Mania de colecionador

De herança a gosto pessoal: como pensa o colecionador

Quem coleciona álbuns não troca, não vende, nem se desfaz; a importância é tanta que há quem os tenha como “parte da família”; fazer álbum, além de um hobby, pode moldar a personalidade

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32

[e-s001]Todo homem sonha ter algo valioso. No caso de quem é colecionador, em especial de álbum, o que interessa é encontrar o item mais raro, que pouca gente tenha. Seja de desenho animado, da Copa do Mundo, de personagens históricos, a pessoa que possui um álbum não o troca por nada. E tem muita história para contar sobre como conseguiu cada um deles.

O Estado descobriu personagens que, sem constrangimento, apontam que o álbum é como se fosse um ente da família. Cada figurinha coletada, comprada, todas têm história. E o que é mais importante: os álbuns não são vendidos, segundo eles, nem “por todo o dinheiro do mundo”.

O funcionário público federal Edmilson Utta de Castro herdou o gosto por álbuns dos avôs e de sua mãe falecida. Ele possui exemplares raríssimos, lançados nas décadas de 1940 e 1950. E todos eles completos. O preferido do colecionador (que tem 53 álbuns completos) é o que faz menção ao filme “Os Dez Mandamentos”, um verdadeiro clássico, de 1956. Valem destaque as diferentes fotos de Charlton Heston, que interpreta Moisés. “Este, para mim, não tem valor”, disse.

[e-s001]Além deste, há outros álbuns de valor inestimável, como “Os Livros de Ouro da Juventude” e “Ben-Hur” (em referência ao filme vencedor de 11 Oscar). E de desenhos que são verdadeiras obras clássicas, como “A Dama e o Vagabundo”, da Disney e “Peter Pan”. Também não foi esquecida a obra de Júlio Verne, intitulada “20 Mil Léguas Submarinas”.

“São obras que me foram repassadas pelos meus familiares. Não tive tanta chance, por exemplo, de ter contato com meus avós, mas sei que eles gostariam muito de me ver com estes álbuns”, revelou. Ele contou ainda o que faz para mantê-los conservados. “Passo um pano e os mantenho em um estante em local ventilado”, afirmou.

LEIA TAMBÉM:

Um hobby de gerações: como surgiu o álbum de figurinhas

Outros colecionadores
A personalidade do jornalista e consultor do Sebrae Ernesto Batista, foi moldada (como ele mesmo conta) a partir de um álbum. Lançado em 1981, com 34 páginas, o “Homem em Ação”, da Editora Revell - que, conta em capítulos os diferentes feitos do homem em invenções e etapas importantes da história como as guerras mundiais - foi fundamental em sua formação. “Eu sempre gostei, por exemplo, de meios de transporte e também de saber acerca da história das guerras.

Então, este álbum foi uma verdadeira marca da minha infância e adolescência”, disse, passando página por página de um exemplar adquirido na internet. “Eu tinha esse álbum, mas não tiveram a preocupação de guardá-lo. Então, precisei recorrer a uma réplica”, disse.

[e-s001]O que mais chama a atenção na história do jornalista é que o exemplar da internet veio com apenas uma figurinha de cabeça para baixo. “E no meu álbum original, tinha também colocado a mesma figurinha de cabeça para baixo. Ou seja, os dois álbuns são exatamente iguais, até mesmo no erro”, frisou.

Já o também jornalista Nicolau Leitão tem ainda guardada uma raridade: um álbum da Copa do Mundo de 1994, que marcou o tetracampeonato da Seleção Brasileira. “Eu sempre fui absolutamente apaixonado por futebol, talvez pela influência direta dos meus avôs, do meu pai e dos meus irmãos. Então, acostumei-me a consumir muito material, especialmente ligado ao futebol”, disse.

Ele conta que, pelo fato de o álbum ter sido lançado antes das convocações, alguns atletas que constavam na Seleção não foram campeões, de fato. “Como a venda começou antes das convocações, foi preciso chutar alguns nomes. Como consequência, ficaram alguns falsos tetracampeões. Talvez para desespero da minha esposa, alguns mimos eu vou carregar para o resto da vida”, afirmou.

[e-s001]O aposentado Milton Pereira Rodrigues também é um apreciador de álbum. “Sempre colecionei”, contou. Ele mostrou com orgulho a O Estado o último exemplar adquirido: um álbum de capa dura da Copa de 2014. “Uma Copa como essa no Brasil, é sempre bom guardar uma lembrança como essa”, disse.

O Estado lança álbum da Copa do Mundo

Para contribuir e estimular a prática de quem gosta de álbum, O Estado lança, a partir deste sábado, 17, o álbum especial da Copa do Mundo FIFA Rússia 2018. Além do exemplar, o comprador do jornal e assinante também receberão seis cromos grátis.

Além de informações acerca do Mundial, esta edição também terá uma página dedicada às lendas da Copa e cromos com todos os pôsteres dos estádios sedes dos jogos. Tudo isso em 80 páginas com 682 cromos, sendo 50 deles especiais, metalizados e com efeito holográfico. Os álbuns estarão disponíveis para venda em bancas a partir do dia 20 de março em todo o Brasil.

O presidente da Panini Brasil, José Eduardo Martins, explicou que a equipe criativa, os especialistas e os designers gráficos enriquecem as coleções da Copa do Mundo da FIFA impulsionados por inspiração, motivação, conhecimento, experiência e uma dose de criatividade.

“É inspirador saber que esse entusiasmo emociona fãs de futebol e colecionadores do Brasil inteiro. Sabemos que as pessoas aguardam ansiosamente o lançamento do álbum oficial, que já virou tradição em todos os anos de Copa do Mundo. O maior evento de futebol do planeta começa quando lançamos o álbum”, destacou.


SAIBA MAIS

ÁLBUNS ANTIGOS
Brasil Campeão
Carros de Corrida
Galeria Walt Disney
Guerra nas Estrelas
Superman
Chapinhas de Ouro
Turma do Paulistinha
Sítio do Pica-Pau Amarelo
Bem me Quer

CURIOSIDADES
Reunião dos trocadores de figurinhas
Em São Luís, nas décadas de 1960 e 1970, era comum ver no Centro jovens e até adultos trocando figurinhas dos mais variados tipos de exemplares da época. Os mais comuns eram os relacionados ao futebol. No entanto, havia álbuns de carros e desenhos animados. Quem se deslocava até um ponto de encontro como esse já sabia que precisava levar as chamadas “figurinhas difíceis”. Era essa a expressão dita à época. Quem viveu esse período se lembra de vários detalhes desta cena comum do cotidiano. “As pessoas vinham de longe para trocar figurinhas e, quem sabe, conseguir a que estava faltando para a coleção ou para o álbum”, disse o aposentado Milton Pereira Rodrigues. As “figurinhas difíceis” eram trocadas, normalmente, por três figuras consideras mais “comuns”. O aposentado, que era um dos adeptos do costume, lamenta que nos tempos de hoje o hábito de trocar figurinhas ficou para trás. “Era um jeito de a gente estar reunido com os amigos e, de alguma forma, estar fazendo algo divertido. Até porque nessa época não tinha internet, não tinha celular. Então, as diversões eram outras”, afirmou. As redes sociais e, até mesmo, a violência urbana podem ser apontadas, neste caso, como fatores que afastaram as chamadas tribos de figurinhas do cenário urbano das grandes cidades.

De permanente a sazonal
Costumeiramente, e em especial nas décadas de 1970 e 1980, era fácil ver crianças se aglomerando em volta das bancas de revista. A meta era ver se o álbum tão desejado do desenho animado, do campeonato de futebol, ou de outro tema, estava disponível. E o dono da banca de revista era um personagem valorizado e que aproveitava o período para faturar. Atualmente, os lucros de um dono de banca de revista relacionado à álbum de figurinhas são mais sazonais e dependem de grandes eventos, como a Copa do Mundo.
Em alguns casos e, dependendo do grau de confiança entre o vendedor e os seus clientes, o faturamento da banca aumenta em até 20% com a venda de álbuns e figurinhas. “A gente depende desses eventos para ganhar mais. Se não há estes eventos, fica inviável lucrar com os álbuns”, disse o dono de banca de revista José Benedito.
Ele disse a O Estado que se lembra dos tempos em que as pessoas se reuniam no Centro para trocar figurinhas. “Infelizmente, foi um hábito que se perdeu e que, pelo jeito, não volta mais”, disse.
Dono de banca há 43 anos, somente na capital, Reginaldo Cutrim (que tem o seu estabelecimento fixado no Renascença) reconhece que a procura por álbuns de figurinhas caiu consideravelmente. Mesmo assim, informou que, em períodos de Copa a procura melhora. “Eu estou otimista e devo vender bastante na Copa”.

“Guarda as minhas figurinhas!”
Uma das histórias que marcam a importância do álbum era a frase mais ouvida pelo dono de banca, Reginaldo Cutrim, quando o seu estabelecimento estava fixado no bairro Monte Castelo, no início da década de 1980. “O povo passava, às vezes, de carro ou mesmo a pé e gritava para eu guardar as figurinhas. Nossa, eu ouvi isso demais!”, contou. Ele disse que tem saudade desse tempo.

O bom e velho “bafo”
Conhecido por ser o hábito natural de “bater figurinhas com as mãos” e também conhecido como bafinha e tabufa, em algumas cidades, o bom e velho bafo – que já foi febre em vários recreios de escolas públicas e privadas da cidade, era um hábito cultuado a partir da mania de colecionar álbuns de figurinhas. Um jogo criado pela lógica daqueles que tentavam pegar aquela figurinha considerada difícil a partir de um sistema que, até onde se sabe, era justo.
Não se sabe exatamente como surgiu o jogo, porém a disputa se aperfeiçoou, ao longo dos anos. E há, para quem não sabe, as diferentes batidas no jogo. Como o bom bafão (batida realizada com as duas mãos unidas), ou então a mãozinha (batida com uma das mãos apenas). Há ainda o chamado ventinho (batida conhecida como “Bafo de Dragão”).

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.