Lava Jato

Documentos mostram repasses de mais de R$ 110 mi a políticos

Repasses foram feitos via “caixa3” pela empreiteira Odebrecht; segundo a Polícia Federal, o caixa 3 era uma modalidade de doações que ocorria quando políticos recebiam dinheiro de grupo empresarial a pedido da empreiteira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Documentos foram entregues a PF por Roberto Lopes e Walter Farias
Documentos foram entregues a PF por Roberto Lopes e Walter Farias (polícia federal)

Brasília - Documentos entregues à Polícia Federal pelos empresários Roberto Lopes e Walter Faria indicam o repasse de cerca R$ 110 milhões a políticos via "caixa 3" da construtora Odebrecht.

Roberto Lopes é dono das empresas Praiamar e da Leyroz de Caixas, e Walter Faria, da Cervejaria Petrópolis. As planilhas com os dados foram entregues em setembro.
Enquanto o "caixa 2" consiste em o candidato receber uma doação e não declará-la à Justiça Eleitoral, o "caixa 3", pelo entendimento da PF, consistiu em candidatos pedirem doações de campanha à Odebrecht, e executivos da empresa procurarem outro grupo empresarial para fazer a doação.

À Polícia Federal, Roberto Lopes (da Praiamar e da Leyroz) afirmou que as companhias dele doaram para políticos nas eleições de 2010 e de 2012 a pedido de Walter Faria (Cervejaria Petrópolis), que, por sua vez, declarou à PF que as doações haviam sido pedidas pela Odebrecht.

De acordo com os documentos entregues pelos empresários, 255 doações foram realizadas somente nas campanhas de 2010 e de 2012, somando mais de R$ 68 milhões. A maioria das contribuições foi destinada a diretórios de partidos e a comitês de campanha e algumas foram encaminhadas diretamente aos candidatos.

Em depoimento, Faria afirmou que o esquema de repasse das doações da Cervejaria Petrópolis era combinado com a Odebrecht. Ele também disse, por exemplo, que cerca de R$ 40 milhões doados pela empresa dele em 2014 foram a pedido de Benedicto Junior, executivo da construtora.

De acordo com os advogados do empresário, "foi mantido pelo peticionante [Faria] controle dos valores indicados pelo Sr. Benedicto Junior, que totalizaram, nos anos de 2010 e 2012, aproximadamente R$ 60 milhões (R$ 30 milhões em 2010 e R$ 30 milhões em 2012), razão pela qual apenas o Sr. Roberto Lopes pode declarar e especificar quais foram as doações sugeridas pelo peticionante."

As primeiras referências à triangulação de doações eleitorais surgiram em 2016, quando uma planilha com nomes de políticos e a referência à Itaipava, pertencente ao grupo Petrópolis, foi encontrada na casa de Benedicto Junior.

No ano passado, em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral, Benedicto Júnior afirmou: "Pegava-se a pessoa que recebeu o pedido e pedia-se a ela que procurasse o pedinte, o suplicante e informasse a ele: 'Olha, parte de sua doação vai vir oficialmente da construtora e a outra parte virá oficialmente de um terceiro que nós vamos nominar, vamos dar o CNPJ, até porque nós vamos precisar do seu recibo para entregar para quem doou em nosso nome”

Falsidade eleitoral

Recentemente, a Polícia Federal entendeu que o deputado Vander Loubet (PT-MT), Roberto Lopes, Walter Faria e delatores da Odebrecht cometeram crime de falsidade ideológica eleitoral em uma situação semelhante à que as planilhas apresentam.

Para o delegado Heliel Jefferson Martins da Costa, responsável pelo caso, a Praiamar e a Leyroz e"fetivavam a doação eleitoral formalmente regular, porém, os ônus financeiros suportados por estas empresas eram compensados pelo Grupo Petrópolis através de diversos expedientes e, ato contínuo, o Grupo Petrópolis abatia os valores compensados em favor da Praiamar e Leyroz de dívidas pré-existentes junto à Odebrecht."

O delegado entendeu ainda estar "suficientemente esclarecida" a prática de "dissimulação da origem de recursos destinados ao pagamento clandestino de vantagens para fins eleitorais".l

Deputado diz que acusações são inverídicas

Sobre este assunto, Vander Loubet já afirmou que as acusações contra ele não procedem e são "inverídicas". "Os recursos recebidos pela minha campanha foram contabilizados como consta na prestação de contas, aprovada pela Justiça Eleitoral. Repito: todas as doações foram oficializadas, de maneira que não recebi recursos não contabilizados", afirmou.

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