Reeleito

Rússia reduzirá gasto militar e não quer ''corrida armamentista''

Putin, reeleito no último domingo, 18, garantiu que Rússia não tem a intenção de se lançar em uma "corrida armamentista"; ao longo do último século, apenas um político russo permaneceu no poder mais tempo que Putin: Stálin

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Putin garante que menor gasto militar não provocará redução da capacidade defensiva
Putin garante que menor gasto militar não provocará redução da capacidade defensiva (Putin garante que menor gasto militar não provocará redução da capacidade defensiva)

MOSCOU - O presidente russo, Vladimir Putin, garantiu ontem que seu país reduzirá o gasto militar em 2018 e 2019 e que não tem a intenção de se lançar em uma "corrida armamentista".

"Previmos uma redução do gasto militar para este ano e para o ano que vem", declarou Putin, acrescentando que "isso não provocará uma redução da capacidade defensiva" da Rússia.

"Não permitiremos corrida armamentista alguma", reforçou. "Construiremos nossas relações com todos os países do mundo de maneira que sejam construtivas e para que nossos sócios estejam dispostos a um diálogo", afirmou o presidente russo.

"É claro, nem tudo depende de nós. É como no amor. É preciso que as duas partes vejam um interesse, ou não há amor", acrescentou.

No domingo, Putin obteve uma vitória sem precedentes desde sua chegada ao poder há 18 anos: foi reeleito presidente com 76,7% dos votos, de acordo com resultados quase definitivos divulgados ontem.

Poder

Ao longo do último século, apenas um político russo permaneceu no poder mais tempo que Vladimir Putin: Josef Stálin, que ocupou por 31 anos, entre 1922 e 1953, o cargo de secretário-geral do Partido Comunista na extinta União Soviética.

Com a vitória nas eleições de domingo, Putin será presidente da Rússia, pela quarta vez, até 2024, quando somará 25 anos no poder - se contados os quase cinco anos em que foi primeiro-ministro. O segundo colocado, Pável Grudinin, do Partido Comunista, só alcançou 12% dos votos.

O resultado não causou surpresa, já que Putin liderava as pesquisas com margem ampla, segundo analistas do serviço russo da BBC. Vale destacar que o principal líder da oposição, Alexei Navalny, estava impossibilitado de concorrer por ter sido condenado em um caso de desvio de recursos públicos.

Navalny assegura que a condenação teve motivações políticas. Segundo ele, foi gerada por seu protagonismo nas manifestações contra Putin nas eleições de 2012.

No Ocidente, o presidente russo é visto por muitos como um autocrata que rejeita valores democráticos e direitos humanos. Mas na Rússia ele tem altos índices de popularidade, e sua política externa é motivo de orgulho para muitos russos.

Mas o que este ex-espião da KGB tem que atrai tanto a afeição da população russa?

A queda da União Soviética no final de 1991 provocou "confusão e ressentimento" entre os russos, conforme explica Veera Laine, pesquisadora do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, no artigo "Nacionalismo de Estado na Rússia de Hoje".

Aquela que havia sido uma das maiores potências mundiais de repente se desmembrava, perdia território e renunciava a postulados políticos e ideológicos para adotar práticas que, durante décadas, havia desprezado.

Além disso, ao abandonar o controle estatal sobre os preços, a sociedade sofreu, na época, com a hiperinflação, agravada pela alta dívida externa.

No entanto, durante os últimos anos o nacionalismo ressurgiu na Rússia, e muitos especialistas o atribuem a Putin e a seu discurso, que evoca a grandeza do passado.

Um em cada três russos acreditam que seu país não integra a cultura europeia nem asiática, sendo uma "civilização única", conforme levantamento feito em 2014 pela agência russa Romir.

História

Segundo a pesquisadora Veera Laine, o governo russo "utiliza a história, elegendo as partes do passado que quer ressaltar ou menosprezar". Algo que ajuda a explicar porque na Rússia de Putin o czar Nicolau 2, convertido em santo pela Igreja Ortodoxa Russa, é amplamente admirado, assim como o principal suspeito de ordenar seu assassinato, Vladimir Lênin, o principal líder da Revolução Comunista de 1917.

O êxito de Putin recai no fato de ter conseguido construir uma identidade nacional em uma sociedade tão étnica e culturalmente diversa como a Rússia. Para unir grupos tão diferentes, como os tártaros e os russos da capital, ele não focou em ressaltar o que esses dois povos têm em comum, mas sim o que os separam de dissidentes.

O argumento de Putin, segundo Laine, é o de que opositores não compartilham "valores tradicionais russos" de patriotismo e moral. Antes do conflito com a Ucrânia - que resultou na anexação da Crimeia pela Rússia -, a popularidade de Putin vivia seu "pior momento", girando em torno de 60%. Um ano depois, disparou para 89%, segundo o instituto de pesquisa de opinião russo Centro Levada.

Os atritos atuais com países europeus e a intervenção no conflito da Síria (a Rússia é a principal aliada do presidente Bashar al-Assad) parecem ter devolvido ao país, aos olhos da população local, o lugar de destaque em temas geopolíticos que costumava ter na época da União Soviética.

Orgulho do povo

Todos esses fatores têm contribuído para restaurar o orgulho de um povo que, no começo do milênio, sofria uma grave crise de identidade. "Antes de Putin, tentamos gostar do Ocidente e deixar de ser a Rússia para ser como eles. Mas isso não funcionou. Nós não nos reconhecemos como eles e nos sentimos humilhados", diz Valentina Levina, uma russa de 78 anos que vive em Moscou.

"Nos demos conta, finalmente, de que não somos um país europeu, mas sim uma civilização própria, muito diferente da Europa. E Putin colocou isso de forma muito clara. Ele explicou isso ao povo", afirma.

Para Levina, não "adianta" que o Ocidente tente fazer com que a Rússia "se pareça com eles e com tudo o que dizem de democracia e valores".

"Somos um país distinto, com valores e princípios diferentes", defende.

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