Sonhos perdidos

52% dos desempregados no país desistiram de algum projeto

Pesquisa do SPC Brasil e CNDL, revela que desemprego provocou queda no padrão de vida para seis em cada 10 brasileiros sem trabalho. Bicos e trabalho temporário são alternativa para 33% conseguirem pagar contas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Segundo Marcela Kawauti, criação de vagas temporárias é maior que a oferta com carteira assinada
Segundo Marcela Kawauti, criação de vagas temporárias é maior que a oferta com carteira assinada (desemprego)

Uma pesquisa realizada pe­lo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com brasileiros que estão sem trabalho revela que a situação de desemprego forçou muitos desses consumidores a interromper planos e modificar seus hábitos de consumo. De acordo com o levantamento, mais da metade (52%) dos desempregados no país teve de abandonar algum projeto que possuía ou desistir da aquisição de um sonho de consumo em virtude da demissão.
Os casos mais comuns foram deixar de fazer reserva financeira (28%), voltar atrás no plano de reformar a casa (25%), desistir de comprar ou trocar o carro (17%) e deixar de comprar móveis para a residência (17%). Há ainda pessoas que interromperam planos de abrir o próprio negócio (16%), realizar uma faculdade ou pós-graduação (14%) e fazer uma grande viagem (13%). Apenas 9% dos entrevistados não tiveram de abandonar um projeto em decorrência do desemprego, enquanto outros 38% nem sequer tinham algum sonho.
“O orçamento mais apertado como consequência do desemprego impede o consumidor de seguir com seus projetos, porque isso impacta na confiança e na certeza do dia de amanhã. Se ele enfrenta dificuldades para se recolocar no mercado, terá de abrir mão não apenas de alguns confortos, mas até mesmo interromper metas importantes. É uma realidade dura que muitos brasileiros estão enfrentando atualmente”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Sem poder contar com a renda total que tinham, muito desempregados chegaram à conclusão de que era preciso adaptar-se uma nova realidade. Apenas 31% têm conseguido manter o mesmo padrão de vida da época em que estavam trabalhando, enquanto a maioria (59%) mudou de padrão.
Segundo dados da pesquisa, a maioria deles teve de frear gastos. Os cortes mais expressivos foram na aquisição de roupas, calçados e acessórios (65%), saídas para bares e baladas (56%), deliveries e comida fora de casa (56%) e alimentos supérfluos, como carnes nobres, bebidas e iogurtes (52%). Atividades de lazer (52%) e gastos com salão de beleza (45%) completam a lista das principais contenções.
Em sentido oposto, para alguns tipos de compromissos, não houve corte no consumo. Como foi o caso das contas de água e luz (65%), produtos de higiene, limpeza e alimentação básica (64%), planos de internet (49%), telefonia (45%) e TV por assinatura (40%). Há também 32% de desempregados que mantiveram plano de saúde, mesmo com a falta de renda.

Desempregados
De acordo com a pesquisa, 46% dos desempregados passaram a pedir dinheiro emprestado a amigos ou familiares para cobrir as despesas quan­do o orçamento familiar não é suficiente e 30% tiveram de recorrer ao cartão de crédito para conseguir comprar tudo o que precisam.
A pesquisa também mostra que a situação de desemprego estimulou, de certa forma, parte dos consumidores a serem mais prudentes em relação às finanças pessoais, ao mesmo tempo em que passaram a se esforçar ainda mais para encontrar melhores oportunidades de compra no dia a dia. Nesse sentido, o levantamento revela que por conta do desemprego, 68% dos entrevistados passaram a fazer mais pesquisas de preços e 63% trocaram marcas com as quais estavam habituadas por outras mais baratas. Outro hábito que ficou mais frequente na realidade dos desempregados é pechinchar na hora das compras (62%).
“Infelizmente, a mudança de hábitos só surge para alguns na hora do aperto. É preciso exercer o controle da vida financeira de forma natural, independentemente do tamanho da renda. Quem se prepara para imprevistos, sofre menos em um momento como esse”, explica o educador financeiro do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli. Um dado preocupante é que apenas 19% dos desempregados entrevistados possuem reservas financeiras, e 66% precisaram fazer uso desse dinheiro após a demissão.

Dificuldades
O levantamento descobriu que em virtude do desemprego, 26% dos entrevistados passaram a enfrentar mais dificuldades para realizar compras a crédito e 42% nem mesmo tentaram comprar parcelado.
Um terço (33%) dos brasileiros que estão sem emprego atualmente fazem bicos e trabalhos temporários, geralmente informais, para sobreviver, enquanto 29% contam com a ajuda financeira de familiares ou amigos e 7% recebem auxílio do Bolsa Família. Apenas 2% estão se utilizando de alguma reserva ou investimento que possuem.
Os bicos realizados para manter-se são diversos, incluindo os serviços gerais – manutenções, pedreiro, pintor, eletricista etc (21%), produção de comida para vender – como marmita, doces e salgados (11%), serviços de diaristas e lavagem de roupa (11%) e serviços de beleza, como manicure e cabelereiro (8%).
“Nos últimos meses, a criação de trabalhos informais é maior que a de vagas com carteira assinada. Esse aumento visível na informalidade mostra que a crise e o desemprego obrigaram mais pessoas a buscarem alternativas para constituir renda”, destaca a economista chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Entre os desempregados que fazem bicos para se manter, a média de dedicação é de três dias por semana. E essa falta de assiduidade pode não ser apenas uma questão de escolha, e sim de escassez de oportunidades, pois apenas 12% dos que fazem bicos consideram que está fácil conseguir esses trabalhos. “O jeito muitas vezes é improvisar, pedir ajuda aos amigos ou familiares, arranjar ocupações temporárias e partir para a informalidade. Ou seja, fazer de tudo para reinventar-se e conseguir pagar as contas”, afirma a economista Marcela Kawauti.
O estudou também investigou as condições financeiras dos desempregados e descobriu que quatro (41%) em cada 10 desempregados possuem contas em atraso atualmente, sendo que 27% estão com o nome negativado em serviços de proteção ao crédito. Os compromissos mais atrasados são parcelas no cartão de loja (25%), faturas do cartão de crédito (21%), contas de luz (19%), contas de água (15%) e parcelas do carnê ou crediário (11%). De forma geral, o tempo médio de atraso das dívidas é de quase sete meses e ovalor da dívida chega a R$ 1.967,00, em média. Além das dívidas atrasadas, o estudo descobriu que 17% dos entrevistados possuem prestações a pagar nos próximos meses, fato que pode prejudicar a manutenção do orçamento em dia.

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