Negócios tradicionais

Come em pé do “Meu Jovem” e A Moderna: mais que tradicionais

Famoso pela forma peculiar que os clientes degustam os pratos oferecidos, o box de seu José Costa Melo, na Magalhães de Almeida, reúne clientes

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

[e-s001]A cidade de São Luís, conhecida por seu acervo histórico e pelas manifestações culturais típicas da cidade, também reserva peculiaridades do cotidiano que marcam determinadas ruas e avenidas. Em meio às franquias do shopping e grandes restaurantes e bares, o público mais antigo ainda se mantém fiel à verdadeira arte de se comer em pé, às margens da rua.
Na Avenida Magalhães de Almeida, em São Luís, há o original Come em pé (sim, ele ainda existe!) de seu José Costa Melo, o “Meu Jovem”, como é conhecido. Costureiras e alfaiates ainda compram suas linhas e tecidos no tradicionalíssimo armarinho A Moderna, fundado e mantido por iniciativa de uma família de origem libanesa. Sem falar no famoso caldo do
seu João, na Rua do Sol (quem nunca tomou um caldinho por lá?).

Quem deseja fazer uma refeição rápida e caseira, no Centro, deve parar obrigatoriamente no Come em pé mantido por pai e filho. Quem atende a O Estado em uma tarde de fechamento de expediente é José Raimundo, filho de seu José Costa Melo. Ele conta que o negócio surgiu exatamente no dia 20 de abril de 1964, pelo próprio pai, atualmente com 74 anos. “Funcionava em um box no começo da Rua Afonso Pena e depois a gente se mudou para cá”, disse José Raimundo.

O cardápio reserva desde o arroz, feijão, macarrão e carne (o prato feito ou PF) até comidas que representam o terror das nutricionistas (como mocotó, sarrabulho e fígado). José Raimundo conta que toda a comida é feita, sob a supervisão dele, por uma cozinheira, que se ausenta às segundas-feiras. “Ela não vem nas segundas e eu e meu pai tocamos aqui o negócio sozinhos”, disse José Raimundo, que cozinha também, quando não há cozinheira. “É um negócio que simplesmente sustenta nossas famílias há vários anos”, disse.

O que chama a atenção, além do cardápio, é a forma que os clientes permanecem para comer os pratos. “A gente serve aqui no balcão mesmo e o povo come em pé (daí o nome). São pessoas que estão no intervalo de seus serviços ou que aproveitam uma folga para fazer aquela merenda”, frisou o filho de “Meu Jovem”, que disse que, desde o começo do negócio, o povo sempre comeu em pé. “Quem passa aqui acha diferente, mas pergunta se não tem banco, às vezes”, disse, em meio a risos.

Comer e “tomar um banho”
Uma das histórias curiosas do “come em pé” é justamente o fato de que alguns clientes do local, após as refeições, são chamados pelas mulheres dos prostíbulos próximos ao estabelecimento, para o que elas chamam de banho. “Tem cliente que, em plena luz do dia, está aqui comendo nossa comida e é chamado para ir ali tomar um banho”, disse José Raimundo.

[e-s001]“A antiga casa de zíper e atual casa de feltro”
Instalado na Rua Grande, o armarinho A Moderna tem origem libanesa e é administrado pela terceira geração da família Rahbani. Assim como no começo do negócio, o armarinho oferece desde linhas, passando por diversos tecidos de diferentes tons e texturas. Com uma fachada que também remete ao início do empreendimento, A Moderna mantém uma tradição de compra de materiais para a produção de itens de vestuário. E é famosa por produzir seus próprios zíperes, algo raro no segmento na cidade.

O começo do negócio foi no início do século XX, mais precisamente no ano de 1920, em um ponto ainda na Rua Portugal, quando os avós de Samira Rahbani (atual administradora) se conheceram em São Luís, após saírem do Líbano e fundarem o negócio. “Aos 5 anos e após sair diariamente da Escola Modelo, no Centro, eu ajudava meus avós no negócio”, disse Samira.

Em seguida, o empreendimento foi repassado para Mikhael Rahbani e Mabel Rahbani, pai e mãe de Samira Rahbani. A Moderna se mudou, desde então, para a Rua Grande (atual endereço). “Meus pais consolidaram o negócio e o transformaram em uma referência”, disse Samira. Além de servir como espaço para o negócio, o imóvel na Rua Grande também era a moradia de seus pais.

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Estabelecimentos que resistem ao tempo e se mantêm abertos

Os pais de Samira Rahbani cuidaram do negócio até 2007, quando ela passou a gerir o empreendimento diretamente. A partir daí, a atual dona passou a cuidar da sucessão do negócio para a quarta geração. “Estamos já cuidando dessa sucessão, que já ocorre de forma natural, até para o bem da marca e valorizando o esforço das primeiras gerações da família que mantiveram o negócio”, disse.

Vários foram os convites feitos para A Moderna abrir uma filial em um dos shoppings da cidade. No entanto, a própria dona do negócio entende que, devido aos custos, é impossível que isso ocorra em curto e até médio prazo. “Sinceramente, não vejo essa possibilidade, até pelos custos”, disse Samira Rahbani.

Sucesso de público
Costureiras e até mesmo alfaiates (sim, eles ainda existem!) procuram diariamente o armarinho para adquirir materiais. “Temos um público fiel e que sabe que pode adquirir produtos de qualidade, a partir da nossa marca de credibilidade”, disse Nice Martins, gerente do armarinho A Moderna.

A costureira Isabel Souza, moradora do Jardim Turu, faz questão de pegar um ônibus e comparecer semanalmente no Centro, por uma razão: comprar o feltro (papel feito de lã) de A Moderna. “Não há produto com mais qualidade do que aqui. Por isso não fecha”, disse a costureira, cliente de A Moderna há mais de 20 anos.

[e-s001]Seu João dos Caldos

E como não lembrar dos famosos caldos do Seu João na Rua do Sol, no Centro? O negócio foi aberto em um pequeno imóvel em 1975 e, até hoje, arrebata consumidores dos mais diferentes pontos da cidade. Chama a atenção, além do atendimento, o sabor caseiro dos caldos (de frango, de carne, legumes e de ovos). O filho de seu João, Paulo Roberto, gerencia atualmente o negócio. “Sempre temos clientes no nosso negócio. Para quem pensa que o caldo do seu João acabou, está enganado”, disse.

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