aqui tem produtos de qualidade e que somente são encontrados aqui. Essa bolachinha com um café é simplesmente deliciosa”, afirmou.

O locutor Carlos André Cutrim também é fã da Santa Maria. “Eu trabalho como locutor na Rua Grande e sempre venho aqui para fazer uma merenda ou tomar café da manhã”, disse.

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